Vida
Alexandre Herculano Carvalho e Araújo nasceu a 28 de Março de 1810, em Lisboa filho de pais humildes, seu pai era funcionário público e a mãe pertencia a uma família de mestres artífices de certo prestígio na cidade.
O jovem Alexandre Herculano recebeu alguma educação literária dos padres da Congregação do Oratório. Aos catorze anos, entrou para a Academia Real da Marinha, onde obteve um diploma que lhe permitiu frequentar a Aula de Comércio, ingressou também na aula Diplomática existente na Torre do Tombo.
Dentre as circunstâncias que contribuíram para formação intelectual, pouco sistemática, de Herculano foi talvez desenvolvida por mérito pessoal, principalmente no âmbito das línguas. Devido a dificuldades econômicas da família, impossibilitaram-no de frequentar a Universidade de Coimbra. Cerca de 1823 – 1830 iniciam-se as suas produções literárias com a tradução de Sciller e o poema Semana Santa.
Alexandre Herculano como foi educado num ambiente familiar de fortes convicções religiosas e de independência religiosa, não é de estranhar que as suas primeiras convicções tenham sido absolutistas, porém, o certo é que em 1831, já se encontrava como opositor ao absolutismo miguelista, exilando-se de Portugal para escapar à prisão. A sua situação como emigrado é a de um soldado desconhecido, conheceu a França e a Inglaterra, apesar de em França ter frequentado a biblioteca de Rennes pouco se sabe sobre as suas leituras e contatos culturais.
Volta a Portugal em 1832, integrado na expedição de D. Pedro que desembarcou na praia de Pampelido, próximo de Mindelo, Durante o cerco do Porto, colaborou na organização da Biblioteca Municipal, como seu segundo bibliotecário, sem prejuízo da sua participação corajosa nas lutas civis.
Em 1836 os setembristas derrubam o governo, este por incompatibilidades demite-se do cargo de bibliotecário, vem para Lisboa onde atacou a política setembrista em artigos publicados na imprensa, nomeadamente no panfleto «A Voz do Profeta».
Dedica-se então ao jornalismo, tomando a direção de uma das revistas mais influentes do nosso romantismo: O Panorama onde publica ao longo dos anos seguintes vários artigos, cartas, capítulos de posteriores obras tais como: Lendas e Narrativas e o Bobo o Eurico e o Pároco da Aldeia; as Cartas sobre a História de Portugal; os Apontamentos para a História dos Bens da Coroa e Forais. Em 1839 é nomeado pelo rei-consorte, D. Fernando diretor das bibliotecas Reais das Necessidades e da Ajuda.
Politicamente, Herculano chega a ser deputado na legislatura de 1840 onde alinhava pelo partido cartista ou conservador, embora na sua ala esquerda, abandonando o cargo por desinteresse da vida parlamentar. Em 1852 é admitido na Academia Real das Ciências como sócio efetivo.
Em 1853–1854 percorre as instituições culturais do país, inventariando os documentos anteriores a 1280. Recusa condecorações, uma pasta de ministro e a cadeira de História do Curso Superior de Letras. Dirige a publicação dos Portugaliae Monumenta Historica entre 1856–1873. Tem um papel de relevo na redação do primeiro Código Civil Português entre 1860–1865.
Casou tardiamente, em 1866 com a mulher da sua juventude Mariana Hermínia Meira. e, por questões políticas retira-se para a quinta de Vale de Lobos onde abandona a literatura (apenas escreve Opúsculos ) e dedica-se à agricultura até á morte. Em 1871 participa na polêmica travada à volta das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense.
Em 1877 na sua quinta, no dia 13 de Setembro, morre Herculano, o «homem de maior prestígio intelectual e moral da sua geração».
Enquadramento histórico
Alexandre Herculano poeta, romancista, historiador, um dos introdutores e mentores do Romantismo português, foi indubitavelmente um homem político, que pela sua integridade moral e teimosia nas suas ideias sociais e políticas foi exemplo cívico adverso a Portugal decadente da sua época.
Alexandre Herculano além de político (deputado pelo círculo do Porto) ou polemista, amigo e companheiro de Almeida Garrett, é um dos grandes nomes do Romantismo Português. Deste modo, é de salientar que no ano em que nasceu Herculano, já o Romantismo europeu era um movimento cultural consolidado O Romantismo português está diretamente ligado ao Liberalismo. Valores como o da liberdade, o da igualdade e o da soberania da nação refletem-se no discurso da produção literária e na reflexão ideológica de Herculano. A implantação do Romantismo em Portugal ocorre no cenário das guerras liberais, alguns anos após as Invasões Francesas. De fato encontramos, em Herculano a intervenção no plano político, legislativo ou doutrinário, bem atestado em diversos textos dos Opúsculos. Assim, inserido na dominada primeira geração romântica, estreitamente ligada à instauração do Liberalismo em Portugal, viveu de forma apaixonada as mudanças histórico-políticas que assinalaram a passagem do Antigo Regime para o sistema político do Liberalismo.
Deste modo, vamos encontrar Alexandre Herculano envolvido, em 1831, no levantamento liberal do Regimento de Infantaria, tendo sido obrigado ao exílio para evitar a prisão. Para compreensão desta sua situação é de notar que a sua vida acompanhou, de certo modo, uma época de transição entre o Absolutismo e o Liberalismo. O regime absoluto, em Portugal, teve vida longa e segura. Os reis tinham uma autoridade forte, já que não apareciam grupos políticos organizados a que tivessem que fazer frente. O sistema absolutista portuguesa entrou em crise no segundo quartel do século XIX pela ação de vários e poderosos golpes, entre os quais se salientam as invasões Francesas, as grandes transformações técnicas, a independência do Brasil. E ao fim de quase vinte anos de luta, a monarquia absoluta era derrotada em 1834.
Assim, a vida de Herculano primou pela integridade, o configuram como exemplo cívico perante as profundas alterações políticas da sua época.
Obras
Relativamente à obra de Alexandre Herculano, como poeta a sua arte está reunida na Harpa do Crente (1838). A temática predominante é, sem dúvida, romântica: religião, patriotismo e natureza. Temas majestosos de acordo com o seu temperamento. Herculano proporciona uma poesia rica de simbologia, servindo o fantástico romântico.
A poesia de Herculano, já revela uma atitude irônica face à situação política e social em que vivia de veia sarcástica. Como romancista, a sua obra Lendas e Narrativas, publicadas na revista Panorama, de teor histórico, espelho do medievismo, encontram-se temas como a transitoriedade da vida e a noção de eternidade.
Como historiador pode-se afirmar que só com Herculano a história ganha a plenitude de ciência A temática predominante sua obra versa: ascensão da burguesia, conflitos sociais, história das instituições, situação financeira e econômica.
Além desta produção escrita, é de salientar que a sua temática acerca da Educação o tornou célebre, pelos seus pereceres para o Conservatório, da sua defesa da «Escola Politécnica», das suas ideias sobre a instrução pública.
É em 1840 que Herculano participa ativamente nos trabalhos da Câmara dos Deputados, nomeadamente na comissão de instrução pública. São deste tempo as intervenções que versam os seus trabalhos sobre a Educação Pública.
Em síntese, pode-se afirmar que Herculano foi, na obra polémica e doutrinal, o mais legítimo representante da teoria jurídica, econômica e social do Liberalismo, embora, por isso, talvez se encontrasse em luta constante com as instituições de Portugal.
Por: José Albano Silva Pereira
Veja também:
- Instrução Pública – Alexandre Herculano
- Análise Poética de Antero de Quental, Almeida Garret e Alexandre Herculano