O guarani foi escrito e publicado na forma de folhetins, em 1857. Cheio de ação e lirismo, divide-se em quatro partes que descrevem uma natureza exuberante, habitada por povos indígenas.
1ª parte: Os aventureiros
Na primeira parte de O guarani há a descrição do ambiente em que dom Antônio de Mariz, fidalgo português que, nos fins do século XVI – fiel ao projeto colonizador da coroa portuguesa, submetida naquele período ao domínio espanhol —, instala uma fazenda às margens do rio Pequequer.
Sua família era composta de quatro pessoas: a mulher, dona Lauriana, o filho, dom Diogo de Mariz, a filha, dona Cecília (18 anos) e dona Isabel, tida como sobrinha, mas que, de fato, era filha natural e ilegítima de dom Antônio.
No ano da graça de 1604, o lugar que acabamos de descrever estava deserto e inculto; a cidade do Rio de Janeiro tinha-se fundado havia menos de meio século, e a civilização não tivera tempo de penetrar o interior. Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e espaçosa, construída sobre uma eminência, e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique. (…)
A casa-forte de dom Antônio de Mariz, às margens do Pequequer, torna-se abrigo de ilustres portugueses, mas acolhe também, inadvertidamente, bandos de mercenários, como o aventureiro Loredano, ex–padre que assassinara um homem desarmado, para se apossar de um mapa de famosas minas de prata.
Ceci e Peri
Nessa primeira parte já se apresenta também o valente índio Peri, dedicado à Cecília, a quem chama de Ceci. Ela fora atacada em vingança pela morte de uma índia aimoré, causada por Diogo durante uma caçada, e Peri – sempre atento – salva sua amada.
Não há dúvida, disse d. Antônio de Mariz, na sua cega dedicação por Cecília quis fazer-lhe a vontade com risco de vida. É para mim uma das coisas mais admiráveis que tenho visto nesta terra, o caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui entrou, salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de abnegação e heroísmo. Crede-me, Álvaro, é um cavalheiro português no corpo de um selvagem!
2ª parte: Peri
Na segunda parte, em flashback, é narrada a história de Loredano, que se tornará o vilão do enredo, e de Peri, o herói indígena, que, pela primeira vez salva Ceci, ao impedir que ela fosse esmagada por uma imensa pedra que rolava monte abaixo.
3ª parte: Os aimorés
Na terceira parte é apresentado o plano de vingança de Loredano, e a investida dos aimorés contra a casa de dom Antônio de Mariz.
Peri, reconhecendo a vantagem do inimigo, oferece–se em sacrifício. Ele vai, sozinho, lutar contra os aimorés e, tendo-o feito bravamente, embora perca o combate, é feito prisioneiro para que sua carne seja comida no ritual antropofágico da tribo. Peri envenena-se, para que toda a tribo aimoré morra ao comer sua carne. Assim ele salvaria a família Mariz e sua amada Cecília.
4ª parte: A catástrofe
Na quarta e última parte, Peri é salvo por Álvaro; Loredano é condenado à fogueira e tem seus mapas roubados. Álvaro é morto pelos índios, e Isabel, que o ama, mata-se para seguir com ele para a outra vida.
Surpreendido por novo ataque dos aimorés, dom Antônio de Mariz decide explodir a casa-forte e morrer junto aos seus. Mas, antes, batiza Peri e o incumbe de salvar Ceci, levando-a para a casa de sua tia no Rio de Janeiro. Mas Ceci, movida pelo forte amor que inconscientemente já nutre por Peri, toma uma decisão inesperada.
Um temporal começa a desabar, há uma grande inundação. Peri arranca uma palmeira, e utilizando-a como um barco, deixa arrastar-se pela torrente. Peri e Ceci somem no horizonte.