Exercício físico dos mais completos, a natação excedeu o simples divertimento ou a prática esportiva para ser empregada com fins terapêuticos, na recuperação de atrofias musculares e no tratamento de problemas respiratórios.
Natação é o ato de mover-se e sustentar-se na água por impulso próprio, com movimentos combinados de braços e pernas. É importante como exercício de desenvolvimento do corpo, como meio de defesa contra afogamentos ou em operações de salvamento.
História
Na antiguidade, saber nadar era mais uma arma de que o homem dispunha para sobreviver. Os povos antigos (assírios, egípcios, fenícios, ameríndios etc.) eram exímios nadadores. Muitos dos estilos de nado desenvolvidos a partir das primeiras competições esportivas realizadas no século XIX basearam-se no estilo de natação dos indígenas da América e da Austrália.
Entre os gregos, o culto da beleza física fez da natação um dos exercícios mais importantes para o desenvolvimento harmonioso do corpo. Acredita-se que já então a natação era praticada como competição esportiva: aos melhores nadadores eram erigidas estátuas, uma das quais se encontra na Escola de Belas-Artes de Paris. O esporte era incluído também no treinamento dos guerreiros. Bons nadadores formavam um corpo de destruição das defesas inimigas, localizadas em portos, como fazem os homens-rãs na era moderna. Em Roma, a natação também configurava um método de preparação física do povo, incluído entre as matérias do sistema educacional romano. Era praticada em magníficas termas, construções suntuosas onde ficavam as piscinas, de tamanho variável — as mais comuns eram de 100 x 25m.
Com a queda do Império Romano e o advento do cristianismo, a prática da natação declinou até praticamente desaparecer durante toda a Idade Média. Chegou-se a temer, nessa época, que a natação ajudasse a disseminar epidemias. No Renascimento, algumas dessas falsas noções começaram a cair em descrédito. Surgiram então em muitos países piscinas públicas, a primeira das quais foi construída em Paris, no reinado de Luís XIV.
A natação começou a ser difundida como esporte na Europa, a partir da primeira metade do século XIX. Antes do advento das competições, há registros de proezas individuais como a de Lord Byron, que em 1810, para convencer a aristocracia da necessidade de praticar esse esporte, atravessou a nado o estreito de Dardanelos, percorrendo 1.960m em pouco mais de uma hora. Repetiu a façanha em 1818, dessa vez na Itália, ao nadar dez quilômetros em quatro horas. No Reino Unido causou sensação o feito do capitão Webb, que foi o primeiro a atravessar o canal da Mancha, em 1875, em 21h45min.
Foi ainda no Reino Unido, onde já havia, desde 1837, estabelecimentos balneários e piscinas para a prática da natação, que se realizaram as primeiras competições esportivas, até com participação de outros países. Instituiu-se o primeiro campeonato nacional em 1877. Após as primeiras disputas internacionais, o esporte difundiu-se na América e no resto da Europa. Na França, as competições começaram em 1899, com a participação de nadadores ingleses e australianos. A partir de então, a natação difundiu-se em todo o mundo.
Estilos
O primeiro estilo de natação empregado era uma braçada de peito executada de lado. Inicialmente os dois braços se movimentavam dentro da água, mas depois, para diminuir a resistência da água, passou-se a levar um dos braços à frente pela superfície, num estilo que recebeu o nome de single overarm stroke. Nova modificação deu origem ao double overarm, em que os braços eram levados à frente pela superfície, alternadamente. As principais dificuldades do novo estilo estavam no movimento de pernas, semelhante ao de uma tesoura. Esse estilo foi aperfeiçoado em 1893 por J. Arthur Trudgeon, ao aplicar observações que fizera com os nativos da América do Sul. Nesse nado, que recebeu o nome de trudgeon, as pernas eram apenas estabilizadoras da posição horizontal e praticamente não se moviam.
A batida de pernas evoluiu, porém, quando outro inglês, Frederick Cavill, observou que os indígenas australianos nadavam agitando as pernas perpendicularmente à superfície da água. Seu filho Richard adotou o estilo (crawl australiano) e bateu o recorde mundial das cem jardas em 1900. Outro filho de Cavill, Sidney, levou o estilo para os Estados Unidos, onde se criou o crawl americano. Atualmente, a natação é praticada em quatro estilos: crawl (comumente chamado nado livre), costas, peito e golfinho.
O nado de crawl é o mais rápido. O nadador se movimenta com o abdome voltado para a água: a ação das pernas se faz em golpes curtos e alternados, no plano vertical à superfície. O movimento dos braços também é alternado, de tal forma que um comece a puxar a água imediatamente antes que o outro termine de fazê-lo. Quando um dos braços está fora da água, o nadador pode virar a cabeça para respirar desse lado. Quanto maior o número de braçadas antes de executar a respiração, maior o rendimento.
No nado de costas, o nadador permanece todo o percurso com o abdome voltado para fora da água. A batida de pernas é semelhante à do crawl. Os braços alongam-se por sobre a cabeça alternadamente e entram na água passando junto à orelha, com a palma da mão virada para fora, de tal forma que o dedo mínimo seja o primeiro a penetrar na água. Em seu movimento até o quadril, o braço empurra a água e impulsiona o corpo na direção contrária.
O mais lento dos estilos é o nado de peito. É executado com o corpo e os braços estendidos, as palmas das mãos viradas para fora e o rosto dentro da água. As pernas são trazidas para junto do corpo, com os joelhos dobrados e abertos, enquanto os braços se abrem e recolhem à altura do peito. Em seguida, as pernas são impelidas para trás, para impulsionarem o nadador, num movimento parecido com o da rã, ao mesmo tempo em que os braços são esticados para a frente. A inspiração de ar é feita no final da puxada do braço, quando o nadador ergue a cabeça para fora da água.
O nado borboleta surgiu como uma variação do nado de peito, em que os braços eram lançados à frente por cima da água. O estilo foi criado em 1935 pelo americano Henry Myers. A partir de 1952, por determinação da Federação Internacional de Natação Amadora (FINA), passou a ser prova específica, com a adoção de um movimento simultâneo e sincronizado dos pés, no plano vertical, o que aumentou a velocidade e deu origem ao estilo que atualmente é chamado de golfinho.
Competições
Nos Jogos Olímpicos há provas de nado livre nas distâncias de 50, 100, 200, 400, 800m (esta só para mulheres) e 1.500m (só para homens); provas de 100 e 200m, nos nados de costas, peito e golfinho; provas medley (quatro estilos) individuais de 200 e 400m; revezamento 4 x 100 e 4 x 200m (esta só para homens) em nado livre; e revezamento medley 4 x 100m. Fora de competições olímpicas, disputam-se outras três provas de nado livre: 1.500m e revezamento 4 x 200m nado livre (mulheres) e 800m (homens).
Nas provas de nado livre, os nadadores podem escolher qualquer um dos estilos, mas quase sempre optam pelo crawl, por ser o mais rápido. Nos revezamentos medley, cada nadador executa um estilo a cada 100m, na seguinte ordem: costas, peito, golfinho e crawl. A piscina olímpica mede 50 x 22,8m e tem profundidade mínima de 1,98m. É dividida em oito raias, cada uma com 2,5m de largura.
Os nadadores que obtiveram os melhores tempos nas provas de qualificação ficam com as raias centrais. Há juízes para verificar se os estilos são respeitados, se as viradas são executadas da forma correta e para contar o número de voltas realizadas. Qualquer irregularidade desclassifica o nadador. O controle de tempo é feito eletronicamente, com precisão de centésimos de segundo. O sistema de cronometragem começa a funcionar automaticamente ao disparo do juiz e marca o tempo decorrido e as chegadas parciais sempre que os nadadores tocam sensores instalados nas paredes das piscinas.
Natação no Brasil
Como prática desportiva a natação surgiu no Brasil em 1898, quando foi disputado o primeiro campeonato brasileiro, por iniciativa do Clube de Natação e Regatas, no Rio de Janeiro. A competição constituiu-se de uma única prova, de 1.500m nado livre, disputada apenas por homens, e realizada no trecho situado entre a fortaleza de Villegagnon e a praia de Santa Luzia.
A partir de 1913, o campeonato brasileiro passou a ser promovido pela Federação Brasileira das Sociedades do Remo, na enseada de Botafogo. Além dos 1.500m nado livre, também foram disputadas provas de 100m para estreantes, 600m para seniores e 200m para juniores. O esporte passou a ser controlado, em 1914, pela Confederação Brasileira de Desportos, responsável a partir de então pela organização das competições em âmbito nacional.
A primeira piscina de competição foi inaugurada em 1919, no Fluminense Futebol Clube do Rio de Janeiro. Em 1923, os paulistas também ganharam sua piscina: a da Associação Atlética de São Paulo. O grande nome da natação nesse período foi Abraão Saliture, vencedor de vários campeonatos (1901 a 1906 e 1909 a 1920). Em 1908, venceu em Montevidéu as provas de 100 e 500m, com o que iniciou um período de hegemonia do Brasil nesse esporte, na América do Sul.
Somente a partir de 1935 as mulheres entraram oficialmente nas competições. Destacaram-se inicialmente Maria Lenk, vencedora de todas as provas realizadas nesse ano e Piedade Coutinho (vencedora do campeonato de 1941). Em 1929, ao regularizar-se a disputa do Sul-Americano, o Brasil passou a dominar regularmente essa competição. Obteve também bons resultados na Copa Latina, criada em 1970.
O Brasil projetou-se internacionalmente com alguns nadadores que obtiveram marcas mundiais: Maria Lenk, recordista mundial nas provas de 200 e 400m, nado de peito, em 1939; Manuel dos Santos, que em 1961, no Rio de Janeiro, nadou os 100m nado livre em 53s6, recorde mundial até 1964; José Sílvio Fiolo, que em 1968 estabeleceu a marca mundial de 1min06s4 para os 100m, nado de peito; e Ricardo Prado, que se tornou em 1984 recordista mundial dos 400m medley, com 4min19s78.
Na década de 1990, uma geração de nadadores brasileiros, entre eles Gustavo Borges, Fernando Scherer, Rogério Romero, Daniela Lavagnino, Adriana Pereira, Patrícia Amorim e Ana Azevedo, quebrou recordes sul-americanos e mundiais. Gustavo, em 1992, obteve medalha de prata nos 100m nado livre, nos Jogos Olímpicos de Barcelona e, em 1993, bateu o recorde mundial de 100m nado livre, em piscina de 25m, com o tempo de 47s94. No mesmo ano, a equipe brasileira de 4 x 100m nado livre, integrada por Gustavo Borges, Fernando Scherer, José Carlos Jr. e Teófilo Ferreira, baixou a marca mundial da prova em piscinas de 25m, com o tempo de 3m12s11.
Autoria: Fabrícia Kohler de Carvalho