Um dos traços mais característicos da composição étnica da população brasileira é a enorme variedade de tipos, resultante de uma intensa miscigenação que se iniciou junto com a nossa história — desde que os colonizadores brancos (portugueses) aqui se instalaram, aproximaram-se dos indígenas (nativos) e trouxeram os escravos negros (africanos).
A mistura desses três grupos étnicos básicos, que foi relativamente rápida, resultou em mestiços como o caboclo (filho de pais das etnias indígena e branca), o mulato (filho de pais das etnias negra e branca) e o cafuzo (filho de pais das etnias indígena e negra). Com o prosseguimento da miscigenação, originaram-se os inúmeros tipos que hoje compõem a nossa população.
Um fato é inquestionável: a população torna-se cada vez mais miscigenada, diminuindo as diferenças mais visíveis entre os três grupos étnicos originais.
a) O índio
Nunca se fizeram levantamentos precisos sobre o número de indígenas no Brasil, até porque muitos grupos nativos se mantiveram isolados da civilização. Entretanto, estima-se que houvesse, no século XVI, entre 4 e 5 milhões de índios, que, ao longo de quatro séculos de aproximação com o branco, viram-se reduzidos a aproximadamente 520 mil.
Devido a processos contínuos de extinção — lutas, doenças, fome — e aculturação, pela qual os indígenas perdem suas referências culturais e linguísticas, assimilando as do homem branco, esse número tende a diminuir ainda mais.
O pequeno número de remanescentes confirma o que se observou historicamente: prevaleceu não a tendência à integração, e sim à extinção dos índios, tanto por sua falta de imunidade a doenças trazidas pelos brancos (gripe, sarampo, malária, etc), como pelos conflitos ligados a tentativas de submetê-los e de tomar posse de suas terras — mesmo hoje, quando elas estão oficialmente demarcadas.
Com a expansão das fronteiras agrícolas e a recente descoberta de minérios em áreas das regiões Norte e Centro-Oeste, tornaram-se comuns as invasões de reservas indígenas por grupos de posseiros e garimpeiros, com enfrentamentos graves. E até mesmo o governo as viola, ao construir rodovias e hidrelétricas em seus limites.
A Fundação Nacional do índio (FUNAI) tem como função aplicar a legislação contida no Estatuto do índio, que fala em garantir os costumes dos indígenas e propiciar-lhes uma educação que vise à sua integração. Para muitos, entretanto, manutenção de costumes e integração são conceitos antagônicos, pois integrar significa destruir língua, hábitos e crenças.
b) O negro
Segundo o censo de 2010, viviam no Brasil cerca de 11 milhões de negros, mais concentrados nas regiões Nordeste e Sudeste, onde foi importante a mão-de-obra escrava no período colonial, utilizada especialmente na produção da cana-de-açúcar, na mineração e na cafeicultura.
Os negros trazidos da África (cerca de 4 milhões) costumam ser divididos em dois grandes grupos: o dos bantos (de Angola, Congo, Moçambique) e o dos sudaneses (da África Ocidental, principalmente do Golfo da Guiné).
Após a abolição da escravatura (1888), quando os fazendeiros e industriais passaram a dar preferência à mão-de-obra branca imigrante, os negros encontraram dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Assim, apesar de terem dado decisiva contribuição para a economia brasileira, mantiveram-se numa posição de inferioridade econômica e social que hoje se traduz numa situação dramática: segundo o último censo, relativamente ao que recebe um trabalhador branco, o trabalhador negro recebe, em média, 56%, e a mulher negra, apenas 25%.
Essas disparidades demonstram enfaticamente que o preconceito ainda é um impedimento à ascensão social desse grupo étnico no país — com prejuízo redobrado no caso da população negra feminina.
c) O branco
Em 2010, de acordo com o censo, os brancos constituíam 45,53% da população brasileira, predominando sobretudo nas populações das regiões Sul e Sudeste.
Os primeiros representantes dessa etnia, basicamente de origem europeia, chegaram ao Brasil durante o período colonial (portugueses em maior número, mas também espanhóis, holandeses e franceses). E no chamado período imigratório, em particular na fase que se estendeu de 1850 a 1934, centenas de milhares de brancos, em sua maioria da Itália, de Portugal e da Espanha, vieram adicionar-se à composição étnica do povo brasileiro, em levas que foram muito significativas para a economia, a cultura e as transformações políticas ocorridas no país.
Por: Renan Bardine
Veja também:
- Formação Cultural Brasileira
- Imigrantes no Brasil
- Os Contrastes Regionais do Brasil
- As Populações Indígenas do Brasil
- Os Povos no Brasil – Miscigenação