Guerras

Guerra do Paraguai

A Guerra do Paraguai foi o conflito militar mais sangrento ocorrido na América Latina no século XIX. Foram seis anos de combates, com centenas de milhares de mortes.

As disputas na região do Prata

As disputas em tomo da região do Prata provocaram conflitos entre espanhóis e portugueses desde o período colonial. Os antagonismos se acentuaram com a ampliação da atividade comercial na região, uma vez que era pelo rio da Prata que os navios argentinos, uruguaios e paraguaios alcançavam o oceano Atlântico, escoando sua produção.

Interessava ao Brasil, nesse contexto, impedir que a região fosse controlada exclusivamente por um país. Também o governo da Inglaterra defendia a livre navegação, que convinha a seus objetivos de ampliação do mercado consumidor.

Na segunda metade do século XIX, configurou-se uma oposição: de um lado, os interesses de Argentina, Uruguai e Brasil; de outro, a pretensão paraguaia de expandir seu território e, assim, conseguir uma passagem para o mar.

Guerra do Paraguai: causas e início

Sob o comando do presidente Solano López e temendo os projetos expansionistas do Brasil e da Argentina, o Paraguai adotou uma política hostil em relação aos países da região a partir de 1864. A situação acabou por desencadear um conflito militar, a Guerra do Paraguai, que se estendeu de 1864 a 1870.

Uma das principais causas imediatas da deflagração da Guerra do Paraguai foi a oposição brasileira ao ditador uruguaio Atanásio Cruz Aguirre, apoiado pelo presidente paraguaio Solano López. Em represália à intervenção militar brasileira no Uruguai, o Paraguai aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda, que rumava para o Mato Grosso.

O governo do Brasil rompeu relações com o Paraguai, e o conflito teve início.

Guerra do Paraguai: o conflito

Em dezembro de 1864, as tropas paraguaias invadiram o Mato Grosso. Quinze dias depois, já controlavam boa parte da província. O exército brasileiro reagiu, avançando para o território paraguaio. Os enfrentamentos prosseguiram, e as forças paraguaias só deixaram por completo o Mato Grosso em abril de 1868.

No início de 1865, ao mesmo tempo que avançavam pelo Mato Grosso, as tropas paraguaias atacaram o Brasil pelo Rio Grande do Sul. Também invadiram a Argentina, pela província de Corrientes.

Em reação aos ataques, o Brasil, a Argentina e o Uruguai colorado, composto pelas forças fiéis ao presidente Venâncio Rores, assinaram a Tríplice Aliança, uma união de forças políticas e militares. A primeira vitória da aliança foi a Batalha do Riachuelo, em junho de 1865, quando os soldados aliados retomaram a cidade gaúcha de Uruguaiana dos paraguaios.

Na ofensiva dos aliados em território paraguaio destacou-se a Batalha de Tuiuti, em maio de 1866, considerada a mais violenta e sangrenta da história sul-americana, com nova derrota do Paraguai. Seguiram-se outras vitórias sobre as forças paraguaias, até que em janeiro de 1869 as tropas aliadas finalmente entraram na cidade paraguaia de Assunção.

As tropas paraguaias, enfraquecidas, ainda tentaram resistir, mas foram definitivamente derrotadas em março de 1870, na região de Cerro Corá. Terminava assim a Guerra do Paraguai.

Mapa com as batalhas da Guerra do Paraguai.
Guerra do Paraguai (1864-1870).

Consequências

Centenas de milhares de civis e militares morreram na Guerra do Paraguai. Há divergências quanto ao número de vítimas, mas, segundo algumas estimativas, o Brasil – cujos soldados representavam dois terços do exército aliado – teria perdido 50 mil homens nas frentes de batalha.

O Paraguai sofreu os maiores danos. Mobilizou toda a sua população masculina entre os 10 e os 60 anos de idade. Segundo as estimativas, o país perdeu na guerra entre 75% e 95% de sua população masculina – muitos em campo de batalha, outros em consequência da fome e de doenças. Seu território foi devastado e a economia demorou mais de um século para se recuperar.

O tratado de paz assinado entre o Brasil e o Paraguai em 1872 estabeleceu a livre navegação no rio Paraguai, confirmou as fronteiras reivindicadas pelo Brasil e definiu uma indenização a ser paga pelo Paraguai – mais tarde perdoada pelo governo brasileiro.

A Argentina perdeu cerca de 18 mil soldados, o que representa mais de 10% de sua população na época. O Uruguai, por sua vez, teve uma participação muito pequena no enfrentamento militar, com poucas perdas econômicas e humanas apesar de seu papel central no desencadeamento da guerra.

Embora o Brasil tenha obtido vantagens no tratado de paz com o Paraguai, o conflito também trouxe consequências negativas. Para arcar com as despesas de guerra, o país teve de fazer empréstimos, principalmente com a Inglaterra.

Além disso, as campanhas pela abolição da escravidão se fortaleceram, uma vez que muitos escravos e ex-escravos morreram nos campos de batalha para defender o Brasil.

O Exército, valorizado pelo resultado da guerra, assumiu suas convicções republicanas e passou a fazer oposição a dom Pedro II.

Por: Paulo Magno da Costa Torres

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