História

Peste Negra

Em 1348, desencadeou-se na Europa uma devastadora epidemia de peste que dizimou um terço da população europeia – a Peste Negra.

Transmitida pelas pulgas dos ratos aos seres humanos, a peste teve sua propagação facilitada pela situação de subnutrição pelas más condições higiênicas da população europeia. As cidades foram os lugares mais castigados, devido à alta concentração populacional.

O que é a peste?

A peste é uma doença contagiosa causada por uma bactéria (Pasteurella pestis ou Yersinia pestis), descoberta apenas em 1894. Ela é geralmente transmitida ao homem pelas pulgas dos ratos e de outros roedores infectados.

Os vetores (transmissores) da bactéria podem ser vários tipos de insetos que se alimentam de sangue (hematófagos), que o transmitem através da picada. Geralmente o vetor é a pulga Xenopsylla cheopis.

A doença pode se manifestar na forma pneumônica (pulmões), na corrente sanguínea (causando infecção generalizada ou septicemia) ou na forma de bubos ou tumefações no pescoço, axilas e virilhas (peste bubônica). Neste último caso, os bubos ou bubões purgam sangue e pus e são acompanhados de manchas escuras devidas a hemorragias internas. Os sintomas da doença são febre, vômitos, sede, dores generalizadas e delírio.

A forma que mais matou na Europa do século XIV foi a bubônica, por seus primeiros sintomas serem caroços negros no pescoço e nas axilas, a peste ganhou o nome de “negra”.

Causas da epidemia

A prosperidade vivida pela Europa centro-ocidental nos dois séculos que antecederam a peste, graças à intensificação das atividades agrícolas e comerciais, havia provocado um aumento populacional, cujos reflexos apareceram de forma mais intensa nas cidades. Contudo, a precariedade das condições higiênicas das cidades facilitou o desenvolvimento da peste, assim como de outras epidemias.

A epidemia se espalhou ao longo das vias comerciais europeias, primeiro pelo sul e pelo oeste, depois pelo norte e pelo leste.

Origem e difusão pela Europa

A peste bubônica veio da Ásia e penetrou na Europa através dos navios genoveses. Em dois anos, a doença se espalhou, assolando todo o continente europeu.

No ano de 1348, a peste entrou na Europa Ocidental pela Sicília, passando então para a Península Itálica. Com uma velocidade vertiginosa, propagou-se nesse mesmo ano pelo sul da França e pela região de Catalunha-Aragão (Espanha); entrou, então, na Inglaterra pelo porto de Dorset. Em 1349, espalhou-se pelo reino da França e por toda a Península Ibérica, atingindo também Flandres, Renânia, Escandinávia e as costas do Mar Báltico.

O pânico tomou conta da população. A peste durava entre seis e sete meses em cada cidade. O medo era tão grande que as pessoas abandonavam os doentes. Muitas vezes, os habitantes tinham de ser obrigados, mediante recrutamento forçado, a enterrar os mortos.

Consequências da Peste Negra

No período de 1347 a 1350, a peste negra matou cerca de um terço da população europeia, algo em torno de 20 milhões de pessoas.

A peste negra afetou o imaginário dos europeus, fazendo a ideia da morte ficar ainda mais presente em seu cotidiano. Havia a crença de que a epidemia era um castigo divino, pensamento que era reforçado pelos castigos que a Igreja Católica pregava aos pecadores, desde a Alta Idade Média.

Quadro que retrata o enterro de vítimas com a peste negra.
O enterro das vítimas da praga em Tournai, detalhe de miniatura do século XIV. A peste negra teve como foco as cidades e estava associada à falta de hábitos de higiene, à proliferação de ratos e pulgas, que eram os vetores iniciais da doença.

Ela fez surgir o movimento dos flagelantes, que pregava a penitência e a flagelação do corpo. Seus integrantes foram considerados hereges e condenados pelo papa Clemente I, pois suas pregações sobre a ira divina e o fim do mundo agravavam a histeria coletiva.

À medida que as estruturas do sistema feudal ruíam, mais as classes populares sofriam as consequências. Os senhores intensificavam a exploração sobre a massa de camponeses e aumentavam os impostos na tentativa de resolver seus problemas.

A peste negra contribuiu para desestruturar o já combalido sistema feudal: de um lado, a morte de milhares de camponeses resultou em falta de trabalhadores no campo, aumento do preço dos cereais e, em consequência, uma devastadora fome; por outro lado, com o fim da peste, os camponeses sobreviventes rebelaram-se contra seus senhores e promoveram o êxodo para as cidades.

Não à toa, na passagem do século XIV para o XV alimentou-se cada vez mais a necessidade de buscar o “paraíso da Terra”, já que a Europa era vista por sua população como um lugar tomado pelas forças do mal. Juntamente com outros fatores, essa mentalidade contribuiu para estimular as Grandes Navegações.

Veja também: