A sociedade e a economia na América portuguesa foram fortemente marcadas pela escravidão negra, que perdurou até 1988. Cansados dos maus-tratos e da violência a que eram submetidos, os negros africanos adotavam várias estratégias de resistência, individual e coletivas, contra a escravidão.
Os castigos
Qualquer tentativa de rebelião, fuga ou mesmo os atos de indisciplina eram punidos exemplarmente com castigos e torturas.
Um dos castigos mais comuns era o açoite. O escravo recebia a surra amarrado no tronco ou no pelourinho – coluna de pedra destinada a castigos públicos -, com a presença de muitos curiosos, convocados para o evento com antecedência.
Também havia palmatória, mutilações e uma série de instrumentos de suplício. Para impedir fugas durante o transporte de escravos, usavam-se correntes nos pés, algemas e chocalhos presos ao pescoço com argolas de metal.
Os tipos de resistência individual
Os negros resistiam como podiam à escravidão. As mulheres, frequentemente, provocavam abortos para livrarem seus filhos do cativeiro; as negras domésticas envenenavam a comida de seus senhores; homens e mulheres se suicidavam, quebravam os maquinários do engenho, ateavam fogo às plantações e à Casa-Grande, fugiam para a mata e deixavam-se morrer de “banzo”.
O banzo
Depois de viver certo tempo na colônia, muitos escravos entravam num estado de profunda tristeza por sua condição. Sentiam saudades de sua pátria e não se conformavam com o cativeiro. Não conseguiam se alimentar e chegavam a morrer. Esse estado foi denominado banzo.
Os tipos de resistência coletivas
A capoeira
Para capturar os negros fugitivos, os senhores empregavam profissionais especializados, chamados capitães-do-mato, que recebiam por “peça” recuperada.
Para enfrentar os capitães-do-mato, os escravos desenvolveram uma modalidade de arte marcial – a capoeira – em que a tática de luta é usar as pernas como arma. Nas senzalas, eles praticavam e aperfeiçoavam a técnica ao som de música e cantoria, enquanto os senhores achavam que era um folguedo, uma dança de negros.
Os quilombos
Quando os negros obtinham sucesso nas fugas, eles organizavam aldeias em locais de difícil acesso, denominados quilombos, atraindo e acolhendo todos os escravos fugitivos da região. Durante o Período Colonial, organizaram-se centenas de quilombos, o que prova a resistência negra à escravidão.
O mais famoso e o mais estudado foi o quilombo dos Palmares, organizado na serra da Barriga, em Alagoas, por Ganga Zumba e imortalizado por Zumbi. Zumbi nasceu livre, no quilombo dos Palmares, filho de uma princesa africana e sobrinho de Ganga Zumba. Aos 17 anos, já era um líder respeitado e encarregado do treinamento da tropa em Sucupira.
O nome do quilombo – Palmares – está ligado às palmeiras de pindoba, fartas na região. Os quilombolas praticavam a agricultura e o excedente era comercializado com vilas e povoados vizinhos em troca de armas, munições e outros produtos. O quilombo dos Palmares não abrigava somente negros: índios, mulatos e brancos pobres também eram acolhidos, chegando o local a possuir cerca de 30 mil habitantes.
O quilombo dos Palmares acabou se tornando um símbolo da resistência negra e uma referência para todos os escravos. Os senhores enviaram várias expedições para destruí-lo, mas fracassaram. Durante a invasão holandesa ao Nordeste canavieiro, os senhores e o governo, preocupados em defender a terra contra os invasores, “facilitaram” fugas em massa dos escravos em direção a Palmares.
Após quase 70 anos de resistência, o quilombo dos Palmares foi destruído por Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista que se destacara na captura de índios. Zumbi conseguiu escapar, mas acabou morto em uma emboscada, em 20 de novembro de 1695.
Em 9 de janeiro de 2003, foi promulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Lei no 10.639, que instituiu 20 de novembro como o Dia Nacional de Consciência Negra, em homenagem a Zumbi, líder dos Palmares e símbolo da resistência negra.
Ainda hoje, há comunidades quilombolas espalhadas no território brasileiro, as quais estão lutando pelo direito à terra, cada vez mais ameaçada por grileiros e fazendeiros.
Pelo artigo 68 das Disposições Constitucionais Transitórias (DCTs), a Constituição reconheceu em 1988 o direito à posse da terra pelos descendentes dos quilombolas. Em 1995, ocorreu a primeira regularização, no norte do Pará.
Conclusão
O negro é um dos elementos mais importantes na formação do povo brasileiro, ao lado do índio nativo e do branco português, compondo a base de nossa população.
Mesmo introduzido à força nessas terras e obrigado a adotar a língua, os costumes e a religião do europeu colonizador, muito da cultura africana se entrelaçou e se perpetuou na cultura brasileira, contribuindo para a riqueza de nosso vocabulário, folclore, religião, culinária e tipo físico: mulatos e cafuzos.