A revolta de Beckman foi uma rebelião que aconteceu no ano de 1684 como uma reação dos proprietários rurais do Maranhão aos abusos que estavam sendo cometidos pela cora portuguesa.
Esse conflito entre colonos ocorreu no norte do Brasil, mais precisamente na área que corresponde ao Maranhão, no século XVII. Desde 1621 a dinastia Filipina havia criado o Estado do Maranhão, diretamente vinculado ao Estado português, do qual faziam parte o Ceará, o Piauí, o Maranhão, o Pará e o Amazonas.
Causas da Revolta de Beckman
A região não era a mais próspera do espaço colonial, pelo contrário, era marcada pela relativa pobreza dos colonos. Dentre as atividades econômicas desenvolvidas se encontravam a lavoura de cana, a pecuária (voltada ao curtume), o cultivo do tabaco e o extrativismo vegetal. Tais atividades eram realizadas em pequena escala, repercutindo na situação de pobreza de seus habitantes.
Estes, com parcos recursos, encontravam na escravização dos indígenas uma possibilidade de ganho e, logo, entraram em confronto com os padres jesuítas que realizavam seus aldeamentos e ensinavam a fé cristã aos nativos.
Os missionários se colocaram em defesa dos nativos, cobrando da Coroa uma atuação mais enérgica ao que denominavam abusos dos colonos, atentados contra o gentio convertido à fé cristã.
É importante observar que os jesuítas, ao organizarem as missões, catequizavam os índios, mas utilizavam o trabalho e o conhecimento dos povos indígenas para coletar as chamadas “drogas do sertão”.
Ainda assim, questionavam a utilização da mão de obra dos nativos por outros colonos, criando com estes uma situação de confronto. Os colonos organizaram atentados contra os aldeamentos, capturando os indígenas aculturados. A guerra estava declarada.
Os jesuítas conseguiram apoio da Coroa, pois a escravização dos nativos não repercutia em ganhos imediatos a Portugal, sendo proibida a escravização indígena.
Acrescente-se a isso que a política metropolitana instituiu, em 1682, uma Companhia de Comércio (do Maranhão) com vistas a abastecer a área com braço escravo africano. Esta companhia não teria apenas o monopólio da venda de escravos, mas de todo o comércio da região por vinte anos. Somente os missionários ficaram excluídos do monopólio da Companhia.
A insatisfação crescente dos colonos com o que acreditavam ser um desprestígio da Coroa logo se cristalizou em revolta declarada. O movimento cresceu não apenas contra a exploração da Companhia de Comércio do Maranhão, mas também contra os jesuítas.
Como a revolta ocorreu
A partir da liderança dos irmãos Beckman ou, de forma aportuguesada, Bequimão (Manuel e Tomás), senhores de engenho da região, eclodiu uma guerra com a tomada do Armazém da Companhia e ataques aos aldeamentos jesuíticos. Autoridades portuguesas foram presas e religiosos foram expulsos.
Seu principal objetivo foi o fim do monopólio da Companhia de Comercio do Maranhão, para que, só assim, se estabelecesse uma relação comercial justa entre produtores, vendedores e compradores.
Manuel Beckman enviou seu irmão, Tomás Beckman, para Portugal para negociar com a Corte, mas ele foi preso ao desembarcar e enviado de volta ao Maranhão.
Em seu retorno, trouxe consigo um novo governador para a região, Gomes Freire Andrade, que foi enviado ao Brasil pela coroa com a intenção de restabelecer a ordem local. E não houve resistência da população.
Desfecho e consequências
Como ato de Gomes Freire, o novo governador, os políticos que haviam sido depostos na revolta tiveram seus cargos restituídos. Os envolvidos na revolta foram caçados, presos e julgados.
A respeito dos irmãos Beckman, Manuel foi condenado à forca em 1685, por ter liderado o movimento. Seu irmão, Tomás, foi condenado ao desterro, ou seja, foi expulso da sua terra. Os demais participantes, e apoiadores da revolta, também não foram deixados de lado. Foram investigados, julgados e tiveram a pena de prisão perpétua.
A Companhia foi desfeita, no entanto, os missionários continuaram com suas atividades na região garantidas pela Coroa. Só adiante, na administração pombalina (1750-1777), houve uma sistemática perseguição metropolitana aos religiosos.
Por: Pedro Augusto Rezende Rodrigues
Veja também:
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