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Anelídeos: Características, Classificação e Importância

Os anelídeos (do latim annelus, anel) são vermes cilíndricos metamerizados, ou seja, apresentam o corpo com metâmeros ou segmentos. A metamerização ou segmentação também é observada em artrópodes e em cordados, mas não é tão evidente como nos anelídeos.

Formado por aproximadamente 15 mil espécies, destacam-se no filo Annelida as minhocas, encontradas no solo, as sanguessugas e os poliquetas (vermes marinhos). São de vida livre no solo, na água doce e no fundo do ambiente marinho; alguns atuam como parasitas.

Classificação

A classificação do filo Annelida baseia-se na presença e na quantidade de cerdas no corpo do animal. Divide-se em três classes: Oligochaeta (oligo = pouco; chaetas = cerdas), Polychaeta (poli = muito; chaetas = cerdas) e Hirudinea ou Achaeta (a = sem; chaetas = cerdas).

  • Os oligoquetas são anelídeos com poucas cerdas em cada segmento, como as minhocas terrestres. Contam com a presença de clitelo — estrutura circular anterior externa que ajuda na reprodução.
  • Os poliquetas, a maior classe, são exclusivamente marinhos e possuem muitas cerdas em cada segmento, que podem formar apêndices locomotores chamados parapódios; alguns poliquetas revestem seus túneis com uma camada calcária, sendo chamados tubícolas.
  • Os aquetas ou hirudíneos são animais distribuídos por ambientes terrestres úmidos, marinhos e de água doce, caracterizam-se pela ausência de cerdas e ventosas com as quais se prendem aos hospedeiros. Os representantes mais conhecidos são as sanguessugas.
Grupos de anelídeos.

Características gerais

Os anelídeos apresentam características mais avançadas do que outras classes de “vermes”, como os platelmintos e os nematelmintos. Os anelídeos possuem um sistema digestório completo, sistema cardiovascular e órgãos do aparelho excretor.

Revestimento

O corpo dos anelídeos é revestido por uma espécie de cutícula fibrosa, fina e transparente, secretada pela epiderme. Essa camada possui receptores térmicos e táteis.

Sustentação

No interior do organismo dos anelídeos existe uma cavidade que é repleta de membranas e preenchida um fluído. Essa estrutura usa o fluído como veículo de pressão pneumática, dando consistência ao corpo do animal.

Locomoção

Os anelídeos não têm patas, mas alguns deles têm cerdas ou expansões laterais que os auxiliam em seu deslocamento e funcionam de forma independente, possibilitando aos vermes perfazer manobras.

  • As minhocas se movimentam rastejando, devido ao esqueleto hidrostático. Cada segmento do corpo contém líquido extracelular e parede corporal, com músculos longitudinais e também circulares. As contrações coordenadas desses músculos permitem o movimento: os segmentos anteriores, encurtados, apoiam-se no substrato, e com o auxílio de cerdas, os posteriores se alongam projetando-se para frente.
  • As sanguessugas possuem ventosas fixadoras na região da boca e na outra extremidade, que são utilizadas na locomoção.
  • Poliquetos possuem parapódios, estruturas com cerdas mais compridas que auxiliam na locomoção.

Digestão

As minhocas são organismos necrófagos. Elas se alimentam de matéria orgânica decomposta, ingerindo a terra e processando os elementos orgânicos.

Sanguessugas também podem ser necrófagas e, muitas vezes, agem como parasitas. A mucosa bucal, repleta de dentes, perfura a pele da vítima. As glândulas salivares secretam anticoagulantes, como ocorre com mosquitos ou percevejos, prolongando a hemorragia no hospedeiro. Além disso, secretam vasodilatadores e anestésicos – evitando que o animal parasitado perceba ou entre em alerta com sua presença.

No tubo digestório, a faringe funciona como um mecanismo de sucção, puxando o sangue diretamente ao intestino. O alimento é temporariamente armazenado no papo e em seguida migra para a moela, que processa o sangue ou alimento.

Sistema digestório dos anelídeos.

A absorção dos nutrientes é realizada nos cecos intestinais e na tiflossole, uma espécie de apêndice intestinal de grande capacidade de absorção.

Corte transversal na região intestinal de um anelídeo.

Circulação

Os anelídeos possuem sistema circulatório fechado, ou seja, o sangue circula sempre dentro dos vasos sanguíneos. O sistema é parecido ao dos vertebrados, com vasos principais e capilares. Contudo, não há coração: estruturas musculares ao redor dos próprios vasos fazem o bombeamento.

O transporte de oxigênio no sangue, como ocorre com seres humanos, é feito através da presença de hemoglobina. Não há, contudo, glóbulos. A hemoglobina nesses vermes é dissolvida no próprio plasma sanguíneo.

Respiração

Nas minhocas, quando o sangue circula pelos vasos sanguíneos, sob a epiderme, há intercâmbio de gases entre o sangue e o meio exteno. É a conhecida respiração cutânea. Entre os poliquetas e sanguessugas marinhas, ocorre a respiração branquial, com órgãos específicos que realizam o intercâmbio de gases com a água.

Excreção

A excreção dos anelídeos é realizada por meio de estruturas chamadas metanefrídios. São estruturas que lembram um longo funil. A região mais larga, chamada nefróstoma, recolhe os resíduos do metabolismo no lado corporal. A parte mais estreita do funil, chamada nefridióporo, elimina os resíduos na outra extremidade, através da pele. Cada segmento da minhoca possui um par de metanefrídios.

Sistema nervoso

Os anelídeos possuem um sistema nervoso ganglionar. Ele é formado por um cordão nervoso ventral e um par de pequenos gânglios nervosos em cada segmento do corpo. Gânglios maiores, os cerebroides, também ocorrem em par e ficam na região anterior do corpo, sobre a faringe muscular.

Sistema nervoso dos anelídeos.

Reprodução

Os anelídeos realizam reprodução sexuada. Alguns anelídeos são monoicos ou hermafroditas, como a minhoca, e outros são dioicos, como muitos dos poliquetas marinhos. A minhoca possui clitelo, região com segmentos corporais relacionados à reprodução, e, embora seja hermafrodita, tem fecundação cruzada.

No acasalamento, dois animais colocam-se lado a lado, em sentido contrário, e trocam espermatozoides, armazenados em receptáculos seminais. Posteriormente, ao redor do clitelo, forma-se uma bolsa gelatinosa, o casulo, onde os óvulos são depositados através do poro genital feminino.

Durante a cópula, o poro genital masculino de uma minhoca se une com o receptáculo seminal da outra para a troca de espermatozoides.

Depois de formado e com os óvulos em seu interior, o casulo migra para a região anterior e, ao passar pelos receptáculos seminais, acaba por receber espermatozoides de outras minhocas, caracterizando a fecundação cruzada e externa. Os embriões se desenvolvem em ovos dentro do casulo e, quando eclodem, são indivíduos que já possuem características do verme adulto, porém em menor tamanho.

Entre as sanguessugas ocorre um processo reprodutivo muito semelhante ao das minhocas. Elas também são hermafroditas e realizam a fecundação cruzada mútua. O desenvolvimento embrionário também é direto e, dos ovos, eclodem os jovens.

Nas poliquetas, marinhas e de sexos separados, a fecundação é cruzada e externa, ocorrendo na própria água. Após a fecundação, desenvolve-se uma larva conhecida como trocófora. Esse tipo de larva também ocorre nos moluscos, o que poderia representar um grau de familiaridade entre os dois filo.

Importância dos anelídeos

As minhocas vivem em ambiente terrestre úmido, escavando galerias no solo. O metabolismo das minhocas enriquece o solo e o torna rico em nutrientes conhecidos por “humo”. Além disso, a constante movimentação desses vermes torna o solo mais oxigenado e fofo, ideal para o plantio na maioria das culturas.

Outro anelídeo muito conhecido é a sanguessuga, um verme com duas extremidades no corpo, ventosas usadas na fixação à presa. As sanguessugas são equipadas para aderir ao corpo de outros animais, consumindo sangue.

As sanguessugas da espécie Hirudo medicinalis, que medem entre 5 e 45 cm de comprimento, já foram muito utilizadas no passado para técnicas terapêuticas. Antes do desenvolvimento da medicina atual, muito do que se acreditava em termos médicos estava ligado ao sangue – o “sangue ruim” precisava ser removido para livrar pacientes de determinados males e, para isso, curandeiros faziam uso de sanguessugas.

Atualmente, as sanguessugas são utilizadas pelo poder anticoagulante da enzima que produz a hirudina. O verme usa essa enzima para evitar a coagulação e poder se alimentar do sangue do hospedeiro, mas o composto vem sendo usado para fins clínicos.

Por: Carlos Artur Matos

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