O conto “Conto de Escola”, de Machado de Assis, tem foco narrativo em primeira pessoa, e narra um fato que se passa numa escola do Rio de Janeiro, em 1840 (circunstâncias históricas: fim do Império, a Abolição dos Escravos e a Proclamação da República).
Pilar relembra um fato de sua infância: era chamado de Seu Pilar, e num sábado de manhã, na Rua da Princesa, decidia se iria brincar ou iria para a escola, ficava indeciso entre o morro ou o campo, por fim, lembrando da última “sova” que ganhara do pai, decidiu ir para a escola.
Pilar era um bom aluno, sempre o primeiro a terminar as atividades. Seu pai sonhava em vê-lo lendo, escrevendo, fazendo contas e sendo comerciante. Raimundo era colega de classe de Pilar, e filho do mestre – que era muito severo.
Por esse motivo Raimundo era muito cobrado, mas tinha dificuldades de aprendizagem, fato que o leva a mostrar para Pilar uma “pratinha” que trazia no bolso, em seguida propondo que ele lhe ensine a lição de sintaxe que não conseguia entender.
Seu Pilar pensou que fosse brincadeira, mas quando percebeu que Raimundo falava sério, decidiu aceitar. Com cautela fizeram a troca, afinal o mestre estava ali diante, e se os pegasse seriam castigados com a palmatória.
Para a surpresa de ambos, Curvelo, um colega mais velho e ardiloso, estava observando tudo.
A moeda estava no bolso de Pilar, que sonhava com a beleza da “pratinha”, até que foi interrompido pelo mestre que o chamou junto com Raimundo. Ao lado deles estava o delator: Curvelo. O fato de Pilar estar ensinando a lição para Raimundo em troca de uma “pratinha” foi considerado como suborno pelo mestre, que a solicitou, porém Pilar jogou a moeda pela janela. Então o mestre castigou os meninos com doze “bolos” diante de toda a turma, causando constrangimento e humilhação aos meninos.
Depois da aula Seu Pilar resolveu dar uma surra em Curvelo, que se escondeu e acabou se livrando de levar uns murros.
No dia seguinte, Pilar tinha sonhado que encontrara a moeda na rua e a pegava de volta, arrumou-se depressa para chegar à escola na esperança de recuperar a “pratinha”, porém no meio do caminho deparou-se com o batalhão de fuzileiros que tocavam tambores, assim, preferiu segui-los a ir à escola. Terminou a manhã na Praia da Gamboa e voltou para casa sem a moeda nem peso na consciência. Assim, aprendeu com Raimundo e Curvelo a corrupção e a delação.
“Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor…”
Referências bibliográficas
ASSIS, Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro : Nova Aguilar 1994. v. II.
Por: Miriã Lira