A África é um continente imenso e formado por dezenas de países com realidades geográficas, climáticas, históricas e sociais completamente distintas. Na tentativa de estabelecer uma melhor organização e entendimento político e econômico dos países africanos, a ONU propôs, após a Segunda Guerra Mundial, uma classificação com cinco regiões da África. Aspectos geográficos e físicos foram levados em conta, mas também culturais e socioeconômicos.
A “cultura africana”, de forma errônea, é vista por muitos como algo único. Contudo, as tradições, a história, a realidade vivida por cada um dos países do continente apresentam distinções e contrastes maiores do que os existentes nas Américas ou mesmo na Europa.
Para destituir a imagem de “cultura única” e oferecer possibilidades e oportunidades condizentes com a realidade de cada uma das nações africanas, essas cinco regiões passaram a oferecer uma visão mais regionalizada do que é a África.
África Setentrional – Norte
A palavra “sententrional” significa, literalmente, “referente ao norte“. A África Setentrional está localizada, principalmente, na faixa da região norte do continente, e é composta por Marrocos, Tunísia, Argélia, Líbia, Sudão, Egito e Saara Ocidental. Economicamente, a região é conhecida por Norte da África ou África Mediterrânea.
O norte africano é uma região de forte contato com o continente europeu e a Ásia. Essa região compartilha de aspectos históricos, econômicos, sociais e até religiosos, e possui grande diferenciação sob o aspecto cultural quando comparada ao restante do continente africano.
Grande parte dessa região fez parte do Império Romano na Antiguidade e, antes disso, era parte do Império Macedônio de Alexandre. A partir da Idade Média, toda a região foi dominada por povos originários do Oriente Médio – califados e sultanatos se espalhavam por toda a costa mediterrânea da África, avançando até mais ao sul no continente. Todos os países do África Setentrional atualmente possuem uma população majoritariamente muçulmana.
Em termos climáticos, toda a região está situada no grande Deserto do Saara. A influência dos povos árabes é nítida não apenas no aspecto urbano ou arquitetônico, mas também no estilo de vida. Grandes cidades se concentram próximo ao Mediterrâneo, como Tripoli, Casablanca, Alexandria e outras, ou às margens do Nilo, no caso das cidades egípcias. Mais para o interior, penetrando no coração do deserto, aldeias e mesmo comunidades nômades ainda são comuns, repetindo um estilo de vida adotado pelos nativos do deserto há milênios.
Quase 200 milhões de pessoas vivem nos países da África Setentrional, sendo o Egito o país mais populoso, com cerca de 80 milhões de habitantes. O Sudão possui uma população próxima de 40 milhões de habitantes, seguido pela Argélia e pelo Marrocos, cada um com cerca de 33 milhões de habitantes. O Saara Ocidental, apesar de referenciado como um país, possui uma pequena população e é administrado pelo governo marroquino.
A forte influência e ocupação árabe ao longo da Idade Média e da Idade Moderna fez com que a grande maioria da população, ao contrário do restante do continente, fosse composta por caucasianos de ascendência árabe, persa e otomana.
Economicamente, a região possui grande importância econômica no cenário mundial – em especial por conta da produção de petróleo em dois dos países, a Líbia e a Argélia.
Nas últimas décadas, a política na região vem sofrendo um processo de revolução e democratização. Após 30 anos sob o comando de Hosni Mubarak (1981-2011), o Egito passou por revoltas e protestos em 2011 (Revolução do Nilo). Desde então, o país tem passado por um processo de redemocratização, com alternância de poder entre presidentes e partidos.
Também no ano de 2011, o ditador tunisiano Zine El Abidine Ben Ali deixou o poder, após comandar o país desde 1987 e refugiou-se na Arábia Saudita. O ano de 2011 ainda foi, finalmente, marcado pelo cerco e morte do ditador líbio Muammar al-Gaddafi, que controlava o país desde 1969. Esses acontecimentos se seguiram à onda de protestos e revoluções no mundo islâmico conhecida como Primavera Árabe.
África Ocidental – Oeste
A África Ocidental consiste nos países da costa atlântica do continente, compreendidos quase totalmente ao sul do Trópico de Capricórnio e ao norte da Linha do Equador, todos localizados na Zona Tropical norte.
É composta por 17 países, alguns com territórios menores na região costeira, ao norte do golfo da Guiné, como Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo e Benin; e outros com territórios mais extensos em sua região interior, como Mauritânia, Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria. Além disso, está incluído nessa regionalização o arquipélago de Cabo Verde.
Grande parte da população de mais de 300 milhões de pessoas da região está concentrada na Nigéria – um país cuja população praticamente se equipara à brasileira. Os países da região iniciaram um rápido processo de industrialização nos últimos vinte anos, criando uma explosão demográfica em torno dos centros urbanos, como Lagos, Cano e Abidjã, na Nigéria, Conacri, na Guiné e Dacar, no Senegal. Lagos hoje possui uma região metropolitana com cerca de 14 milhões de habitantes e algumas estatísticas apontam que poderá, em poucas décadas, estar entre as três maiores regiões metropolitanas do mundo.
Contudo, o crescimento rápido e desordenado e a falta de infraestrutura que marca a região levou à multiplicação de áreas urbana sem saneamento, eletricidade e onde as condições de vida são precárias, obrigando grande parcela da população a viver abaixo da linha de pobreza.
Sob o ponto de vista climático e ambiental, a região possui enorme diversidade. Os países mais extensos, no interior, como Mauritânia, Mali e Níger, ainda se encontram dentro dos domínios do Saara. Países mais litorâneos possuem uma vegetação tropical e um clima mais quente e úmido – e uma faixa de transição entre o clima desértico e o tropical abriga savanas e estepes, a exemplo do que ocorre com o cerrado no Brasil.
África Central
A África Central está localizada, principalmente, na Zona Equatorial, e apresenta grande parte de sua área recoberta pela floresta tropical africana, além de algumas regiões de estepes e savanas. Em muitos aspectos, lembra as florestas Amazônica e Atlântica em alguns de seus trechos.
Entre os países que formam a África Central estão: Angola, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Gabão e São Tomé e Príncipe.
A região é delimitada em sua porção oeste pelo Oceano Atlântico e, até as regiões interioranas, pela área montanhosa das placas Africana e da Somália. O clima é quente e úmido em grande parte da extensão dessa região, com predominância de um clima um pouco mais seca na zona planáltica. Ao contrário do norte africano, possui uma extensa e rica hidrografia.
Cerca de 170 milhões de pessoas vivem nessa região da África. Os países na região apresentam níveis distintos de desenvolvimento, que podem ser separados em dois grupos principais:
- Países em processo de industrialização recente e urbanização – Angola, Congo, Camarões, Chade, Gabão e São Tomé e Príncipe.
- Países com predominância agrícola e concentração rural da população – como República Centro-Africana, Guiné Equatorial e República Democrática do Congo.
Essa região possui um país que compartilhou colonização portuguesa com o Brasil – Angola. Ao contrário dos brasileiros, contudo, angolanos apenas proclamaram a sua independência do governo português entre 1974 e 1975, após a Revolução dos Cravos em Portugal, e o consequente fim da ditadura salazarista. A economia angolana, predominantemente agrícola até poucas décadas atrás, hoje foi impulsionada e concentra-se, principalmente, na exploração mineral – o que inclui o petróleo, o minério de ferro, diamantes, cobre e outros metais. O mesmo ocorre a outros países da região, como o Gabão e Guiné Equatorial.
Vale dizer que muitos dos escravos que foram trazidos às Américas no período colonial partiam da costa dessa região africana. Os escravos bantos, que constituíam muito da mão-de-obra escrava brasileira, eram originários de mais de 400 etnias distintas na África – boa parte delas vindas de áreas hoje englobadas por Angola e República Democrática do Congo. As religiões e a cultura de onde surgiram a umbanda e o candomblé também perduram até os dias de hoje em muitos países nessa zona da África.
África Oriental – Leste
A África Oriental é formada em grande parte pelos países africanos situados junto ao Mar Vermelho e por grande parte dos países da costa do Oceano Índico, incluindo os do Chifre da África: Eritreia, Djibuti, Somália, Etiópia, Sudão do Sul, os países da região do Lago Vitória e dos outros grandes lagos africanos – Uganda, Quênia, Ruanda, Burundi, Tanzânia e Malawi –, além dos territórios insulares de Seychelles, Comores, Maurício, Ilhas Reunião e a grande Ilha de Madagascar.
A África Oriental é a região da África onde há ainda a maior porcentagem de população rural – cerca de 75% dos 300 milhões de habitantes da área vivem em zonas rurais e, muitos deles, dependem ainda de práticas de subsistência que envolvem a agricultura, a pecuária e até mesmo a caça, pesca e coleta.
Quênia e Tanzânia, países com histórico de colonização germânica e britânica, podem ser considerados os mais desenvolvidos da região e, não por acaso, abrigam as duas maiores metrópoles da África Oriental: Dodoma, na Tanzânia, com cerca de 3,5 milhões de habitantes, e Nairóbi, no Quênia, com cerca de 3,3 milhões de habitantes.
Como a maior parte da população dessa região vive no campo, a base de produção desses países está assentada, principalmente, no setor primário, que é também o setor econômico que apresenta as maiores vulnerabilidades.
O chamado “Chifre da África“, ponto ao fim do Mar Vermelho e próximo da Península Arábica, ganhou notoriedade mundial em dois momentos distintos na história. Nos anos 1980 e 1990, seguidos episódios de crise humanitária e guerras civis colocaram a Etiópia em evidência. O país, assolado pela fome, foi alvo de inúmeras campanhas ao redor do mundo para reforço do apoio humanitário à região.
Outro aspecto de constante aparecimento em noticiários é a questão dos “Piratas da Somália“. O país possui uma das maiores zonas costeiras da África e, por sua localização, está situado num ponto estratégico para as rotas de navegação marítima mundiais. Quaisquer navios a atravessar o Canal de Suez, vindos da Europa, passam no litoral somali. O mesmo ocorre com navios que saem de toda a Ásia em direção à África ou Europa. A frequência de uso das rotas que cruzam a região criou um ambiente propício para a proliferação de “piratas” na costa da Somália. Na maioria dos casos, os piratas, embarcados em pequenos barcos, abordam navios mercantes e exigem o pagamento de resgates por sua liberação.
África Meridional – Sul
A África Meridional está localizada nas proximidades do Trópico de Capricórnio, dividindo os territórios africanos dessa região entre as zonas tropicais e subtropicais. É banhada a oeste pelo Oceano Atlântico, e a leste, pelo Oceano Índico. Na época das Grandes Navegações, o extremo sul era conhecido como o Cabo da Boa Esperança, sendo a única maneira de atingir o Oceano Índico a partir da Europa.
A África Meridional tem cerca de 108 milhões de habitantes, distribuídos entre Zâmbia, Moçambique, Zimbábue, Botsuana, Namíbia, Eswatini, África do Sul e o enclave de Lesoto.
A África do Sul é o país mais populoso, com cerca de 50 milhões de habitantes, o que corresponde a quase 50% de toda a população da região. O país destoa de todo o sul africano, possuindo uma economia forte e vibrante.
Em termos paisagísticos, a África Meridional tem grande diversidade natural, com a presença de áreas de savanas, regiões desérticas e de vegetação mediterrânea em sua porção subtropical, bastante diferenciada do restante do continente.
Essa região é também bastante rica em minérios, principalmente os de grande valor comercial, o que fez com que fosse bastante disputada entre as potências europeias durante o Período Colonial.
Economicamente, trata-se de uma região que historicamente possui laços estreitos com a Europa. A despeito dos inúmeros idiomas e dialetos locais, tem o inglês e o afrikaaner com línguas correntes. O seu principal país e eixo, a África do Sul, é mundialmente conhecida em razão do antigo regime do Apartheid e, após esse período, pelo ex-presidente Nelson Mandela.
Por: Carlos Artur Matos