Religião

Sincretismo Religioso no Brasil

Com a fusão de elementos culturais e religiosos, o sincretismo religioso no Brasil nasceu com a chegada dos primeiros colonizadores portugueses que trouxeram os ensinamentos do catolicismo. Com a presença dos escravos africanos, ao lado dos indígenas, esse processo se intensificou. Os africanos vinham de diversas partes do seu continente e trouxeram consigo diversas crenças, as quais se modificaram no Brasil Colonial.

O que é sincretismo religioso

De acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss, sincretismo religioso é a fusão de diferentes visões de mundo, cultos ou doutrinas, com reinterpretação de seus elementos.

Diferentes crenças são fundidas para formar uma nova, que mantém os traços das originais ao manter rituais e superstições.

Uma curiosidade: sincretismo é uma palavra vinda do francês syncrètisme que, por sua vez, derivou do grego sygkretismós: “reunião das ilhas de Creta contra um adversário em comum”.

História do sincretismo religioso no Brasil

Os africanos de diferentes nações trazidos para a colônia também iriam assistir a mudanças em suas religiões originais com a troca e a difusão de divindades. Enquanto isso não acontecia, havia a influência deliberada da Igreja Católica, representante da religião oficial.

Muitos senhores não se opunham às festividades e manifestações religiosas de escravos: as diferentes crenças das nações africanas serviam para manter a rivalidade entre elas, o que dificultava a união, os levantes e as fugas. Fazer vista grossa aos batuques e danças também era a atitude de alguns padres que esperavam atrair os trabalhadores escravizados para a doutrina católica. No entanto, mesmo batizados, os escravos não abriram mão de sua fé nos orixás de sua terra natal.

Não foi sempre assim a benevolência de patrões e padres: os negros escravizados também foram castigados por suas crenças. Nesse ponto, o sincretismo funcionou como disfarce: enquanto adoravam seus deuses, os negros fingiam prestar homenagem aos santos católicos. Assim é possível compreender porque vários santos são identificados com divindades de origem africana.

Sempre sob o preconceito da elite, as religiões africanas foram classificadas como um modelo religioso atrasado e a Igreja Católica sempre se sobrepôs ao candomblé. Na Bahia, essa miscigenação cultural é mais acentuada e melhor aceita que nos demais estados brasileiros. Por exemplo, o caso da Lavagem das Escadarias do Bonfim, uma tradição incorporada pela Igreja Católica, data de quando os escravos, que reverenciavam Oxalá (o maior de todos os orixás), eram obrigados a lavar os degraus da Igreja antes da festa de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador. Hoje a lavagem dos degraus é feita por baianas tradicionais e filhas de santo.

Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, Bahia, mostrando as tradicionais fitas da sorte amarradas em torno dela.

Segundo o antropólogo Fábio Lima, “a religião se molda segundo a sociedade em que está inserida. Uma missa, como a que ocorre nas igrejas baianas onde se pode ver diversidade religiosa (povo de santo [do Candomblé] em meio aos católicos), jamais aconteceria de forma tão bem aceita em outro estado. Isso é possível graças à formação cultural do povo baiano (que envolveu principalmente os escravos e os portugueses)”.