Sabe aquela pintura que você olha e não entende o que foi pintado ali? Provavelmente, é uma arte abstrata. Qual será a intenção do artista com essa obra? O que será que ele quis dizer com aquelas formas e aquelas manchas? Aprenda qual a importância do abstracionismo para a arte
Surgimento e características
A arte abstrata ou abstracionismo surgiu no início do século XX, com o intuito de negar a estética naturalista, a figuração e as coisas reais – cor, luz e sombra, objetos – que ainda estavam presentes na pintura.
De modo geral, massas de cor, a simplificação das formas, dinâmica de linhas e a decomposição da figura caracterizavam esse tipo de pintura.
Pode-se dizer que a arte abstrata surgiu a partir de três vertentes:
- Do Expressionismo, que estava vinculado ao o uso da emoção e do sentimento na produção artística;
- Do Fauvismo, que utilizava a cor de maneira pura, sem misturas e sem se preocupar com tonalidades de claro e escuro ou se estava parecido com o real;
- E do pensamento racionalista do Cubismo, que desconstruía figuras e elementos, tirando a perspectiva das pinturas.
Kandinsky e o Der Blaue Reiter
Wassily Kandinsky é considerado o pioneiro da pintura não figurativa. É fundador do grupo Der Blau Reiter (“O cavaleiro azul”), que foi influenciado pelo Expressionismo e pelo Fauvismo. Kandinsky criava “rabiscos” em seus primeiros trabalhos, remetendo ao desenho de uma criança no período em que ela ainda não tem um pensamento racional.
Paul Klee também fazia parte do grupo e tinha uma pesquisa parecida com a de Kandinsky, apesar de terem um trabalho diferente. Eles buscavam defender as formas que não se relacionam com a natureza.
Segundo o conceito do grupo, as formas surgem a partir dos impulsos interiores, das sensações e emoções, e não necessariamente precisam remeter a nenhum objeto literal. Cada forma já carrega em si um significado. A cor era vista como algo independente, que assim como a forma, tem uma carga de emoção, significado e consegue passar alguma sensação ao espectador.
Vanguardas russas – Suprematismo e Construvismo
O Suprematismo e o Construtivismo foram vanguardas russas que surgiram em 1915 e mantinham uma relação política, revolucionária. Foram influenciados pela Revolução de 1917.
Kasimir Malevich, artista que fundou o Suprematismo, defendia a abstração absoluta e estudava a estrutura funcional da imagem, em busca da forma perfeita. Essa pesquisa realizada pelo artista, utilizando formas puras, resulta em obras como Branco sobre branco, Quadrado preto sobre fundo branco, entre outras.
Para Malevich, a função do artista deve ser espiritual e educativa e deve chegar até o povo utilizando órgãos públicos, como museus e escolas.
Malevich decretou o fim do movimento, em 1918, porque acreditava que já tinham sido esgotadas todas as possibilidades de pesquisa.
Já o Construtivismo foi fundado por Vladimir Tatlin e eles defendiam a ideia de que todo tipo de arte tem o mesmo valor: pintura, escultura, arquitetura. Com isso, criavam obras utilizando materiais industriais, como o metal, vidro, plástico. Para o Construtivismo, a arte deve estar a serviço da Revolução. A ideia é que ela possa servir ao povo, fabricar coisas para a população.
Após a morte de Lenin, em 1924, Stalin assume o poder e proíbe a pesquisa da arte, que se limita apenas a servir o governo, com cartazes de propaganda política e cultural.
Neoplasticismo
O Neoplasticismo foi fundado por Theo van Doesburg, na Holanda, em 1917 e logo depois teve adesão do artista Piet Mondrian. Juntos, fundaram a revista De Stijel, onde foi publicado um texto de Mondriam com o título “A nova plástica da pintura”, em que o artista fala de uma nova forma de expressão plástica. As formas são claras e precisas e compostas por elementos mínimos, como a linha reta, retângulos e apenas as cores primárias (azul, amarelo e vermelho), preto, branco e cinza.
Mondrian teve influências do Cubismo, porém suas pinturas sintetizavam as formas ainda mais; ele chegou a um nível de abstração bem maior que a do movimento que o influenciou. Suas pinturas apresentam relações entre as cores, os vazios (branco) e o preto, que não deixa que as cores se encontrem e interfiram umas nas outras. Suas composições possuem precisão matemática, que nos passa significados e sensações de acordo com a maneira que observamos: mais próximos ou mais afastados da obra.
O Neoplasticismo deixou de existir em 1928, quando a revista Stijel parou de circular. Mas nessa época, apenas Theo van Doesburg ainda fazia parte do movimento.
Tachismo
O Tachismo surgiu no período pós-Segunda Guerra Mundial, na Europa, com o intuito de romper com os modelos anteriores da arte. O nome do movimento vem do francês tache, que significa mancha.
As pinturas desse período valorizam o gesto espontâneo, o instinto do artista no momento da produção. É possível imaginarmos, ao olhar a pintura, os movimentos que os artistas fizeram. Um artista importante que representa esse tipo de pintura é Hans Hartung.
Esse tipo de abstração é também chamada de abstração informal, no sentido de que não tem uma forma definida.
A matéria-prima utilizada para a pintura também foi explorada. Alguns artistas davam mais prioridade ao gesto e outros à pesquisa do material, criando texturas, camadas e utilizando novos materiais. Jean Dubuffet criou diversas pinturas e esculturas a partir dessas referências.
Jean Dubuffet foi um artista francês que se inspirava na arte das crianças e dos loucos. Seus trabalhos tinham formas irregulares e desenhos simples.
Saiu em busca de novas formas de arte e encontrou o que nomeou de arte bruta: feita por pessoas que não fazem parte do meio artístico, que não possuem referências culturais e históricas sobre arte e buscam ideias e temas no seu próprio interior, como crianças, loucos e pessoas solitárias.
Expressionismo Abstrato
Nos Estados Unidos, logo após a Segunda Guerra Mundial, alguns artistas se uniram e criaram o Expressionismo Abstrato. Em comum, todos tinham a ideia de ir contra os estilos e técnicas tradicionais da pintura e uma crítica à sociedade norte-americana.
Muitos artistas europeus foram para os Estados Unidos levando referência do que acontecia na Europa e isso influenciou o surgimento desse movimento. Foi o primeiro movimento norte-americano a ser conhecido internacionalmente; os Estados Unidos estavam virando uma das principais potências mundiais e a produção artística de lá acompanhou o desenvolvimento do país.
Um dos artistas mais importante desse movimento foi Jackson Pollock. Ele subverteu o papel do pintor, que utilizava o cavalete como suporte para as telas. Pollock estendia suas telas no chão e, para pintar, jogava, gotejava e espirrava tinta. Para isso, era necessária uma movimentação, tanto do braço que segurava o pincel quanto do corpo, que percorria entorno do suporte.
Arte abstrata no Brasil
No Brasil, a arte abstrata tomou corpo no início da década de 1950, quando houve a primeira Bienal de Arte de São Paulo, em 1951. No evento, trabalhos figurativos dividiam espaço com obras abstratas, fazendo com que o povo aceitasse essa nova vertente da pintura.
Nessa época, o figurativo ainda era muito trabalhado e artistas como Portinari, Lasar Segall e outros modernistas não aceitavam a abstração. Em 1952, foi inaugurada no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo a exposição “Ruptura”, que definiu o início oficial da arte concreta no Brasil. Além do artista Waldemar Cordeiro, o cabeça do grupo, Lothar Charoux, Anatol Wladyslaw, Geraldo de Barros e Luiz Sacilotto participaram da exposição e do grupo Ruptura.
Esses artistas eram adeptos à arte abstrata e mantinham os mesmos princípios dos outros movimentos que surgiram na Europa: ir contra o Naturalismo. Porém, no caso deles, iam contra também à abstração informal. Esse grupo influenciou o Grupo Frente, do Rio de Janeiro, que foi responsável por fundar o movimento Neoconcreto. Nele, as várias formas de abstração eram aceitas.
Artistas como Lygia Clark, Lygia Pape, Abraham Palatnik e Hélio Oiticia faziam parte do grupo.
Sem pertencer a nenhum desses grupos, outros artistas brasileiros se dedicaram à pintura abstrata. Tomie Ohtake e Manabu Mabe sofreram forte influência do Tachismo. Os dois artistas nasceram no Japão, mas vieram para o Brasil e foram naturalizados brasileiros.
Por: Wilson Teixeira Moutinho