Artes

Arte Africana

A arte africana é um conjunto de manifestações artísticas produzidas pelos diversos povos da África e datam do Período Pré-Histórico. Apesar de desenvolveram-se na África desde tempos remotos, só ganhou visibilidade no Ocidente a partir do século XX. No Brasil, artistas de origem negra começaram a se manifestar na época do Barroco.

Características

Uma das características da arte africana é o fato de ser produzida em pequena escala dentro de sociedades tradicionais. Embora os estudiosos se refiram a uma arte africana em geral, a unidade deve ser relativizada pela coexistência de estilos diferentes de cada grupo social.

Suas formas artísticas mais antigas são as pinturas, gravações em pedra e esculturas de argila e bronze, que refletem fielmente histórias, mitos, crenças e costumes desses povos. Para produzir os objetos artísticos, eram usados marfim, madeira, ouro e bronze, com temas do cotidiano e temas religiosos.

escultura é a mais importante manifestação artística desses povos, que utilizam, para confeccionar suas peças, madeira associada a outras técnicas, como pintura, colagem e cestaria. Entre os objetos produzidos, as máscaras são as formas mais conhecidas e são usadas em rituais carregados de misticismo e crenças.

Atualmente, tem-se a falsa impressão de que a arte africana se resume às esculturas. Na realidade, desde os tempos pré-coloniais, a arquitetura predominou como forma de arte. Exemplo dessa arquitetura são as magníficas mesquitas de argila de Mopti, em Mali, e as igrejas esculpidas em rocha na Etiópia. A pintura também se desenvolveu no continente. Os temas são variados. Algumas formas são geométricas, outras reproduzem cenas de caça ou de guerra.

Máscaras e arte africana

As máscaras são o elemento mais distintivo da arte africana. É sobretudo na Nigéria e no Congo que existe a tradição das máscaras. As mais antigas datam do século VI antes de Cristo.

Máscara africana.
Máscara Mbuya, do Zaire, coleção particular.

As máscaras são trabalhadas em vários materiais, como argila, marfim e metais. Mas a madeira é a principal matéria-prima. Além do valor artístico, as máscaras têm significados simbólicos. Muitos africanos acreditam que elas protegem quem as carrega. Elas também teriam a faculdade de captar a força vital de um ser humano (ou animal) no momento da morte e redistribuí-la à sociedade.

Esse valor simbólico perdeu-se no Ocidente, que, no entanto, deixou-se fascinar por seus mistérios.

As máscaras africanas tiveram grande impacto sobre a produção de artistas europeus de vanguarda. Pablo Picasso deixou clara a influência da arte africana em seu trabalho. O cubismo, movimento que liderou a partir de 1907, tem elementos de máscaras e esculturas africanas que ele conheceu poucos anos antes.

Arte africana no Brasil

Durante muito tempo, entre os séculos XVII e XIX, os artistas negros no Brasil produziram obras de acordo com padrões europeus. Eram escravos ou descendentes de escravos que aprenderam o ofício com portugueses ou outros europeus. Para o estudioso e artista plástico Emanoel Araújo, durante esse período as manifestações afro-brasileiras são em geral anônimas, “saem de um inconsciente coletivo”. Ele cita como exemplo os ex-votos do Nordeste.

Ex-voto é a abreviação latina de ex-voto suscepto e quer dizer “o voto realizado”. O termo, significa qualquer tipo de obra popular, como pintura ou estatueta, doada a alguma divindade como forma de agradecimento por uma graça alcançada. Em geral, o ex-voto tem uma placa descrevendo o motivo da obra.

Entre artistas negros ou mestiços que se expressaram segundo padrões europeus, o mais destacado é Aleijadinho, que usou uma forma europeia, o Barroco, para realizar obra marcadamente brasileira.

Outros artistas foram os acadêmicos José Teófilo de Jesus (c, 1758-1847) e Estêvão da Silva (c. 1845-1891). Nascido em Salvador, Teófilo de Jesus estudou com José Joaquim da Rocha, descendente de português e um dos pintores de motivos religiosos de maior prestígio na Bahia do século XVIII. Foi ele quem levou Teófilo de Jesus a Lisboa, onde frequentou a Escola de Belas Artes. Sua obra é marcada pela transição entre o Barroco e o Neoclassicismo.

Estêvão da Silva estudou na Academia Imperial de Belas Artes, onde foi aluno de Vítor Meirelles. O escritor Arthur Azevedo o chamava de Diamante Negro. Ficou conhecido por ter recusado, em 1879, um prêmio secundário do imperador dom Pedro II. Enfrentou o preconceito, fato que não transparece em sua obra. Estêvão da Silva é considerado um dos melhores pintores de naturezas-mortas do período, retratando quase sempre frutas tropicais.

Foi só a partir do século XX que artistas negros da diáspora começaram a produzir obras autorais com maior identidade étnica. E o caso de Mestre Didi (1917) e de Rubem Valentim (1922-1991).

Escultor e ensaísta, Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi, é considerado um sacerdote-artista. “Ele exprime, por meio da criação estética, arraigada intimidade com seu universo existencial, onde a ancestralidade e a visão de mundo africanas se fundem com sua experiência de vida baiana. Completamente integrado ao universo nagô de origem iorubá, revela em suas obras uma inspiração mítica, material”, segundo a antropóloga Juana Elbein dos Santos, sua mulher. Mestre Didi é reconhecido mundialmente como artista de vanguarda e tem obras expostas no Museu Picasso, de Paris. Costuma trabalhar com contas, búzios e couro.

Dan II, a serpente do além, de Mestre Didi, 1999. Coleção particular.

Também nascido em Salvador, Rubem Valentim foi autodidata. No início dos anos 1950 fazia uma pintura não-figurativa de base geométrica, num tempo e numa cidade em que o abstracionismo não era bem-aceito. Mais tarde, morou no Rio e na Europa. Valentim trilhou a fronteira entre o popular e o erudito, atento à ancestralidade africana. Dizia que sua fonte era afro-ameríndia-nordestina-brasileira.

Por: Paulo Magno da Costa Torres

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