O Barroco é um período na história cultural do Ocidente que vai de 1600 até a segunda metade do século XVIII, aproximadamente. Durante essa época, desenvolve-se um estilo artístico muito difícil de definir, dada a diversidade de condições religiosas, políticas, sociais e culturais de cada lugar onde ele se desenvolveu.
Os elementos formais empregados por todas as formas da arte barroca são herdeiros do classicismo renascentista, mas sua utilização tende a ser grandiosa e sedutora aos sentidos, seja pela complexidade acumulativa e simbólica, seja pelo virtuosismo naturalista das aparências.
Características da arte barroca
A arte barroca utilizou a temática religiosa e as cenas extraídas da vida cotidiana, buscando a integração entre as disciplinas artísticas, renunciando à harmonia individual em benefício da harmonia do conjunto, o que favoreceu, em especial, a articulação entre pintura, escultura e arquitetura.
O estilo barroco promoveu a liberação do espaço, o que se refletiu no livramento intelectual das normas dos tratados e das convenções da geometria elementar praticadas até então. Houve a desobrigação com a simetria e com o contraste entre os espaços exterior e interior, ou seja, a arte barroca tratou de atender ao desejo de libertação artística num jogo de conflitos e contradições e assumiu um sentido psicológico.
Este período artístico foi marcado pela saída do mecenato das mãos da Igreja Católica para se estabelecer nas mãos da aristocracia.
Alguns aspectos comuns prevaleceram na arte barroca: o predomínio da razão sobre a emoção, a representação do drama humano trazida à cena pela expressividade do gesto teatral grandiloquente, pelos exageros, pelos excessos de sua ornamentação vivaz, pela monumentalidade das dimensões iluminadas, extraordinariamente, por uma progressão de claro-escuro e pelo vigor de suas combinações cromáticas e texturas, no dramático movimento retorcido das formas espiraladas, das curvas e das diagonais, que deram dinamismo à obra, demonstrando perfeito domínio sobre o uso do espaço.
Pintura barroca
A pintura barroca tem uma tal diversidade de técnicas, estilos e funções que se toma difícil encontrar características que unifiquem as diferentes escolas.
Na Itália, assim como em todo o mundo católico, adquire muita importância a pintura religiosa, destinada a familiarizar o fiel com a visão do sobrenatural e com os temas que ressaltam a glória do poder divino.
Paralelamente, também se refletiu sobre a vaidade dos triunfos mundanos, às vezes por meio de cenas de gênero (temas da vida diária) e de naturezas-mortas, que tiveram desenvolvimento singular na época. Também adquiriram importância a pintura mitológica e a histórica, assim como o retrato.
A pintura barroca do século XVII divide-se entre a representação realista e a inspiração na Antiguidade:
- o naturalismo, representado pela genial figura de Caravaggio, que radicaliza as tendências esclarecedoras e populistas da Contrarreforma;
- e o classicismo, que teve em Annibale Carracci seu principal defensor, recuperando a tradição clássica, com um sentido harmônico da beleza, como encarnação de um pensamento.
Escultura barroca
A escultura barroca apresenta grande diversidade de temas. Há esculturas ornamentais, alegóricas ou mitológicas, e retratos, especialmente em igrejas e túmulos. O material mais usado é o mármore, do qual se aproveitam todas as possibilidades de cor e textura.
O bronze é o segundo material mais utilizado. Formalmente, trata-se de uma escultura naturalista, carregada de expressividade nos gestos, que insinua movimento e possui figuras cheias de energia e vitalidade formando composições complexas e teatrais, que transmitem ao observador grande instabilidade.
No início do século XVII, vários escultores buscam afastar-se da sofisticação maneirista em busca da simplicidade. É o caso de Stefano Maderno (1576-1636), autor de Santa Cecília, peça que já aponta para a paixão pelo corpo e o êxtase dos santos, forte característica do Barroco.
Arquitetura e escultura muitas vezes caminharam juntas no Barroco italiano, como com Bernini, que uniu as duas artes ao projetar tumbas papais.
Arquitetura barroca
A arquitetura barroca foi concebida para gerar uma ilusão sensorial que cative e emocione. Para que isso ocorresse, os arquitetos seguiram algumas regras:
- Cor e textura têm sempre muita importância na escolha dos materiais, já que o objetivo é produzir uma impressão de enriquecimento e ostentação; para isso, são utilizados mármores coloridos, combinados com metais e elementos dourados.
- Há um sentido rítmico nas fachadas e nos muros, com efeitos dinâmicos obtidos por meio de curvas côncavas e convexas que buscam a continuidade espacial. Há ainda o uso de elementos que criam ilusões ópticas, efeitos de luz e sensação de que certos elementos arquitetônicos estão flutuando em relação ao resto da construção, caso, por exemplo, das cúpulas.
- A complexidade do repertório formal, que supõe uma escala gigantesca, monumental, além de colunas salomônicas e entalhamentos em curvas.
- A profusão decorativa, com abundância de motivos vegetais, cortinagens e elementos sobrepostos à estrutura, ainda que cumpram, muitas vezes, funções meramente cenográficas.
Empregou-se também a luminosidade, que atravessa as janelas de modo a evidenciar as mais importantes esculturas. Por meio do movimento espiralado encontrado nas colunas, conseguiu-se conduzir à sensação de movimento e grandiosidade; instituiu-se um monumental portal e o sino foi deslocado da área central para a dianteira.
A partir de 1630, começaram a se multiplicar as plantas ovaladas e elípticas de menor tamanho, que, rapidamente, se tornariam características desse estilo. Além de Bernini, também se destacaram, na arquitetura barroca, os italianos Borromini e Pietro da Cortona.
Em relação à arquitetura palaciana, a edificação era organizada em três pavimentos, diferentemente da renascentista, que utilizava um único bloco. Os palácios apresentavam diversas colunas e janelas que se repetiam e eram cercados por imensos e ricos jardins, numa perfeita simbiose que abriu caminho para o estilo neoclássico, que viria a seguir.
Edificado durante o reinado de Luís XIV (o Rei Sol), o Palácio de Versalhes tornou-se um símbolo do absolutismo monárquico e é a edificação mais representativa do Barroco. Ele foi projetado pelo arquiteto francês Louis Le Vau (1612-1670) e, após sua morte, concluído por Jules Hardouin-Mansart (1646-1708). O Palácio de Versalhes foi um castelo real. Hoje abriga um museu e seu edifício é Patrimônio Mundial tombado pela Unesco.
Arte barroca no Brasil
O estilo barroco no Brasil manifestou-se tardiamente e evidenciou a fase de maior efervescência artístico-cultural no período colonial. Seu apogeu ocorreu no século XVIII, mas se manteve até a chegada da missão francesa, em 1816. Enquanto isso, na Europa, o estilo barroco já não era mais usado e dava espaço para o retorno do modelo artístico clássico.
Representado pela arte icônica sacra, pelas pinturas e pelas igrejas em Pernambuco, na Bahia, no Rio de Janeiro e, principalmente, em Minas Gerais, o Barroco no Brasil determinou seu próprio caminho de propagação, variando de uma região para outra, transformando-se e fundindo-se com os estilos maneirista e rococó.
Nas regiões que comercializavam açúcar e ouro, as igrejas eram ricamente decoradas com talhas douradas e esculturas minuciosamente trabalhadas. Nas regiões onde esse comércio era menos intenso, as igrejas eram mais modestas.
O ciclo do ouro favoreceu sobremaneira a produção da escola mineira, que é tida como a mais importante do período. Revelando-se reservadamente nas fachadas, o Barroco brasileiro abrigou proporções de grandiosidade e esplendor em seus interiores ricamente cobertos de ouro.
Antônio Francisco Lisboa, popularmente conhecido como Aleijadinho é considerado o maior artista no período colonial do Brasil e um dos mais importantes da arte brasileira ao longo dos tempos. Foi escultor, entalhador, desenhista e arquiteto.
Outro grande nome desse período foi Manoel da Costa Ataíde, mais conhecido como Mestre Ataíde. Ao retratar uma madona mulata, representando Nossa Senhora cercada por inúmeros anjinhos igualmente mulatos, no teto da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, demonstrou, pela coragem de suas pinceladas, os primeiros traços étnicos de nosso povo, confirmando o princípio de nossa identidade cultural.
Outros grandes nomes da fase barroca brasileira são: Frei Jesuíno do Monte Carmelo, pintor e arquiteto, em São Paulo; Mestre Valentim, escultor, entalhador e arquiteto, no Rio de Janeiro; Caetano da Costa Coelho, pintor, no Rio de Janeiro, José Joaquim da Rocha, pintor, na Bahia.
Por: Paulo Magno da Costa Torres