A arte grega inaugura uma nova forma de representação estética, fundamentando-se na inteligência e no uso da razão, refletindo uma sociedade que desenvolveu o senso de justiça em prol do bem-estar de seu povo, base do regime democrático, um dos grandes legados gregos deixados à humanidade.
O principal objeto de estudo e representação artística pode ser identificado a partir da máxima do sofista grego Protágoras, que afirmava ser o homem “a medida de todas as coisas”. Assim fez-se a arte grega: o homem passou a ser o tema principal de suas obras.
Ao contrário dos egípcios, os gregos não tinham obsessão pela vida após a morte. Procuraram valorizar o prazer da vida presente, incorporando elementos da natureza, observada em todos os seus ângulos, destacando o equilíbrio, o ritmo e a harmonia, valores que evidenciam a busca pela perfeição.
É em nome dessa perfeição que se introduz o nu na arte, com inspiração nos corpos atléticos dos jovens. Com isso, criaram-se as bases para uma sociedade de artistas e intelectuais autônomos e extremamente criativos, libertos das restrições e convenções impostas pela estética e pelas necessidades religiosas, o que levou a arte grega a evoluir ao longo da história dessa civilização. O humanismo e o tempo presente, tão valorizados pelos gregos, foram a inspiração da civilização ocidental que conhecemos.
A arte grega desenvolveu-se em três períodos históricos: o arcaico, o clássico e o helenístico, que correspondem ao surgimento, à afirmação e à decadência da polis grega, submetida ao domínio dos macedônicos, período que se estende entre os séculos VIII e III a.C. O século V a.C. foi considerado o mais criativo da cultura grega, denominado “Século de Péricles”. Antes disso, ocorreu o processo de formação do povo grego, responsável por apurar os valores estéticos que viriam a se desenvolver nos períodos citados.
A pintura grega
A pintura grega estudada é aquela produzida nos vasos e utensílios cerâmicos do dia a dia. Essa cerâmica prestava-se a rituais religiosos e, também, para armazenar água, vinho, azeite, grãos e outros mantimentos.
A importância artística da cerâmica grega, tanto intrínseca quanto em relação à pintura, mantém-se nos séculos seguintes. Nomes de oleiros e decoradores são conhecidos até hoje, o que revela a reputação que possuíam.
Os vasos recebem nomes distintos, segundo sua forma: ânforas, crateras, hídrias, kylix, entre outros.
A partir do século VIII a.C., desenvolve-se em Corinto a técnica das figuras negras, mais tarde bastante difundida: com a argila ainda mole realizam-se incisões que descrevem partes do corpo ou vestimentas, o que permite superpor várias figuras e conseguir maior complexidade narrativa, como no Vaso François, composto de frisos com cenas mitológicas, como o cortejo aos deuses, que comparecem ao casamento de Tétis e Peleu, pais de Aquiles.
A partir do século VI a.C. surge o uso da cerâmica de figuras vermelhas: o fundo é coberto de negro, de onde se destacam as figuras, deixadas na cor avermelhada do barro. Os detalhes interiores são pintados.
A escultura grega
Na maioria das vezes, a escultura grega representa a figura humana. Sua motivação é incerta, ainda que se suponha que as primeiras imagens de madeira, chamadas xoanas, tenham sido oferendas.
A época arcaica
Em meados do século VII a.C. aparece o kuros, representação em pedra de um homem jovem desnudo, de pé, com uma perna à frente, em uma rígida posição frontal e com os braços estendidos ao longo do corpo. A postura e caracterização anatômica tendem ao geométrico, ainda que os músculos sejam salientes e possua um sorriso peculiar.
Tais estátuas representavam jovens que tinham alcançado a imortalidade, seja por morte violenta, seja por vitória desportiva; a fama, a virtude reconhecida, em grego areté, é o único consolo diante da morte. Também existia seu correspondente feminino: a koré. Vestida pudicamente, é uma imagem votiva, tendo como função apresentar oferendas.
O período severo
Na primeira metade do século V a.C, as superfícies simplificam-se e a rigidez começa a desaparecer, ainda que as peças passem uma imponência característica. Também aparecem novos materiais, como o bronze e o mármore, e novos temas.
O Auriga de Delfos, parte de monumento que comemorava vitória em corrida de quádrigas, é um exemplo: destaca-se o cuidado naturalista de alguns detalhes e a composição equilibrada.
O momento clássico
Feitas de bronze, as mais famosas esculturas isoladas da segunda metade do século V a.C. são conhecidas, entretanto, a partir de cópias romanas em mármore. Só os relevos que decoram os templos permitem ver as obras originais.
No Partenon, importante templo grego, trabalhou Fídias, o artista mais famoso à época, autor da escultura de Atena Partenos (Atenea Parthenos). No frontão oriental está representado o nascimento de Atena e, no ocidental, a disputa de Atena e Poseidon pelo domínio de Ática; e, por fim, nos frisos, a procissão das festas Panateneias. A composição das figuras é harmônica e equilibrada, havendo tratamento psicológico dos rostos e uma extraordinária plasticidade na modelagem.
Miron alcançou notoriedade por seu Discóbolo, que representa um herói dos jogos, no momento de lançar seu disco: trata-se de uma composição complexa, que reproduz a concentração de um instante de tensão dinâmica, onde o rosto permanece alheio ao esforço. Policleto escreveu o primeiro tratado sobre a escultura, refletindo sobre o cânone da beleza das proporções do corpo. Segundo ele, o corpo devia medir sete vezes o tamanho da cabeça. Um testemunho disso é Doríforo, uma representação ideal da figura humana, onde se alcança um equilíbrio rítmico entre as partes do conjunto.
A arquitetura grega
O templo constitui o edifício mais representativo da arquitetura grega. Apesar da independência política das pólis (cidades), a arte revela a existência de um panteão comum de deuses e uma mesma cultura.
Origem e função do templo grego
O rito religioso, ao ar livre, precisava de um altar para os sacrifícios, uma habitação alargada, o oikos, para hospedagem coletiva e acolhida da estátua de culto e das oferendas, e um recinto sagrado, o témenos, dotado de portas monumentais, ou propileus.
O oikos é o ponto de partida do templo: inicialmente possuía um pórtico com apenas duâs colunas (in antis), mas depois se monumentaliza: com apenas colunas na fachada principal é chamado próstilo e, segundo o número de colunas, possui distintas denominações: distilo, se tem duas; tetrástilo, se são quatro; exástilo, se seis, e assim por diante. Caso também possua colunas na fachada dos fundos, denomina-se anfipróstilo; com o tempo, acaba por ser rodeado por colunas que formam um perístilo, sendo então o templo chamado de períptero. O interior, onde está a imagem do deus, se chama cela. Com o tempo, foi acrescentado o pronaos, uma espécie de vestíbulo, e o apisthodomus, espaço nos fundos para oferendas.
O templo grego é a casa de um deus, cujo culto se realiza no exterior. Foi concebido para ser visto desde o lado de fora, daí a importância que adquirem os volumes externos e os detalhes construtivos decorativos.
As ordens
O templo assenta-se sobre um embasamento, o crepidoma, provido de dois degraus, ou estereóbato; a parte superior se chama estilóbato. A ordem, conjunto de normas bastante concretas sobre a forma, proporção e decoração do edifício, é o que configura seu aspecto. As ordens gregas são: dórica, jónica e coríntia.
A ordem dórica
A coluna dórica tem fuste estriado, com aresta viva, e um alargamento na parte central (éntasis). Não possui base e, assim, apoia-se diretamente sobre o estilóbato. O capitel é composto de várias saliências – a gola, que o separa do fuste, o equino, de forma semicircular convexa, e o ábaco, prisma quadrangular – sobre as quais pousa o entablamento, composto por uma arquitrave lisa e um friso decorado com molduras verticais, chamadas tríglifos, e motivos figurados pintados ou esculpidos, chamados métopas. O capitel também possui uma cornija, cujo frontão se decora com um entalhe escultórico.
A ordem jónica
A coluna jónica é mais esbelta, com o fuste estriado e sem êntasis. Apoia-se sobre uma base, com duas saliências convexas, os toros, e uma côncava, chamada escócia, e um plinto em forma de paralelepípedo.
O capitel se destaca por seu característico equino, com decoração de óvalos e duas volutas. No entablamento, a arquitrave está formada por três faixas horizontais, sobre as quais pode haver um friso com decoração contínua.
A ordem coríntia
A coluna coríntia diferencia-se da jónica pelo capitel: o equino ou coxim é formado por folhas de acanto, dispostas em duas ou mais fileiras, sendo as superiores enroscadas, formando o que se chamam caulículos.
Com o objetivo de obter harmonia e equilbrio perfeitos, os gregos fizeram ajustes para compensar os defeitos de percepção do olho humano, como a ligeira elevação do centro, para conseguir-se um efeito de absoluta horizontalidade, ou a levíssima inclinação das colunas, para se conseguir a máxima verticalidade ótica.
Espaço urbano, teatro e outros edifícios
Toda a arquitetura grega tem forte dimensão perceptiva externa. Por esse motivo, o aspecto estético externo das edificações é tão importante quanto o espaço funcional de seu interior, servindo como marco da cidade.
As primeiras cidades ocuparam lugares escarpados que facilitaram sua defesa; eram cidades muradas e as edificações se distribuíam de maneira desordenada. Na expansão grega pelo Mediterrâneo, no momento do estabelecimento de novas colônias e na reconstrução impulsionada depois das grandes guerras, aplicou-se o traçado ortogonal, isto é, aquele em que as vias se cortam em ângulo reto, formando quadras de tamanho regular. O caso mais conhecido é o da cidade de Mileto, cujo plano foi desenhado por Hippodamos no século V a.C.
As primeiras cidades gregas possuíam, além de um ou mais templos, uma série de lugares que revelam a importância concedida à vida urbana. O principal espaço público, cenário da política e do comércio, era a ágora, espécie de praça, às vezes rodeada de pórticos com colunas, denominadas stoas.
Além dos edifícios destinados a atividades desportivas, teve particular importância o teatro ao ar livre, destinado tanto a representações dramáticas como a reuniões. O que chegou ao presente de forma mais conservada foi o de Epidauro, datado do século IV a.C, que aproveita o desnível do terreno na construção das arquibancadas ou théatron, que rodeiam o espaço circular da orchestra, na parte mais baixa, onde se localiza o coro. A frente está a skené, ligeiramente elevada, onde se situavam os atores.