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Arte Popular no Brasil

Nas camadas populares muitos artistas realizam suas obras, normalmente em seus dias de folga, nas horas tiradas do trabalho na lavoura ou demais ocupações, solitariamente ou com a ajuda da família, em alguns casos, há dedicação integral para a tarefa, entretanto, são poucos os que conseguem sobreviver somente dos trabalhos artísticos realizados.

Feiras e mercados são os principais compradores desses produtos que normalmente acabam sendo usados nas decorações de casa, nas brincadeiras infantis ou até mesmo nos altares de igrejas. Os objetos de arte popular normalmente têm fins decorativos e as peças ora podem ser independentes, ora podem ser criadas para enfeitar outros objetos ou substituir aqueles de uso doméstico. A arte sacra sempre foi importante meio de expressão de nossos artistas populares.

O culto católico aos santos criou condições propícias para que muitos artistas populares se expressassem. Além disso, deve se levar em conta que não existiam escolas de arte acadêmica no Brasil até o século XIX e muitos de nossos artistas criavam seus trabalhos sem praticamente nenhum contato com a “arte erudita”. Aleijadinho, um de nossos maiores artistas, pode, sob vários aspectos, ser considerado um artista popular. Outro fator que espanta na arte popular é a semelhança observada em algumas peças produzidas por artesãos sem estudo artístico com obras encontradas em outras épocas e culturas, podendo dar indícios de fatores inconscientes que atuam nessas criações.

Arte Popular no Brasil

Um exemplo disso são os santos brasileiros semelhantes às representações medievais que aparecem na arte popular, como os realizados por Severino de Iracunhaem. Além disso, são famosos em nossa arte os “santeiros”, principalmente no interior do país e em Minas Gerais, que realizam suas obras seguindo as determinações da Igreja. Assim, por exemplo, uma representação de Santo Antônio deve seguir as características que a tradição religiosa imprime ao santo.

A arte popular normalmente exprime um sentimento comum ao meio onde se desenvolve. Não costuma ser esperado do artista popular originalidade ou expressão individual, mas sim domínio artesanal e capacidade para executar as obras, normalmente encomendadas e ditadas pela sociedade em que ela se insere, que determina tanto a temática como, em alguns casos, a própria forma que o trabalho deva assumir. Bichinhos, figuras humanas e tipos (como o cangaceiro, a lavadeira, o padre), além de santos são os temas mais frequentes da arte popular. Normalmente o artista popular tira da realidade em que vive seus assuntos, podendo às vezes imprimir doses de humor e crítica social às suas representações, como ilustram pequenas esculturas nordestinas de moças brancas dançando com negros de nariz tapado.

O artista popular costuma ser autodidata, sem contato com a arte erudita, retirando da tradição as técnicas que precisa para realizar seu trabalho. Pode inclusive criar recursos próprios para solucionar seus problemas. A personalização da tradição da sociedade em que esse artista está inserido pode gerar obras de grande valor artístico. As pequenas esculturas costumam ser as manifestações mais frequentes da arte popular, especialmente a cerâmica. Devido às particularidades do trabalho com o material, existem pequenas oficinas (pelo menos inicialmente familiares) que se dedicam ao ofício.

As oficinas de cerâmicas estão presentes em várias localidades do Brasil, destacando-se as da região oeste do país, as amazônicas, nordestinas e as do Rio Grande do Sul. Cidades como Caruaru, com suas esculturas mais sofisticadas, com valorização do movimento e realismo são influentes centros regionais que acabam por determinar padrões nordestinos. As esculturas em barro têm centros na região norte do país, em cidades como Belém – destacando-se principalmente as formas de animais locais, como os jacarés; no Sudeste, em cidades como Vitória e artistas como Mãe Ana; no Sul, em São José (Santa Catarina) e as misturas de seres fantásticos com pessoas e animais no conjunto das treze figuras coloridas do boi-de-mamão (realizadas por artistas como Anésia de Silveira). Ainda no Sudeste, vemos fortes centros em lugares como o Vale do Paraíba paulistano, cuja produção é especialmente intensa no Natal de figuras relacionadas à festa, como anjos, meninos e estrelas do oriente.

O folclore do vale também é representado através de peças feitas para a tradicional “Festa do Divino”. No Centro-Sul são famosas as esculturas de intenção religiosa. No Nordeste são especialmente conhecidas as figuras que, por seus trajes e atitudes, caracterizam aspectos da vida da região. Chamam a atenção também pela sofisticação que as representações apresentam, com detalhes como feições do rosto atentas aos tipos físicos do local. Ainda no Nordeste, as carrancas nos barcos que cruzam o São Francisco, usadas na intenção de espantar malefícios ou mesmo monstros folclóricos fluviais, são outros bons exemplos de arte popular. Os ex-votos também são considerados uma das mais importantes manifestações artísticas populares. Os milagres costumam enfatizar a região do corpo a que os fiéis pedem atenção divina. Nas cabeças, em que se apelam para mortos, tanto pode ser visto padrões comuns quanto preocupações artísticas em retratar as feições do falecido.

O “Padinho Cícero”, por exemplo, é um tema regional bastante empregado nas esculturas religiosas nordestinas, especialmente as de Juazeiro do Norte. A Umbanda também fornece grande inspiração para os artistas populares, como as figuras de Exus, caboclos e preto- velhos, especialmente fortes na Bahia, bem representadas por Cândido. É também típico do estado as figuras das “baianas”, com suas vestes e formas anatômicas mais realistas. Principalmente através do Modernismo e de sua nacionalidade alguns artistas populares começaram a ser reconhecidos em círculos de arte erudita, sendo valorizados e realizando até mesmo exposições dentro e fora do país.

Um dos primeiros desses artistas mais afinados com as tradições populares descobertos foi Cardosinho (José Bernardo Cardoso Júnior), português que veio ao Brasil com três anos de idade. Tendo começado a pintar com sessenta e oito anos, chama a atenção por suas composições fantásticas e misteriosas, que não se preocupam com o realismo nas proporções (como demonstram as borboletas enormes de seus quadros, copiadas em tamanho natural). Chegou mesmo a realizar uma mostra com Portinari. Djanira da Mota e Silva, nascida no interior de São Paulo e fixa no Rio de Janeiro é outra artista popular que realizou exposições, inclusive nos Estados Unidos. Entre algumas de suas obras estão: “Figuras na Rua” (1946) e “A Casa de Farinha” (1956) ou a pintura da Capela de Santa Bárbara, no túnel Catumbi – Laranjeiras, no Rio de Janeiro (1961- 1963). Chico da Silva, com seus animais fantásticos, como pássaros e dragões ligados ao folclore do norte-nordeste do país é mais conhecido na Europa (graças à intervenção do pintor suíço Jean Pierre Chabloz que o descobriu em Fortaleza) do que no Brasil.

A tradição afro-brasileira e o aspecto contemplativo das esculturas do baiano Agnaldo Manuel dos Santos também o caracterizam como importante artista popular, como suas figuras sobre mãe e filho ou obras como “Totem” de 1973. Mestre Vitalino (ver verbete) de Caruaru, o carioca Heitor dos Prazeres, o pernambucano Manezinho Araújo, a paulista Maria Auxiliadora da Silva, são outros nomes de pintores populares que acabaram por ficar conhecidos em círculos eruditos.

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