A arte quinhentista corresponde à arte do século XVI (1501 a 1600). É durante esse período que temos, na Itália, a Alta Renascença, a escola de Veneza e o maneirismo. O auge do renascimento produziu gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael. Em outros países do continente a renascença ganha força e espalha-se. Temos então Durer, Bruegel, El Greco, entre outros.
A literatura também teve grande importância na arte quinhentista. Em alguns países em que as artes plásticas não tiveram desempenho compatível à Italiana, é através dela que o renascimento encontra sua maior manifestação.
É o caso, por exemplo, da Inglaterra de William Shakespeare, considerado um dos maiores dramaturgos da humanidade. Imortaliza-se com obras como, “Macbeth”, “Hamlet”, “Ricardo II”, “Henrique V”, “Romeu e Julieta”, entre outras. Utiliza-se das medidas poéticas italianas e da adaptação do soneto a seu idioma.
O humanismo, bastante fortalecido e com penetração em toda a Europa, é um dos fatores do notável desenvolvimento artístico. Expressa um homem que, ao contrário da Idade Média, em que a figura divina era a central em seu mundo (teocentrismo), torna-se o próprio centro (antropocentrismo), fortalecendo a razão sobre a fé. A ambição dos intelectuais humanistas, numa época em que a ciência ainda não tinha delimitado as áreas do saber, era a de dominarem os mais amplos níveis de conhecimento humano.
Além do humanismo, outros fatores encorajavam e forneciam um terreno propício para o apogeu artístico atingido: o desenvolvimento da ciência, em especial a matemática (aperfeiçoando as noções de perspectiva) e a anatomia (estudada por grandes escultores do período para a confecção de suas obras); a disputa entre as cidades (italianas) na tentativa de mostrarem-se mais ricas e mais belas que as demais, via ostentação de grandes obras de arte; e a própria condição do artista que passa a ser visto de uma forma diferente, ganha status e liberdade – de apenas um artífice torna-se alguém que assina suas obras, conferindo prestígio às mesmas e escolhendo as encomendas que gostariam de realizar.
Entretanto, apesar das condições descritas acima (que não “nasceram” nesse século, mas encontravam-se bastante desenvolvidas então) e o apogeu da arte renascentista no cinquecento, é ainda no século XVI que assistimos os primeiros sinais de decadência da Itália renascentista. As inúmeras invasões sofridas pelo país, aliadas à ascensão de Portugal e Espanha (que iniciavam o ciclo das grandes navegações) e a Contra- Reforma, que termina com a relativa liberdade do artista perante à Igreja, são apontadas como alguns dos fatores dessa decadência.
Aparecem as primeiras manifestações do maneirismo, um estilo artístico que faz a transição entre a alta renascença e o barroco. Apesar de possuir características renascentistas, é uma nova forma de arte, que sobrepõe o estilo à forma e antecipa, sob alguns aspectos, o barroco. Nesse período temos ainda a chamada “Escola de Veneza”, que começou a manifestar-se no século XV, chegando ao século XVI. Veneza, em constante contato com a cultura bizantina e com o norte da Europa, desenvolve uma arte própria, fora dos centros italianos renascentistas, que exerceu grande influência sobre muitos artistas europeus. Houve uma certa demora de Veneza na aceitação dos ideais renascentistas do restante da Itália, mas quando o fez, pode-se dizer que o estilo adquiriu um novo esplendor e vivacidade.
A extrema valorização das cores, o uso da luz e dos espaços entre as figuras, são algumas das características que diferenciam a pintura veneziana de suas contemporâneas, (como as de seu próprio país). Outra característica temática forte da escola veneziana são as poesias gregas antigas e o desafio da transposição de seu simbolismo para as artes plásticas.
Na arquitetura, a Biblioteca de São Marcos, do arquiteto Jacopo Sansovino, (1486 – 1573) é um ótimo exemplo da arte quinhentista veneziana, que apresenta grande proximidade aos edifícios do período helenístico. Giovanni Bellini (1430 – 1516), mestre da pintura veneciana, influenciou artistas como Giorgione e Ticiano no uso da cor e da luz para unificar as obras. Giorgione (1478 – 1510), seguindo a orientação do mestre, atinge resultados surpreendentes, como exemplifica “A Tempestade”, harmonioso pela luz e ar que o impregnam.
Ticiano (1488 – 1576), o mais famoso nome dessa escola, divide notoriedade com os grandes gênios da alta renascença em Roma, como Michelangelo. Ignorou as regras de composição de seu tempo, confiando na cor, como seus antecessores, para conferir unidade à obra. Em “Nossa Senhora com os Santos”, o deslocamento da virgem do centro da pintura e o posicionamento de São Francisco e S. Pedro como participantes da cena, sem estarem simetricamente um de cada lado, dão mostras de seu gênio original. Ticiano é ainda tido como um grande retratista. Sua pintura conhecida como “Jovem Inglês”, possui olhar profundo e intensa expressão. O pintores Jacopo Robustini (1518 – 1594), (um dos líderes maneiristas venecianos), Paolo Caliare (1528 – 1588) e o arquiteto Andrea Palladio (1508 – 1580), (que escreveu um tratado sobre arquitetura, Os quatro livros na Arquitetura) – são outros importantes nomes dessa escola.
O início do Renascimento Italiano
O Renascimento artístico surgiu na Itália, no século XV, em especial em Florença. A situação do país fornecia condições para sediar o movimento: vida urbana e comercial intensa, que amenizava as características do feudalismo, forte no resto da Europa (a Itália, ainda no século IX, auge do feudalismo, mantinha comércio com o Oriente) e emancipação pioneira da burguesia e dos artesãos livres das cidades. No caso de Florença, em especial, temos ainda as famílias de banqueiros como os Médici e os Strozzi, que acabam por patrocinar as artes. Essa nova arte, criada nesse cenário, foi inspirada por Boccaccio, Petrarca e os filósofos humanistas do século XIV e XV, bem como pelos ideais clássicos.
É importante notar que o termo Renascimento foi utilizado pelos próprios artistas renascentistas para contraporem os trabalhos da época aos da Idade Média, que designavam como “Idade das Trevas”. Não é um termo correto pois, além de pressupor a ausência de manifestações artísticas desde a Antiguidade, sugere que tenha havido um retorno estrito à cultura greco-romana.
Apesar dos artistas do período terem efetivamente se inspirado na cultura clássica, suas obras estão impregnadas com os valores da época em que viviam. Esses valores imprimiam aos seus trabalhos características próprias. Brunelleschi (1377- 1446), Masaccio (1401-28) e Donatello (1386 -1466) são considerados os artistas mais representativos do início da renascença italiana, tendo construído as bases do movimento e inspirado seus sucessores.
Na arquitetura, Filippo Brunelleschi pode ser considerado o principal mestre dos artistas italianos do quatrocento. Procurou criar um processo de construção novo, utilizando-se das formas da arquitetura clássica na criação de harmonia e beleza. Um exemplo disso é a Catedral de Florença, em que cobriu o imenso espaço entre os pilares para assentar um zimbório com a medida clássica, inspirada na arquitetura romana.
Além de ser considerado um dos pais da arquitetura da renascença, a ele é atribuída a descoberta de um novo esquema de perspectiva, largamente utilizada por outro grande nome do período: o pintor Masaccio, em trabalhos como “O Imposto”. (Alguns autores defendem que essa invenção foi conjunta de Brunelleschi, Masaccio e Donatello).
Masaccio, apesar da vida curta e das poucas obras deixadas, provocou uma verdadeira revolução na pintura. “A Trindade”, afrescos da Igreja Dominicana de Santa Maria Novella, é uma boa amostra de sua arte. A perspectiva nesse trabalho foi utilizada para conferir dramaticidade a cena representada. Na escultura do período temos o mestre florentino Donatello. Como exemplo de seu trabalho, a escultura de São Jorge realizada para a igreja florentina de Or San Michele. Seus pés estão fincados ao chão, seu rosto mostra concentração e energia. Os contornos são precisos, baseados em observação do corpo humano.
Alto Renascimento na Itália
Esse curto período (1500 – 1520) concentra trabalhos brilhantes de artistas que são admirados como verdadeiros ícones da civilização ocidental. Alguns autores de história da arte tradicional (como Giorgio Vasari) chegam mesmo a afirmar que trata-se do período ápice da história da arte – afirmação bastante controversa, uma vez que os parâmetros para tal tipo de avaliação são bastante subjetivos e envolvem uma série de julgamento de valores.
De qualquer forma, tamanho foram as realizações desse período, que muitos artistas e críticos que o sucederam ficavam com a impressão que não restava mais nada a ser feito, ou nada que pudesse suplantá-los.
Não resta dúvida que a arte produzida na Alta Renascença pode ser considerada como elevadíssima, de uma qualidade impressionante. Teve profunda influência sobre as gerações de artistas que o sucederam e sobre os próprios parâmetros artísticos.
Vários mestres conviveram nesse período desenvolvendo ótimos trabalhos, mas as figuras absolutamente geniais de Leonardo da Vinci (1452- 1519), Michelangelo (1475 – 1564) e Rafael Sanzio (1483 – 1520) ofuscam outros artistas que não fosse a comparação com esses mestres, poderiam ser considerados também gênios. Nesse período Roma torna-se o centro da cultura da renascença, ultrapassando Florença e a igreja romana, a grande patrocinadora das artes.
Leonardo da Vinci, tendo pesquisado diversas áreas do conhecimento humano, personifica o ideal humanista. Atuou, em diversas fases de sua vida, como arquiteto, engenheiro, urbanista, escultor, mecânico, fisiólogo, químico, biólogo, botânico, cartógrafo, físico. Antecipou ainda a aviação, a hidráulica, o escafandro, a balística e o paraquedas. Um dos aspectos mais intrigantes de sua personalidade é o fato de ter se dedicado a um montante incrível de projetos que raramente chegavam a um fim satisfatório.
Entretanto é conhecido também por obras famosíssimas e admiradas em todo mundo, como “A Última Ceia” e “Monalisa” e por seu talento na pintura e desenho em geral. “A Última Ceia”, chegou até nós em péssimo estado de conservação, mas ainda era perceptível a excelente composição e a expressividade das figuras.
Os doze apóstolos, divididos em grupos de três, são interligados por gestos e movimentos. A extrema realidade com que o ato sacro é representado, aliada à utilização da luz, do volume, à perspectiva da sala, bem como à solidez das figuras, põe essa obra entre as maiores da alta renascença. “Monalisa”, a esposa florentina do banqueiro Giacondo, com sua extrema vivacidade e sorriso enigmático, é considerada mesmo um dos grandes ícones da arte ocidental. A escultura renascentista tem seu auge em Michelangelo Buonarroti, cujos trabalhos como “Davi” e “Moisés”, de dimensões gigantescas, provam sua maestria em desenhar o corpo humano em qualquer posição e o perfeito domínio que o artista possuía de seus movimentos.
Davi, na frente do Palazzo della Signoria, pode ser um exemplo de sua enorme habilidade em esculpir, ainda que em um imenso bloco de mármore, extremamente difícil pelo tamanho e peso (Michelângelo era conhecido pelo gosto por desafios). Ele é representado como adolescente, evidenciado pelas proporções das mãos, cabeças e pés.
Os afrescos do teto da Capela Sistina, que tomaram quatro anos de trabalho sistemático (1508 a 1512) do escultor são outra amostra de monumental beleza de seu trabalho. Repleto de imagens, como a anunciação da vinda de Cristo, a história da criação e de Noé, madonnas e cenas como “Tentação de Adão e Eva” e “Criação de Adão” – talvez as mais famosas. São características desse trabalho o jogo de sombras, as alternações entre o claro e escuro e a suavidade do esquema de cores. As figuras são heroicas, revelando um ideal de mundo em perfeito equilíbrio e solidez. Impressionam pela simplicidade e força. “Pietá”, a virgem segurando o menino, outra famosa obra de Michelangelo e grande tema da religiosidade humanista, demonstra ainda seu domínio da pintura de afrescos e do desenho.
Rafael Sanzio ou Santi (1483 – 1520), influenciado por Michelangelo e Leonardo da Vinci, pode ser considerado o expoente máximo da pintura renascentista. Famoso pelas madonnas, sua obra “Madonna del Granduca”, em que a virgem segura o menino em perfeito equilíbrio, perpetuou-se como modelo de perfeição para várias gerações. A beleza pura de suas figuras, como a ninfa Galatéia no Mural da Villa Farnesina, em Roma, não inspiradas, segundo o próprio pintor, em nenhum modelo humano, mas sim num ideal de perfeição, deslumbra o observador pela simplicidade e força.
Primeiras manifestações de Arte Quinhentista em outros países europeus
Durante quase todo o século XV, a Renascença foi um fenômeno tipicamente italiano, não encontrando respaldos em outras partes da Europa. A diferença nas tradições em que vinham caminhando esses países pode ser uma das chaves para se compreender essa questão.
Na Itália, por exemplo, a penetração do estilo gótico não foi tão forte quanto no resto da Europa. Os países do norte do continente absorveram muito desse estilo, que encontrou terreno fértil para se desenvolver naquelas culturas. Havia, portanto, uma certa resistência em abandonar as tradições antigas em nome da “novidade” italiana.
A França, a Alemanha, Espanha, Inglaterra, Holanda e Portugal – com sua arte tipicamente nacional, o manuelismo – permaneceram fiéis aos seus próprios estilos até o cinquecento. Acredita-se que as viagens de artistas europeus para os centros da cultura renascentista na Itália, no século XVI, foi o fator que possibilitou o contato com esse estilo de arte e a sua penetração posterior nos países de origens desses viajantes.
A arquitetura provavelmente foi um dos maiores focos de resistência, fora da Itália, ao estilo renascentista. Normalmente a introdução desse novo tipo de construção ocorreu por insistência de príncipes e nobres que, após visitarem a Itália, queriam estar atualizados. Os resultados são algumas construções fundamentalmente góticas, mas com alguns traços renascentistas, concessão muito superficial ao novo estilo.
O pintor e artista gráfico alemão Albert Durer é considerado o principal nome do renascimento fora da Itália e também um dos grandes responsáveis por espalhar essa escola na Europa. Acreditava ser sua “missão” transportar os ideais renascentistas à alma alemã, assimilado através de viagens à Itália, para aprender com os grandes mestres.
A maneira como o artista, sem a mesma tradição italiana, experimenta incansavelmente as regras de proporção humana, no objetivo de atingir o equilíbrio proposto pelos renascentistas, é admirável. A gravura de Adão e Eva é uma das que mais se utilizam de suas descobertas nesse campo, sem contudo perder sua própria tradição artística: há o nítido destaque de seus contornos, contra o fundo escuro de uma floresta. Assinala a adaptação dos ideais do sul a sua própria cultura. Suas xilogravuras, bastante famosas, como a série “Apocalipse”, ilustrando o Apocalipse de São João, em que descreve as visões aterradoras do evangelista, são tão vigorosas que influenciam na própria aceitação da expressão artística através de xilogravuras. “Os quatro cavalheiros do Apocalipse”, com temática e características da arte gótica (cavalheiros sinistros, o inferno, o céu turbulento) misturam-se aos seus estudos renascentistas, (principalmente aos estudos de arte de Mantegna) e seu talento para transformar imagens verbais em artes plásticas.
Interessante é contrapor Durer, ao outro principal artista alemão do período: Grunewald, de quem temos poucos conhecimentos sobre sua vida. A temática de seus trabalhos é fundamentalmente mística. Apresenta um trabalho original, com composição e uso de cores tão próprios que dificultam identificá-lo a uma escola. Utiliza algumas técnicas renascentistas em sua composição, mas não segue outros de seus preceitos: utiliza-as somente quando elas se ajustam a seus próprios conceitos artísticos. O painel central do “Altar de Isenheim” em que ele despreza conceitos como equilíbrio de proporções e beleza em nome da “significação espiritual” do mesmo, (apesar de conhecer esses conceitos) nos dá uma noção de sua assimilação seletiva aos ideais italianos. Durer e Grunewald exemplificam bem as diferentes maneiras como foi absorvida a renascença fora da Itália.
Renascença na Espanha
A Espanha no século XVI era uma grande potência europeia, anexando a si territórios da Europa e América e extremamente rica pelos tesouros trazidos do novo mundo. Foi um dos berços da Contra Reforma que instituiu o Concílio de Trento, a Inquisição e a forte ordem religiosa dos jesuítas. A Renascença na Espanha, profundamente enraizada em seus próprios estilos artísticos, que adaptava elementos góticos à sua própria cultura, entrou através da intervenção de Charles V e Philip II, no século XVI.
Sua principal influência foi a escola renascentista de Veneza. Charles V, que patronava o pintor renascentista Ticiano, da escola de Veneza, demonstrava admiração pelos preceitos artísticos italianos. Contratou, para a construção de seu palácio em Granada, o arquiteto e pintor Pedro Machucha. Determinou que a obra fosse realizada utilizando-se dos padrões renascentistas de arquitetura. Entretanto, a construção não foi finalizada. Já Philip II teve mais sucesso no comprimento de sua ordem de execução do Palácio Escorial, perto de Madrid, entre 1563 e 1584.
Além de Palácio para a monarquia e residência, a enorme construção deveria incluir igreja e monastério. A influência clássica no austero complexo tem suas raízes no estilo dórico. A coleção do Museu do Prado, em Madrid, teve sua origem na coleção que foi guardada nesse palácio por Philip II.
Na pintura, temos a figura de El Greco (1541- 1614), como principal expoente da arte renascentista. De origem grega, bastante influenciado pela escola de Veneza (em particular Ticiano e Tintoretto), viveu um período de sua vida na Itália, antes de mudar-se para a Espanha. Apresenta características como o descaso às formas e cores naturais; dramaticidade e emoção de suas cenas. É considerado um pintor maneirista que reflete em sua temática, a crise que se instaura durante a Contra-Reforma promovida pela Igreja Católica. “O Enterro do Conde Orgaz”, na Igreja de São Tomé é considerado uma de suas principais peças e um bom exemplo de sua habilidade em lidar com temas místicos.
A arte de pintar retratos também encontra bastante desenvolvimento nessa época, sendo seus maiores expoentes Antonio Moro, Sánchez Coello e Pantoja. As principais características dessas representações são a nobreza das atitudes e a fidelidade das expressões. A renascença espanhola atinge ainda um alto grau de desenvolvimento na literatura, através, principalmente de Miguel de Cervantes (1547 – 1616) e seu clássico Don Quixote de La Mancha.
Renascença na França
A França possuía uma forte tradição de arte medieval, oferecendo bastante resistência à assimilação da renascença Italiana. Luís XII (1462 – 1547) e principalmente Francis I (que governou o país de 1515 a 1547), fizeram grandes campanhas na tentativa de trazer a nova arte ao país. Francis I chega mesmo a fazer propostas de trabalho a artistas como Leonardo da Vinci (no caso, aceita).
Porém, foi com o estilo maneirista que os artistas franceses melhor adaptaram-se e o que teve mais repercussão no país. O estilo observado no Palácio de Fontaineblau, logrando atender as ambições de Francis I, acabou influenciando vários artistas franceses, sendo conhecido como escola de Fontainebleau os artistas associados a seu estilo.
Maneiristas italianos como Rosso e Primaticcio, responsáveis pelo reboque e pinturas decorativas da galeria com cenas mitológicas, são alguns dos nomes responsáveis pelo projeto, adaptando seus estilos próprios ao gosto francês. Resulta daí um maneirismo que incluí sensualidade, propensão para o decorativo e elegância.
O arquiteto Pierre Lescot (1510 – 1578) que, a pedido de Francis I, iniciou um projeto para reconstrução do Museu do Louvre, é um dos principais nomes do movimento. O estilo clássico que ele imprimiu ao museu permaneceu às várias transformações sofridas pelo mesmo desde então.
Na escultura temos, como um dos maiores artistas do renascimento francês, Germain Pilon (1535 – 1590). Apresenta profundas diferenças entre seus trabalhos no decorrer da carreira. Da influência do maneirismo de Fontainebleu das primeiras obras, suas esculturas vão progressivamente ganhando realismo, como Henry II.
Outro nome importante do período é o escultor Jean Goujon (1510 – 1565), cujo estilo alongado, (sem ser desproporcional) também marcou presença na reconstrução do Louvre. A escultura é bastante presente nas construções renascentistas do norte europeu. Seus mestres foram os italianos Primaticcio e Cellini. As esculturas em relevo de Goujon, representando ninfas graciosas e elegantes na “Fonte dos Inocentes em Paris”, são boas amostras de seu estilo.
Renascença nos Países Baixos
Juntamente com a Itália, os países baixos foram um importante polo do capitalismo comercial, possuindo ainda uma vida urbana desenvolvida e um mercado que poderia consumir obras de arte. Em alguns trabalhos de Jan van Heyck, pintor famoso do século XV, a quem é atribuída a introdução da técnica de pintura à óleo, pode serem vistos alguns traços renascentistas. Entretanto, a força da tradição gótica no local dificultou bastante sua assimilação da Renascença Italiana. Costuma-se dizer que isso só foi possível no país graças à figura do alemão Durer, que passou um período de sua vida na Antuérpia, cidade que se tornou o centro cultural da Holanda.
O Pintor Quentin Massys (1465 – 1530), um dos que tiveram influência direta de Durer, era considerado como um dos principais artistas da Antuérpia da época. Seu painel central feito para a Irmandade de Santa Ana, mostra os familiares de Maria e José. Dos modelos renascentistas italianos, absorve o ajuste simétrico das figuras; da escola de Veneza, as cores e perspectiva (é cogitada a hipótese do próprio artista ter visitado Veneza, devido a aproximação de suas obras com essa escola). Já na pintura “Lamentação”, do Museu Real de Belas-Artes, na Antuérpia, pode ser notada a influência dos trabalhos de Leonardo da Vinci e Rafael, estreitando seus laços com a Renascença.
As paisagens naturais ganham bastante importância nas obras dos pintores norte-europeus da época. Joachim Patinir, que imprimia importância extraordinária às paisagens em sua pintura, ficou famoso por suas vistas de campos, vilas e montanhas, tendo à frente figuras em tamanho reduzido. Seu São Jerônimo em paisagem aberta, que enfatiza mais o cenário que a vida do santo, ganhou várias versões do artista. Nelas podemos observar características da arte norte-europeia como a abundância de detalhes, bem como a utilização de uma perspectiva diferente da adotada na Escola de Veneza.
Mabuse, ou Jan Gossaert (1478 – 1535), visitou a Itália e procurou assimilar os preceitos renascentistas em suas obras. É claramente influenciado por Durer e os artistas holandeses que o precederam. Especialmente conhecido pelos nus que realizava, à semelhança dos italianos, “Netuno e Anfitrite”, pode ser uma boa amostra de sua habilidade. É composto de figuras mitológicas nuas em um cenário arquitetônico renascentista. Entretanto, alguns de seus críticos defendem que o pintor, ávido por mostrar conhecimento e domínio da arte italiana, por vezes apropria-se dessas técnicas, sem contudo obter resultados satisfatórios. Um exemplo disso pode ser o quadro de São Lucas pintado a Virgem. É influenciado pelo pintor holandês Jan van Eyck e pelas técnicas italianas, como a perspectiva científica e o jogo de luz e sombra. As figuras aqui também estão assentadas num cenário de arquitetura italiana. Entretanto, apesar dos valores de encanto que o quadro possui, parece não ter atingido a harmonia nem de seus inspiradores em sua própria cultura nem dos italianos.
Pieter Bruegel (1525 – 1569), é considerado o maior pintor flamenco do século XVI. É conhecido pela complexidade temática, apesar de boa parte deles referirem-se ao cotidiano dos camponeses. Seu talento é continuamente comparado ao setecentista Rembrandt, principalmente no que se refere à capacidade de enxergar a natureza humana. “Caçadores na Neve” é um bom exemplo de seu trabalho.
Veja também:
- Literatura Quinhentista
- Descobrimento do Brasil
- Barroco no Brasil e em Portugal
- Renascimento Italiano
- Características do Renascimento