Histórias em quadrinhos fazem parte da vida de todas as pessoas. Seja nas tirinhas de jornais e revistas, seja nos gibis com histórias completas, todos temos referências de personagens como Mafalda, Garfield, Super Homem e Snoopy.
Consideradas um importante meio de comunicação do século XX, as HQs ganharam espaço no mundo da arte e fazendo jus ao seu título de 9ª arte.
Origem das histórias em quadrinhos
As histórias em quadrinhos, também chamadas de HQs, surgiram no final do século XIX. Têm sua origem nas histórias ilustradas, em que imagem e texto dividiam espaço em livros e jornais. Alguns estudiosos afirmam que The Yellow Kid pode ser considerada a primeira história com o formato que conhecemos hoje. Foi criada em 1896 por Richard Outcalt, que incluiu os balões de fala dos personagens.
Quando surgiram, os quadrinhos eram de humor e por isso receberam o nome de comics, e são chamados assim até hoje nos Estados Unidos.
No início do século XX as HQs estampavam jornais com charges políticas e já tinham personagens fixos, como o próprio Yellow Kid. Nas décadas de 1920 e 1930 surgiram personagens como Gato Félix, de Pat Sullivan; Tintin, de Hergé; Mickey Mouse e Pato Donald, de Wallt Disney; Batman, de Bob Kane, Super Homem, de Jerry Siegel e Joe Shuester.
Os anos 1930 são considerados a Era de Ouro das histórias em quadrinhos. Foi nessa década que surgiram os comic books (os gibis que conhecemos hoje), livros que traziam histórias completas. Super Homem é considerado o personagem que marca o início da Era de Ouro. Depois dele, diversas histórias de ficção científica, aventura e fantasia foram criadas.
Características do gênero
História em quadrinhos é um gênero textual que tem características diferentes de outros tipos de texto por utilizar, principalmente, a imagem para narrar a história ao leitor.
É uma arte sequencial, em que os desenhos, dispostos nos quadrinhos, dão informações para que o leitor compreenda a mensagem. Por essa razão é que as HQs são tão populares e atingem crianças em idade pré-escolar, já que a leitura da palavra não é o único recurso para que o leitor entre em contato com o texto. Algumas histórias, inclusive, não utilizam em nenhum momento a linguagem verbal, fato que exige do leitor da imagem atenção aos detalhes dos desenhos, como expressão facial das personagens.
A linguagem verbal nas histórias em quadrinhos
Diferentemente de outros textos narrativos, as HQs não exigem, necessariamente, a figura do narrador. As falas dele, quando há, são apenas para contextualizar a história e aparecem normalmente no canto superior do quadrinho com informações referentes ao tempo e ao espaço da narrativa, por exemplo. Veja abaixo um exemplo:
Os diálogos das histórias em quadrinhos, parte verbal predominante, são apresentados de forma direta, ou seja, o discurso é falado pela própria personagem, não pelo narrador.
Onamatopeias
As onomatopeias, representação dos sons produzidos por animais (rrrr para rosnado), pessoas ou por objetos (zzzzz para sono, triiiiim para telefone), são muito importantes nas histórias em quadrinho para dar dinamicidade e movimento à história.
A influência das Guerras na produção de HQs
Na década de 1940 a produção de HQs sofreu uma grande influência política por conta da Segunda Guerra Mundial. Nesse período surgiu o Capitão América, que combatia seus inimigos apenas com um escudo. Algumas pessoas afirmam que havia uma analogia ao apresentar um personagem que não utilizava armas de fogo, apenas um escudo, como se a América só estivesse se defendendo dos ataques ocorridos contra ela.
Foi também nos anos 1940 que as HQs começaram a se voltar também para o público adulto. As crianças, que sempre gostaram das histórias, cresceram e continuaram com o hábito da leitura, por isso essa popularização entre os adultos.
Nos anos 1950, novos vilões e super-heróis foram criados. Durante a Guerra Fria, Stan Lee foi um dos artistas que mais se destacou com a criação de personagens como Homem Aranha, Quarteto Fantástico, O Incrível Hulk, Thor, X-Men, entre outros. Outro artista que também se destacou foi Charles Schulz, com Peanuts (Minduim). Um menininho complexado chamado Charlie Brown e um cachorro filósofo chamado Snoopy dialogavam sobre diversos assuntos e o texto ganhou mais importância dentro do mundo das HQs.
Na década de 1960 os quadrinhos de super heróis se consolidaram e nos anos 1970 surgiram os quadrinhos underground. Lançados por editoras independentes, esses quadrinhos eram vendidos de mão em mão, tinham um desenho mais livre e os personagens eram mais irreverentes. Robert Crumb foi um importante nome desse período.
O graphic novel dos anos 1980
O grafic novel (romance gráfico) surgiu nos anos 1980 para o público adulto. Era um formato mais sofisticado dos quadrinhos, e artistas e roteiristas realizaram novas experiências visuais e textuais dentro deles.
O romance gráfico veio para derrubar os últimos argumentos dos que consideram o quadrinho um produto cultural inferior. As principais diferenças para o quadrinho tradicional são a qualidade da elaboração formal, a complexidade dos enredos e dos personagens e a extensão maior, enfim, aspectos que a aproximam do gênero literário romance.
Um marco dentro do graphic novel foi a versão de Frank Miller para Batman. Em 1986 Miller lançou O Cavaleiro das Trevas, muito mais estilizado que o original e com um novo tratamento artístico, tanto para o homem morcego quanto para os vilões e a cidade de Gothan City.
Nessa época, os personagens eram um pouco mais complexados e com dúvidas existenciais e os quadrinhos tinham mais violência e sensualidade. Orquídea Negra, de Neil Gaiman e V de Vingança, de Alan Moore, são exemplos de quadrinhos da época.
Mangá
As histórias em quadrinhos no Oriente evoluíram paralelamente ao mundo ocidental. Sua origem vem do teatro de sombras, espetáculo com bonecos que surgiu na China. As representações gráficas desses teatros são referência para a criação dos mangás.
Essas HQs conquistaram leitores de todo o mundo. Histórias como Os Cavaleiros do Zodíaco e Astro Boy ganharam o mercado ocidental e a atenção de jovens e adultos.
Os personagens dos mangás têm características particulares, como os olhos e boca grandes, que evidenciam as expressões do rosto. Essas características são bem exploradas nos animes, as versões em desenho animado dos mangás.
HQs no Brasil
No Brasil, as histórias em quadrinhos se popularizaram na década de 1930. Existiam duas revistas que traziam HQs completas do Super Homem, The Spirit e Tocha Humana: a Globo Juvenil e a Gibi.
A segunda ficou tão famosa e fez tanto sucesso que no Brasil qualquer revista de quadrinhos passou a ser chamada de gibi (e é até hoje).
Um dos maiores nomes do quadrinho brasileiro é Maurício de Souza. Em 1959 criou histórias de um cachorro, Bidu, e seu dono, Franjinha. O jornal A Folha de S.Paulo publicava suas tirinhas. Depois criou outros personagens que fariam sucesso. Mônica, Cascão, Magali, Cebolinha e Chico Bento ganharam suas próprias revistinhas entre 1970 e 1972.
Nas décadas de 1980 e 1990 surgiram grandes nomes dos quadrinhos. Lourenço Mutarelli criava quadrinhos underground, histórias baseadas em pessoas que conhecia e que traziam temas como solidão e morte. Em 1999 lançou O dobro de cinco, o primeiro quadrinho de uma trilogia sobre um detetive chamado Diomedes.
Angeli, Glauco e Laerte também são grandes quadrinistas brasileiros. Juntos criaram a HQ Los 3 Amigos, na qual eram “bandidos, bandoleiros, baderneiros e matadores”. Cada um também tem uma grande produção individual. Angeli tem personagens como Rê Bordosa e Luke e Tantra. Glauco tem em sua lista Geraldão e Casal Neura. Já Laerte criou, entre todos seus personagens, Piratas do Tietê e Hugo.
Hoje, artistas da nova geração dos quadrinhos fazem sucesso e atingem cada vez mais públicos. Com a internet e as redes sociais, os artistas conseguem publicar e divulgar suas HQs, desenhos e tirinhas para um número considerável de pessoas. Artistas como Fábio Moon e Gabriel Bá, Rafael Coutinho, Rafael Grampá, Marcelo e Magno Costa são nomes importantes dos quadrinhos atuais.
No Brasil, o mercado dos quadrinhos está crescendo e ganhando cada vez mais espaço. Não que seja fácil viver só da produção e venda de HQs, mas está existindo um reconhecimento maior dos artistas e de suas obras.
HQs na TV e no cinema
Os quadrinhos ganharam a TV e o cinema e fizeram uma legião de fãs. Em 1967 estreava o primeiro desenho do Homem Aranha e, depois dele, vieram desenhos de outros super-heróis, como X-Men, Batman e Robin, Super Homem, entre muitos outros.
Os mangás também viraram desenho. Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z viraram febre entre crianças e adolescentes.
No cinema, as produções inspiradas nas histórias em quadrinhos foram sucesso de bilheteria. As grandes produções de filmes como O Homem Aranha, Thor, Homem de Ferro, entre outros, trazem a cultura das HQs e divulgam essa arte.
Como fazer um texto em quadrinhos?
O primeiro ponto é lembrar que os quadrinhos apresentam uma linguagem visual – desenhos, cores, formas –, além da linguagem verbal. Às vezes nem há texto verbal, somente visual. Por isso, sentimentos, emoções e movimentos, por exemplo, serão “desenhados” nas expressões faciais dos personagens, em seu corpo, e não serão narrados em palavras.
Outra característica é o balão, que deverá conter falas de personagens e indicar quem fala. Lembre-se de ordenar os balões da esquerda para a direita, de cima para baixo.
Faça um esboço da história, planejando o número e o tamanho dos quadrinhos, as ações e os personagens que cada um deve conter. Lembre-se de que é importante desenhar um cenário para situar o espaço da história para o leitor. É importante também ler algumas histórias, observando suas características.
Por: Wilson Teixeira Moutinho