Artes

Orquestra

A moderna orquestra sinfônica representa a culminância do desenvolvimento da música ocidental em quase cinco séculos. Nesse tempo ela passou por inúmeras mudanças e teve várias dimensões, desde as 36 figuras reunidas por Monteverdi, no começo do século XVII, para o acompanhamento da ópera Orfeo, até os enormes conjuntos organizados por Wagner e outros, no final do século XIX, com centenas de integrantes.

Orquestra é um conjunto musical tipicamente ocidental, de cuja formação participam instrumentos de cordas, sopro e percussão organizados em naipes — subgrupos compostos por instrumentos iguais ou da mesma família. O objetivo da instrumentação é a fusão dos elementos acústicos e dos timbres, o que resulta em gigantesco instrumento homogêneo. Sob a direção de um regente, a orquestra executa sinfonias e outras obras instrumentais, além do acompanhamento de óperas, obras corais etc. Em acepção mais ampla, o termo orquestra designa conjuntos de instrumentistas inclusive de culturas não-ocidentais.

A estrutura padrão da orquestra sinfônica centraliza-se na seção de cordas, subdividida em primeiros e segundos violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Seguem-se as madeiras: flautas, oboés, cornes-ingleses, clarinetes, fagotes e contrafagotes; os metais: trompetes, trompas, trombones e tuba; e os instrumentos de percussão: tímpanos, pratos, sinos, tambores, pandeiro, xilofone, celesta e outros. Com frequência são acrescentados piano, harpa ou órgão. As diferentes intensidades sonoras dos instrumentos são compensadas por sua posição em relação ao auditório.

História da Orquestra

A orquestra de câmara é integrada por um número reduzido de instrumentos e às vezes compõe-se só de cordas. A expressão orquestra filarmônica não é uma classificação, mas diz respeito à entidade mantenedora de determinada orquestra sinfônica.

História

Na concepção medieval, os instrumentos deveriam tocar em grupos sempre homogêneos, ou seja, compostos de instrumentos de mesma família. Somente a partir do século XVII passou-se a combinar timbres distintos. Monteverdi é historicamente considerado o criador da orquestra, porém o conjunto que formou para acompanhar suas óperas, composto por cordas e teclados, pareceria caótico atualmente, pois carecia da complementaridade existente entre os instrumentos da orquestra moderna.

As novas experiências que associavam timbres diferentes levaram à formação de conjuntos integrados por um exemplar de cada tipo de instrumento. As cordas de arco (violino, viola, violoncelo) foram as únicas que se mantiveram coesas mesmo durante esse período. As primeiras organizações orquestrais no sentido atual surgiram por acréscimo de sopros a um núcleo formado pelas cordas. Assim, por volta de 1670, na França, Jean-Baptiste Lully colocou os violinos no centro e utilizou também instrumentos de sopro, principalmente madeiras. A mesma formação foi usada posteriormente por Vivaldi, e o oratório Sedecia, de Alessandro Scarlatti, também a empregou em 1706. O papel de solista desempenhado por cada naipe tornou-se característico da orquestra barroca.

Mesmo para as grandes obras corais e cantatas, Bach só tinha à disposição 18 músicos. A expressividade e o colorido tímbrico de sua orquestra certamente produzia efeito muito diverso da sonoridade grandiosa das orquestras sinfônicas hoje utilizadas na execução da Matthäuspassion (1729; Paixão segundo são Mateus). Haendel, alemão radicado em Londres, onde encontrou ambiente mais exigente, reforçou muito a seção de sopros e chegou a utilizar quarenta ou cinquenta instrumentos em Music for the Royal Fireworks (1749; Música para os reais fogos de artifício).

A orquestra do classicismo vienense foi criada por volta de 1755, em Mannheim, por Johann Anton Stamitz, Franz Xaver Richter, Christian Cannabich e Ignaz Holzbauer. Tornou-se célebre pelos efeitos dinâmicos (aumentos e diminuições progressivos da intensidade sonora), então novos. Apresentou também uma formação inédita, com cerca de quarenta integrantes, em que nenhum grupo desempenhava função solista. Tratava-se de um corpo homogêneo, como uma miniatura da orquestra moderna.

A partir de 1760, Haydn utilizou em suas sinfonias — consideradas as primeiras obras orquestrais modernas — formação idêntica à da orquestra de Mannheim. O mesmo fizeram Gluck e Mozart em suas óperas, os quais demonstraram, no entanto, certa preferência pelo clarinete, ausente em Mannheim. Em Die Zauberflöte (1791; A flauta mágica), Mozart usou também trombones.

Romantismo

Os ingleses organizaram orquestras colossais para a execução de obras barrocas, como a do festival Haendel, em 1784, integrada por 252 músicos, entre os quais 95 violinistas. Tratava-se, porém, de mera acumulação, sem qualquer tentativa de combinação mais sutil dos timbres, o que só ocorreu de forma mais elaborada no romantismo.

Beethoven foi o primeiro compositor a levar em conta a instrumentação durante o processo de composição. Ele próprio afirmou que, ocorrendo-lhe um motivo musical, imaginava-o em determinado instrumento. Sua orquestra não se caracterizava por grande massa sonora, mas pela sábia combinação dos timbres dos seis primeiros violinos, seis segundos violinos, quatro violas, três violoncelos, três contrabaixos, duas flautas, dois oboés, dois clarinetes, dois fagotes, duas trompas, dois trompetes e dois tímpanos. Ocasionalmente, eram acrescidos instrumentos de sopro: no segundo ato de Fidelio surge um contrafagote; na abertura de Egmont, um piccolo (flautim), e na sinfonia nº 9 foram reforçados todos os sopros e a percussão. É essa a orquestra sinfônica usada no século XIX por Schubert, Schumann e Brahms, com aproximadamente 40 a 45 integrantes.

A orquestra tornou-se maior e mais variada nas casas de ópera. Weber, além de reforçar os fagotes e contrabaixos, aproveitou com felicidade o timbre das trompas em Der Freischutz (1821; O franco-atirador). Suas inovações foram utilizadas e ampliadas por Meyerbeer, que antecipou a grande orquestra romântica de Berlioz e Wagner. Para a Sinfonia fantástica, o poema sinfônico Romeu e Julieta e o Réquiem, Berlioz exigiu uma orquestra de 400 a 450 integrantes. Na prática, nunca pôde obter esse número de músicos, mas sabia conseguir os novos efeitos desejados mediante um aproveitamento inédito dos timbres. É de sua autoria o Traité d’instrumentation et d’orchestration modernes (1844; Tratado da moderna instrumentação e orquestração), no qual codificou as normas de instrumentação para as grandes orquestras.

Berlioz exerceu profunda influência sobre Liszt e principalmente sobre Wagner, o que se revela em Tannhäuser (1845), pelo uso dos violinos divididos em quatro grupos, na cena de Vênus, e pelo reforço dos instrumentos de sopro e de metal na abertura. A forma definitiva da orquestra wagneriana foi atingida em Der Ring des Nibelungen (1869-1876; O anel dos nibelungos), até mesmo com o aproveitamento de instrumentos recém-inventados, como a tuba. São cerca de 110 integrantes: 16 primeiros violinos, 16 segundos violinos, 12 violas, 12 violoncelos, seis contrabaixos, quatro flautas, três oboés, um corne- inglês, três clarinetes, um clarinete baixo, três fagotes, dois tímpanos, três trompas, uma trompa baixa, três trombones, um trombone baixo, cinco trompetes, cinco tubas, oito harpas e percussão. Essa é a formação ainda hoje adotada nas casas de ópera e orquestras sinfônicas, mesmo para a execução de obras de Beethoven.

No fim do século XIX, a orquestra voltou a crescer e se aproximou das dimensões com que Berlioz sonhara. Richard Strauss acrescentou vários instrumentos novos, como o oboé barítono, e aumentou o número de integrantes. Esse número foi pelo menos dobrado por Gustav Mahler, que também utilizou instrumentos estranhos à orquestra, entre os quais a celesta, o órgão e o bandolim.

Orquestras modernas

Data do início do século XIX a organização de orquestras permanentes, que gradualmente se tornaram os centros da vida musical de suas cidades. Entre as mais famosas, podem ser citadas, na Europa, as filarmônicas de Viena, Berlim, Londres, Leningrado, Praga e Moscou, a Orquestra do Gewandhaus (Leipzig), a Orquestra do Concertgebouw (Amsterdam) e a Orquestra do Teatro Alla Scala (Milão). Nos Estados Unidos, as sinfônicas de Chicago, Boston, Filadélfia, a filarmônica de Nova York, as orquestras da Metropolitan Opera e da NBC ou National Broadcasting Co., Inc. No Brasil, cabe destacar a Orquestra Sinfônica Brasileira, fundada em 1940.

Rimski-Korsakov, o maior teórico da instrumentação posterior a Berlioz, e Stravinski voltaram a uma orquestra constituída apenas por 120 a 130 integrantes, com forte participação de instrumentos de sopro. Os franceses Debussy e Ravel, grandes orquestradores, preferiram conjuntos ainda menores, com cerca de setenta instrumentos, entre cordas, madeiras, metais e percussão. Stravinski, em L’Histoire du soldat (1918; A história do soldado), usou somente uma orquestra de câmara. Carl Orff organizou para suas óperas e obras corais uma orquestra de formação inusitada, em cujo centro se encontram os instrumentos de sopro, madeira e percussão, e com a participação de um ou mais pianos.

Autoria: Rodrigo Freire de Melo

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