Gaúcho que gostava de ser conhecido como um contador de histórias, Erico Veríssimo foi o responsável pelas páginas mais heroicas e brilhantes da moderna narrativa épica brasileira. Ficou famoso pela trilogia O tempo e o vento, sua obra-prima.
Erico Veríssimo: vida e obra
Erico Veríssimo nasceu em 17 de dezembro de 1905, em Cruz Alta (RS), filho de uma família de estancieiros em decadência. Começa a estudarem 1912, dividindo-se entre o
Entre 1918 e 1919, em decorrência da epidemia de gripe espanhola que se espalhava na região, Veríssimo vê-se obrigado a permanecer em quarentena. Essa aparente prisão/condenação, para o menino, contribui no surgimento do escritor, pois, com tempo de sobra e sem poder se movimentar, Erico Veríssimo inicia a leitura de escritores nacionais e estrangeiros que serão fundamentais para sua formação.
A crise que atinge a pecuária rio-grandense no princípio do século XX acentua os problemas financeiros que a família vinha enfrentando. Precisando trabalhar para ajudar no sustento da família, não chega a completar os estudos.
Seus pais separam-se em fins de 1922. Erico Veríssimo trabalha como balconista e bancário, e começa, ainda escondido de todos, a escrever seus primeiros textos. Também é nessa época que lê Euclides da Cunha (1866-1909) e faz traduções de escritores ingleses e franceses. Transforma-se em leitor compulsivo, o que compensa a quase ausência de formação escolar formando-se o leitor, formou-se o escritor.
Em 1929, publica seus primeiros textos. Em 1930, disposto a tentar viver de seus escritos, muda-se para Porto Alegre, onde trabalha como revisor e tradutor da editora Globo. Passa a conviver com escritores já renomados na época, como Mário Quintana (1906-1994) e Augusto Meyer (1902-1970).
Já casado com Mafalda, e com traduções e textos esparsos de sua autoria publicados, estreia com o volume de contos Fantoches (1932), coletânea de histórias, em sua maior parte na forma de peças de teatro. No ano seguinte, publica seu primeiro romance, Clarissa, nome com que dois anos depois batizará sua primeira filha.
Erico Veríssimo morreu em 28 de novembro de 1975, deixando esboços de um romance que se chamaria A hora do sétimo anjo, além da segunda parte do segundo volume de suas memórias, inacabada. Depois de Jorge Amado (1912-2001), foi o maior sucesso de público conhecido até então na literatura brasileira – tendência que se repetiu com seu filho, o também escritor Luis Fernando Veríssimo (1936).
A estética de Erico Veríssimo
As primeiras produções de Erico Veríssimo marcaram uma fase mais voltada para a abordagem dos dramas pequeno-burgueses da ainda provinciana sociedade de Porto Alegre.
Essa fase privilegiou os registros cotidianos da vida urbana da capital gaúcha (crônica de costumes), além de problematizar questões sociais e humanas do homem da modernidade nascente (notação intimista).
Nesse período destaca-se o romance Olhai os lírios do campo (1938). Outras características da primeira fase incluem:
- valores e costumes de uma pequena burguesia que a cada dia se tomava a porção social mais representativa da capital gaúcha;
- aparecimento dos mesmos personagens em mais de uma narrativa;
- utilização da técnica do contraponto, originariamente criada por Aldous Huxley (1894-1963), de quem Veríssimo traduziu o romance homônimo Contraponto; linguagem tradicional, sem recursos estilísticos mais ousados
A segunda fase da obra de Veríssimo corresponde aos três volumes de O tempo e o vento: O continente, O retrato e O arquipélago. Considerada obra-prima de Erico Veríssimo, a trilogia foi escrita entre 1948 e 1960.
Narra a saga da formação socioeconômica e política do Rio Grande do Sul, tomando como mote ficcional o entrelaçamento das histórias de duas famílias que percorrerão o épico por inteiro: os Amaral e os Terra Cambará. A região que serve de palco para a epopeia gaúcha construída pelo autor é a cidade de Santa Fé, onde o poder local era disputado palmo a palmo pelas duas famílias antagonistas. A intriga inicia-se em meio à luta entre os federalistas e os republicanos (1893).
Mais universalista, mais engajada e ainda mais madura mostra-se a fase final de Erico Veríssimo, representada por O prisioneiro (1967), O senhor embaixador (1965) e Incidente em Antares (1971). É nessa fase que o escritor gaúcho simbolicamente demonstra sua insatisfação com os encaminhamentos do golpe militar de 1964, que derrubou o presidente João Goulart e ajudou a manter o país em um regime político ditatorial por mais de vinte anos.
Por: Paulo Magno Torres