Biografias

João Cabral de Melo Neto

Considerado pela crítica o poeta brasileiro mais importante e influente da segunda metade do século XX, João Cabral estabeleceu um corte profundo e definitivo entre a poesia romântica e a modernidade poética.

Biografia

João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 1920, e morreu na mesma cidade, em 1999.

Nunca se adaptou à cidade grande e à agitação do mundo urbano: era essencialmente um homem do interior. Primo do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), autor de Casa grande & senzala, e do poeta Manuel Bandeira (1886-1968), a partir dos dez anos, estudou no colégio dos irmãos maristas até 1935.

Fotografia em preto e branco de João Cabral de Melo Neto.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999).

Aos 20 anos, viajou com a família para o Rio de Janeiro onde conheceu Murilo Mendes (1901-1975), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima (1893-1953). Em 1941, participou do Congresso de Poesia do Recife, apresentando o texto em prosa Considerações sobre o poeta dormindo. Publicou o primeiro livro de poemas, Pedra do sono, em 1942.

Em 1945 conseguiu publicar O engenheiro, em edição custeada pelo amigo Augusto Frederico Schmidt (1906-1965). Nessa época foi nomeado para a carreira diplomática, na qual atuou em diversas cidades europeias, entre elas, Sevilha, pela qual tinha predileção e que foi tema de alguns de seus poemas.

Em 1950, foi a vez de O cão sem plumas. Em 1954 recebeu o Prêmio José de Anchieta (no IV Centenário de São Paulo) pelo livro O rio. O volume Duas águas, uma coletânea dos livros anteriores, acrescido dos textos “Morte e vida severina“, “Paisagens com figuras” e “Uma faca só lâmina”, foi lançado em 1956.

Destacam-se ainda Quaderna (1960), A educação pela pedra (1966), Museu de tudo (1975), A escola das facas (1980), Auto do frade (1984), Crime na Calle Relator (1987).

Em agosto de 1968, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, mas só tomou posse quase um ano depois.

Ao saber que sofria de uma doença degenerativa incurável que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que pararia de escrever. Quando morreu, em 9 de outubro de 1999, era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.

Características da obra de João Cabral de Melo Neto

Grande parte dos críticos considera João Cabral como o melhor poeta da chamada geração de 45, bem como de toda a poesia brasileira mais recente.

Um dos traços marcantes de sua produção poética provém de seu senso de exatidão do significado da palavra, o que lhe permitiu fazer uma poesia precisa e concisa, à moda de Carlos Drummond, de quem, parece, sofreu salutar influência.

De posse dessa técnica, controlou a sentimentalidade e a subjetividade, permitindo-se equilibrar, de maneira ímpar, forma e conteúdo, e até mesmo submeter o conteúdo à forma, como no poema “Tecendo a manhã”, um dos exemplos originais de seu racionalismo.

Dono, portanto, de estilo preciso, o qual sempre esteve sob o controle da vontade do autor, João Cabral desenvolveu poesia técnica na forma. Se conseguia dizer muito com poucas palavras e só o que queria dizer, fez isso em espaços determinados do papel, previamente definidos e utilizados de forma organizada e racional.

Quando bem queria, juntava ao conteúdo, nesses espaços definidos e justos, metros exatos e rimas de “música seca”, mas intencionalmente expressivas.

É possível perceber que, em João Cabral, o processo de construção do poema é perceptível, palpável, visível, mesmo ao leitor comum, daí a razão de ele ser identificado como poeta construtor ou poeta engenheiro.

Outro traço comum em sua produção poética são as alusões que o autor faz à própria poesia. Explicando melhor: não são raras as poesias nas quais o autor discute o processo ou o trabalho de construir o poema, tática conhecida como metalinguagem.

Como poeta, mas principalmente como intelectual e filho de uma região social e economicamente pobre, como é o Nordeste, ele não poderia se furtar à sua responsabilidade social: paralelamente aos caracteres poéticos expostos acima, João Cabral desenvolveu poesia crítica, compromissada com o sentimento de tristeza e de angústia, de mistura com certa rebeldia.

No seu jeito claro, medido, contundente e direto, ainda que por meio de metáforas originais, denunciou a injustiça social vivida pelos nordestinos e o estado de esquecimento e de extorsão em que se encontravam.

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