Aventureiro e povoador português do século XVI, João Ramalho é uma das figuras mais curiosas do início do povoamento do Brasil e o grande pioneiro da colonização paulista.
João Ramalho nasceu em 1493, provavelmente em Boucela ou Vouzela, freguesia e comarca de Vizeu, que na época talvez pertencesse a Coimbra. São imprecisas as informações a seu respeito, a começar pela data de sua chegada ao Brasil. Alguns afirmam que veio com a expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1531-1532, mas, segundo o governador-geral Tomé de Sousa, Martim Afonso já o teria encontrado no Brasil ao chegar.
Pela estimativa do padre Manuel da Nóbrega, João Ramalho teria mesmo precedido Cabral em terras brasileiras. As hipóteses mais plausíveis, porém, são de que tenha aportado à região de São Vicente, entre 1508 e 1512, como náufrago, fugitivo de um navio ou, mais provavelmente, como degredado, pois, embora tenha deixado a esposa em Portugal, jamais retornou a seu país. Aclimatou-se junto aos índios guaianás e uniu-se à filha do Tibiriçá (“principal da terra”), Bartira ou Potira (“a flor”), com quem teve muitos filhos. Teve também filhos com outras mulheres, até mesmo com irmãs de Bartira.
São Vicente era já um porto conhecido na Europa nas primeiras décadas do século XVI, mas João Ramalho preferiu instalar-se na mata da serra do Mar, no local denominado Jaguaporebaba. Suas terras, e as de seus filhos, confinavam com a sesmaria dos índios da aldeia de São Miguel do Ururaí. O lugar foi descrito pelo alemão Ulrich Schmidl como um covil de ladrões. João Ramalho era respeitado, e até mesmo venerado, pelos índios, mas seus inimigos o acusavam de não ser mais que um traficante de escravos, ganancioso e prepotente.
Há dúvidas de que tenha fundado no planalto a povoação de Borda do Campo, depois Santo André da Borda do Campo, mas é certo que Tomé de Sousa o nomeou capitão da povoação, incorporada à vila de São Paulo em 1560. Assinaturas suas em documentos da época provam que foi vereador entre 1553 e 1558. Acumulou também os cargos de capitão, alcaide e guarda-mor do campo.
Homem rude, mas bravo, João Ramalho teve importante papel na formação de São Paulo e contribuiu não só para a colonização como para a catequese. Viveu seus últimos anos afastado, no vale do Paraíba, entre os tupiniquins. Em seu testamento, datado de 3 de maio de 1580, a mulher Bartira, batizada com o nome de Isabel, aparece como sua criada. É possível que a esposa portuguesa, Catarina Fernandes das Vacas, ainda estivesse viva. João Ramalho morreu por volta de 1580.