Afonso Henriques de Lima Barreto era mulato de família pobre. Aluno brilhante, estudou no Colégio Pedro II, graças à proteção do Visconde de Ouro Preto. Começou a estudar engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde foi constantemente vítima de preconceito social e racial.
Em 1903, quando seu pai enlouqueceu, deixou os estudos para assumir o sustento da família. Foi amanuense (escrivão) na Secretaria de Guerra, crítico literário e jornalista. Participou da imprensa operária e anarquista.
A revolta contra o preconceito, os problemas domésticos, a vida economicamente difícil levaram-no ao alcoolismo, que lhe rendeu crises terríveis de depressão, a ponto de precisar ser internado várias vezes em hospícios.
Características estilísticas do autor
A temática de Lima Barreto não é a alta sociedade, as damas, os saraus e toda a gama de futilidades possíveis, mas sim as pessoas humildes e humilhadas, o racismo, a vida nos subúrbios, a modéstia dos funcionários públicos, os fracassados, os alcoólatras etc.
Utiliza-se, sim, da alta sociedade para desmascará-la, desmitificá-la em sua banalidade, denunciando a ação nefasta da elite em relação aos interesses pátrios, às práticas demagógicas e corruptas de políticos, autoridades e imprensa.
Sua literatura era, de certa forma, militante: num estilo simples e comunicativo, quase jornalístico, procurava levar às camadas populares a consciência dos mecanismos da dominação social. Esse mesmo estilo, considerado “desleixado” pelos críticos da época, foi estabelecido como “brilhante” pelos futuros modernistas de 1922, que exaltaram Lima Barreto como o escritor que renovou a linguagem literária muito antes da histórica Semana de 22.
Obras
Os romances de Lima Barreto Clara dos Anjos, Triste fim de Policarpo Quaresma, Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá e Recordações do escrivão Isaías Caminha registram, de forma crítica, quase todos os grandes acontecimentos políticos e sociais de sua época, além de não raro tocar na questão da discriminação social e racial.
Nos contos, Barreto registra sua paixão pela cidade do Rio de Janeiro, com seus subúrbios, sua gente pobre semi-escrava, seus dramas tragicamente banais. É irônico com as personagens de classe média, que lutam desesperadamente pela ascensão social e vivem de ostentação, de falso moralismo, dentro de um vazio intelectual sarcasticamente farsesco.
Por: Renan Roberto Bardine