Considerado o mais rebelde e desvairado dos modernistas brasileiros, Oswald de Andrade divide com o amigo Mário de Andrade o título de artista modernista da primeira fase mais conhecido e referenciado pelo público e pela crítica.
Biografia
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em 1890, filho de abastada família paulista. Aos 22 anos, parte para Paris, onde permanece por cinco anos e é influenciado pelas vanguardas europeias, sobretudo pelas ideias futuristas de Marinetti (1876-1944).
Participa do primeiro grupo modernista com Mário de Andrade (1893-1945), Guilherme de Almeida (1890-1969), Rui Ribeiro Couto (1898-1963), Di Cavalcanti (1897-1976) e Tarsila do Amaral (1886-1973). Toma-se uma das figuras mais importantes da Semana de Arte Moderna de 1922.
Em 1924, publica o “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, um dos principais documentos do movimento. Para Oswald, “a poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos”.
Em 1926, casa-se com a pintora modernista Tarsila do Amaral.
Em 1928, lança o Movimento Antropofágico e a Revista de Antropofagia, cuja proposta principal era a de que o Brasil necessitava assimilar as influências estrangeiras para criar uma cultura revolucionária e original.
A crise da Bolsa de Nova York, em 1929, abala fortemente as finanças do poeta. No mesmo ano, rompe com o amigo Mário de Andrade e separa-se de Tarsila do Amaral. Apaixona-se pela escritora Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu (1910-1962).
Violento adversário do integralismo, do nazifascismo e da ditadura do Estado Novo (1937-1945), em 1940, Oswald lança-se, por meio de uma carta-desafio, candidato à Academia Brasileira de Letras (ABL), mas não é eleito.
Em 22 de outubro de 1954, Oswald de Andrade morre em São Paulo, cidade que foi palco de sua trajetória modernista.
Crônica de uma morte ignorada
A morte de Oswald de Andrade, em 22 de outubro de 1954, foi quase ignorada pelos jornais da época, que dispensaram apenas um canto de página para a notícia. Desprestigiado há tempos, Oswald “perdeu de goleada” no noticiário para a cobertura da semifinal do concurso de beleza Miss Elegante Bangu, notícia de destaque no dia.
Apesar disso, 80 anos depois da publicação do “Manifesto Antropófago”, a Companhia Oficina de Teatro realizou apresentação comemorativa no Sesc São Paulo.
Características do autor
A formalidade estética na criação literária, presente na produção do século XIX e da passagem para o século XX, dá lugar à linguagem coloquial, ao humor debochado e à temática da brasilidade.
Além disso, a utilização de versos livres, a enumeração aleatória de ideias, a ausência de pontuação, a diminuição das fronteiras entre poesia e prosa, o combate a valores cristalizados e falsos e a valorização do cotidiano e do progresso são características desta primeira fase modernista.
O humor, a experimentação, a ousadia formal são característicos em sua obra. Os poemas-paródia são os mais representativos, como pode ser percebido na paródia feita à “Canção do exílio“, de Gonçalves Dias (1823-1864):
Outra característica da poesia oswaldiana é a mais larga utilização de palavras “antipoéticas”; para Oswald, se a matéria-prima do poema é a realidade, toda palavra é possível em um poema. Veja, a seguir, um trecho do poema “Balada do Esplanada”:
Oswald também cria o “poema-pílula“, forma poética extremamente sintética, com condensação de sentidos.
A poesia de Oswald foi precursora de dois movimentos que só viriam a acontecer na década de 1960: o concretismo e o tropicalismo.
Principais obras de Oswald de Andrade
Entre as obras mais importantes de Oswald, figuram:
- Memórias sentimentais de João Miramar (1924): primeiro romance do Modernismo em que a estrutura narrativa é fragmentada. Comparado aos romances tradicionais, Memórias traz uma técnica narrativa original: são ao todo 163 pequenos capítulos, quase flashes, constituídos como fragmentos da realidade.
- O rei da vela (1937): incursão de Oswald na dramaturgia, a peça tematiza a realidade brasileira dos anos 1930, e só viria a ser encenada 30 anos depois (em razão de seu caráter pouco convencional), integrando-se à história do tropicalismo.
Além dessas, o escritor produziu obras de destaque em diversos gêneros:
Poemas
- Pau-Brasil (1925)
- Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927)
- Cântico dos cânticos para flauta e violão (1945)
- O escaravelho de ouro (1945)
Romances
- Os condenados (1922)
- Serafim Ponte Grande (1933)
- Marco zero I — a revolução melancólica (1943)
- Marco zero II — chão (1945)
Teatro
- A morta (1937)
- O homem e o cavalo (1934)
Ensaios
- Ponta de lança (1945)
- A Arcádia e a Inconfidência (1945)
- A crise da filosofia messiânica (1950)
Fonte: ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo/ Secretaria de Estado da Cultura, 1990.
Por: Wilson Teixeira Moutinho