Segundo grande parte dos estudiosos, Pitágoras foi o primeiro a usar o termo “filosofia” (no sentido que depois será encontrado em Platão, como “amizade pelo saber”) e o primeiro a chamar-se de “filósofo”.
Pitágoras fundou uma escola de caráter místico e político em Crotona, inspirada em tradições orientais e no orfismo, seita que afirmava a transmigração da alma e a necessidade de o homem purificar-se para livrar-se das continuas reencarnações.
Pitágoras e o ar infinito
Pitágoras criou um sistema para explicara origem da natureza. Nesse sistema, o “ar infinito” desempenhava o papel principal. Segundo Pitágoras, as áreas mais próximas desse ar infinito penetravam no mundo e separavam suas partes, criando os seres e as coisas, a multiplicidade e os números. Todos esses seres e coisas, dizia o filósofo, têm uma natureza comum, divina. Mas o homem somente percebe isso quando está em harmonia com o mundo. E para alcançar essa harmonia ele precisa da razão, que o leva a entender a essência escondida atrás da aparência das coisas.
Usando a razão, o homem compreende que a essência do mundo é composta por relações numéricas. Quando essas relações estão numa proporção justa (métron), existe harmonia. Um bom exemplo disso, argumentava Pitágoras, é a música. Os acordes soam agradáveis, harmônicos, quando a relação numérica entre as notas musicais tem a medida justa. A ausência dessa medida justa produz sons desagradáveis, sem harmonia.
O texto de Aristóteles, a seguir, resume as ideias da escola pitagórica.
“Os chamados pitagóricos dedicaram-se à matemática e fizeram essa ciência progredir. (…) acreditaram que os princípios da matemática eram os princípios de todos os seres. E como os números são, por natureza, anteriores às coisas, os pitagóricos acreditavam perceber nos números, mais do que no fogo, na terra e no ar, uma maior semelhança com o que existe e com o que está em constante mudança. Desse modo, eles viam, numa certa modificação desses números, a justiça; noutra, a alma; noutra, a ocasião favorável (…) Por último, viam nos números as razões eproporções da harmonia. Vendo, então, que tudo estava formado à semelhança dos números (…) pensaram que os elementos dos números são os elementos de todos os seres, e que a totalidade do céu era harmonia e número.”
ARISTÓTELES, Metafísica, I, 985b20-985a3.
A escola pitagórica
A organização “docente” da escola de Pitágoras era rígida. Havia alunos acusmáticos, isto é, obrigados a ouviras lições em silêncio; uma vez “aprendido” o silêncio, podiam começar a perguntar e a expressar o que sentiam ou pensavam. Então, eram chamados de matemáticos, porque “podiam aprofundar-se naquilo que aprendiam e, por isso, eram instruídos nos fundamentos da ciência, ao contrário dos acusmáticos, que atendiam somente aos compêndios de livros, sem pensar por que diziam o que diziam” (Porfírio, A vida de Pitágoras, 37).
A contribuição de Pitágoras à filosofia e à matemática confunde-se com a de sua escola. Nela, a álgebra e a aritmética foram aperfeiçoadas, foi realizada uma classificação dos poliedros regulares, elaborada uma teoria musical com base na matemática e formulado o teorema de Pitágoras.