Simone de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908, descendente de uma família católica e com uma boa situação econômica. Estudou filosofia na Sorbonne, onde conheceu Jean-Paul Sartre em 1929; desde então, suas vidas estiveram estreitamente unidas.
Professora no Liceu Janson-de-Sailly, foi colega de Merleau-Ponty e Claude Lévi-Strauss. Mais tarde tomou-se docente em Paris, Marselha e Rouen. Em 1941 foi destituída do cargo pelo governo nazista. Durante a Segunda Guerra Mundial, Simone refletiu sobre os compromissos sociais e políticos dos intelectuais. Voltou a ensinar até 1943, data em que o sucesso obtido por sua primeira novela,
A convidada, permitiu-lhe dedicar-se profissionalmente a escrever. Nessa primeira obra, abordou temas existencialistas, como a liberdade e a responsabilidade.
Com Sartre, Merleau-Ponty, Raymond Aron e outros, fundou, em 1945, a revista Les Temps Modemes [Tempos Modernos].
A publicação de O segundo sexo (1949) confirmou-a como figura representativa do feminismo. Em 1954 recebeu o prêmio Goncourt pela novela Os mandarins. Em 1970, ajudou a lançar o Movimento de Liberação das Mulheres Francesas e, em 1973, inaugurou a seção feminista da revista Les Temps Modemes. Sua paixão por viagens levou-a aos Estados Unidos, a Cuba e, juntamente com Sartre, à China comunista e ao Brasil (1960).
Em seus textos, Simone faz uma profunda análise de seu tempo e de sua própria vida, como em Memórias de uma moça bem comportada (1958) ou A velhice (1970). Em Cerimônia do adeus (1981), narrou os últimos dez anos que passou com Sartre. Simone de Beauvoir morreu em Paris em 14 de abril de 1986.
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Simone de Beauvoir e a ética existencialista
No ensaio Por uma moral da ambiguidade (1947), Simone de Beauvoir rejeita as teorias éticas que buscam a consolação do homem, sejam laicas ou religiosas. Depois da Segunda Guerra Mundial, diz ela, deve-se considerar a história humana um fracasso. Já não podem ser formulados imperativos éticos, considerando que estes não podem vincular toda a humanidade; portanto, a moral deve ser individualista, outorgando ao indivíduo o poder absoluto para fundamentar sua própria existência com base em sua liberdade de escolha.
O homem é livre porque é um ser-para-si, tem consciência e projeto. Ser livre é fazer coincidir consciência e liberdade, pois a “consciência de ser” é “consciência de ser livre”.
A liberdade obriga o ser humano a realizar-se e a fazer-se. Cada pessoa desenvolve-se estabelecendo seus próprios fins com base em sua liberdade, sem necessidade de apoiá-los em significados ou validações externas. As metas das ações humanas são estabelecidas como fins pela própria liberdade do ser que atua.
Deve-se assumir a absoluta liberdade de escolha com a responsabilidade que ela acarreta; os projetos devem surgir da espontaneidade individual e não de qualquer tipo de autoridade externa, seja individual ou institucional. Isso conduz Simone a rejeitar o conceito de Absoluto hegeliano, o conceito cristão de Deus e de entidades abstratas como a humanidade ou a ciência, que supõem a renúncia individual à liberdade.
Ela conclui que não existem absolutos aos quais os homens devam ajustar sua conduta. Portanto, ao levar adiante seus projetos, o ser humano assume o risco e a incerteza que eles acarretam. Por outro lado, as ações devem levar em consideração os outros seres humanos. Simone postula a necessidade de olhar o outro como o eixo da liberdade individual, porque sem os outros ninguém poderia ser livre.
Por: Paulo Magno da Costa Torres
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