Para conseguir saciar a fome mundial, seria necessário duplicar a atual produção de alimentos até o ano de 2025. E segundo muitos especialistas, somente com alimentos transgênicos essa meta seria possível.
Porém nem todos apoiam essa solução, alegando danos para o meio-ambiente e para a saúde por parte dos transgênicos. Mas há muitos que a apoiam, afirmando que esses alimentos trazem benefícios tanto para a saúde e a natureza quanto para a economia.
Transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs) são seres vivos cuja estrutura genética, seu DNA, foi modificado pelo homem através da engenharia genética, de modo a atribuir a esses seres uma determinada característica não programada por sua natureza.
Parece ficção, mas é a mais pura realidade. A manipulação genética de alimentos é hoje um processo irreversível. Para se Ter uma ideia, segundo dados do Greenpeace, em 1990 não haviam lavouras comerciais de soja transgênica. Já em 1998, a área cultivada tinha superado os 28 milhões de hectares.
Os principais cultivos de transgênicos hoje são o de soja, milho, algodão, e batata. No Brasil, a Embrapa estuda os transgênicos desde 1981. O primeiro projeto introduziu genes da castanha-do-pará no feijão para aumentar seu valor nutricional. Hoje a Embrapa trabalha com soja, banana, algodão, abacaxi, batata, entre outros.
Como alimentos transgênicos são obtidos?
Embora o tema tenha se tornado popular com o cultivo de lavouras experimentais, modificações genéticas são realizadas desde os anos 80. O começo se deu com alterações nos genes de microrganismos, como bactérias.
Como nas plantas transgênicas, o processo utilizado para a modificação do conteúdo genético consiste, basicamente, na inserção de genes de outras espécies, sejam elas vegetais ou animais, ou até mesmo de micróbios, os transgenes poderão ser retirados originalmente de formas de vida totalmente distintas.
Por exemplo, um tipo de milho transgênico cuja característica implantada consiste na produção de suas próprias defesas contra insetos, poderá ter sua sequência genética alterada através da inserção de genes de uma bactéria danosa ao inseto.
Controvérsias
Nem tudo são flores. Além de questões ambientais, os alimentos transgênicos também geram dúvidas quanto aos riscos à saúde humana. Dada a própria novidade da tecnologia da engenharia genética, os efeitos que os transgênicos poderão causar no organismo humano e no meio-ambiente a médio e a longo prazo ainda são desconhecidos, não havendo nenhuma conclusão definitiva sobre o assunto.
Os cientistas levaram 45 anos para descobrir que o gás CFC era extremamente prejudicial à camada de ozônio. Em 1947, quando se iniciou o uso de DDT em lavouras, só se conheciam seus efeitos positivos. Foram necessários 20 anos para que os malefício à saúde humana pudessem ser comprovados.
Os principais argumentos contrários vêm de ecologistas que apontam os transgênicos como vilões, afirmando que a ciência não tem controle total sobre o funcionamento dos genes, e que só o interesse econômico justifica a velocidade com que os transgênicos estão chegando à mesa do consumidor; não porque são mais produtivos, mas porque podem ser patenteados e garantir altos lucros.
Isso é um grande problema, já que apenas 10 países respondem por 84% dos recursos para pesquisa e desenvolvimento no mundo e controlam 95% das patentes. Pessoas ou empresas de países industrializados detém os direitos sobre 80% das patentes concedidas nos países subdesenvolvidos. Quais seriam os efeitos de tamanha dependência nesse setor? Como ficariam as populações de países em desenvolvimento que não podem pagar o preço dessa nova tecnologia?
Os ambientalistas até já criaram um apelido para esses tipo de comida: Frankenfood, uma mistura de Frankenstein e food (comida em inglês).
Não é simples nem inócuo mexer com a natureza. Muitos cientistas também alertam para o perigo da manipulação genética. Uma empresa dos Estados Unidos patenteou um gene apelidado de “exterminador”. Ele é incorporado às sementes, que após colhidas passar a ter sementes estéreis. Isto obriga o agricultor a comprar a semente sempre que for plantar. O gene exterminador poderá ser levado pelo vento junto com os grãos de pólen e fecundar as flores de plantas silvestres ou domésticas, tornando-as também estéreis, e provocando uma irreparável destruição no patrimônio biológico da humanidade.
Outro problema gravíssimo, afirmam os antitransgênicos, é a perda do controle sobre esses alimentos, fazendo com que outros sejam afetados, o que prejudicaria outras espécies de plantas, além de animais, causando um desequilíbrio ecológico com consequências imprevisíveis. Um exemplo disso é o caso do estudo comandado pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, sobre a enorme mortalidade de borboletas Monarch após serem alimentadas com o pólen do milho geneticamente modificado Bt. Losey, depois que houve falhas de controle em sua experiência.
Enfim, são muitos os malefícios que os transgênicos podem causar. Mas a maioria dos cientistas acha que isso é paranoia. O doutor em Genética e pesquisador da Embrapa, Manuel Teixeira Souza Júnior afirma que:
“A engenharia genética permite que se façam alterações pontuais nos genomas, utilizando genes cuja ação é estudada antes e depois de serem inseridas na planta. Já a obtenção convencional de híbridos por cruzamento envolve um conjunto de genes que sequer são conhecidos. É como abater um alvo no escuro.”
Quanto ao argumento de que os OGMs podem provocar alergias ou mal-estar, o professor de Bioquímica Walter Ribeiro, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que mesmo os alimentos naturais apresentam inibidores de enzimas capaz de causar distúrbios.
Hoje a discussão sobre os transgênicos não é apenas biológica. É também ética e econômica. Para o atual presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Renan Proença:
“a discussão sobre os organismos geneticamente modificados não pode restringir-se ao campo ideológico ou do puro palpite. A agricultura de hoje é muito poluidora e a biotecnologia tem como uma das funções resolver esse problema”.
Para ele a engenharia genética “é uma conquista para incrementar o progresso humano e não um monstro que deve ser combatido como um inimigo”.
Referências Bibliográficas
GUÉRIN – MARCHAND, Claudine. Manipulações genéticas. 2. ed. São Paulo : EDUSC, 1999. p 228-229.
OLIVEIRA, Fátima. Engenharia genética: o sétimo dia da criação. 3. ed. São Paulo : Moderna, 1995, p 18-19.
MELLO, Mariana. Comida Frankenstein. Superinteressante, São Paulo : Abril, ano 14, n.º 11, p. 48-54, nov. 2000.
SILVA, Jaime. O enigma dos transgênicos. Jornal Zero-Hora, Porto Alegre, 9 jun. 2001, p. 4.
Por: Cauan L. Dantas