Os lisossomos são pequenas vesículas, originadas pelo complexo de Golgi, repletas de enzimas digestivas de todos os tipos. Assim, estão diretamente relacionados com a digestão intracelular de materiais diversos. Alguns desses materiais provêm de fora da célula, enquanto outros são de origem celular.
Os lisossomos foram descobertos em 1955 pelo citologista belga Christian De Duve. Hoje, é bem conhecida sua ação em células como amebas e glóbulos brancos.
O esquema seguinte nos dá uma boa ideia de como os lisossomos funcionam. As enzimas do lisossomo, como qualquer outra proteína, são produzidas pelos ribossomos no retículo rugoso. Em seguida, são transferidas aos “sacos achatados” do complexo de Golgi, que finalmente as “empacota” em vesículas liberadas no hialoplasma celular.
Os lisossomos podem também digerir material proveniente da própria célula. Orgânulos fora de uso, por exemplo, são digeridos, e as moléculas que os compõem, reaproveitadas pela célula. Neste caso, o lisossomo primário engloba o orgânulo, constituindo um vacúolo digestivo especial, chamado de vacúolo autofágico (de auto = a si mesmo, fago = comer; neste caso, significa “comer material da própria célula”). Essas vesículas são os lisossomos propriamente ditos, também chamados lisossomos primários.
Quando a célula engloba alguma partícula externa, como de alimento, por exemplo, forma-se um vacúolo alimentar, ou fagossomo. Um lisossomo se funde então ao vacúolo alimentar. Dessa forma, as enzimas digestivas presentes no lisossomo ficam em contato com a partícula a ser digerida, sendo formado o vacúolo digestivo, ou lisossomo secundário. As moléculas de nutrientes provenientes da digestão podem sair do vacúolo digestivo através de sua membrana e difundir-se no hialoplasma. No agora chamado vacúolo residual, sobram substâncias não digeridas e restos de enzimas. Em alguns tipos de células, o vacúolo residual funde-se à membrana plasmática e despeja seu conteúdo para o ambiente externo, num processo que pode ser chamado de defecação celular, ou clasmocitose.
Lisossomos e organismos pluricelulares
Quando se trata de organismos unicelulares, como uma ameba, é fácil compreender a importância dos lisossomos, já que permitem à célula “desmontar” moléculas complexas vindas de fora para utilizar na sua nutrição. Nos animais pluricelulares, porém, o alimento é “desmontado” não nas próprias células, mas sim no tubo digestivo. Assim, as células recebem moléculas simples já prontas, não tendo a necessidade de “desmontá-las”. Neste caso, poderíamos nos perguntar: qual seria a função dos lisossomos em organismos pluricelulares?
As respostas são variadas. No caso dos leucócitos, por exemplo, que englobam microrganismos invasores, o papel de digestão dos lisossomos não está ligado à nutrição, mas sim à destruição do invasor, à defesa do corpo. Além disso, a reciclagem de materiais das próprias células somente pode acontecer se houver lisossomos.
O gráfico ao lado mostra, em vários estágios da metamorfose, a porcentagem de enzima digestiva em função do tamanho da cauda. Repare: quanto menor a cauda, maior a porcentagem de enzima. Na realidade a quantidade total de enzima é a mesma em todos os estágios: a enzima não é consumida na reação. O que muda é a concentração, já que a massa da cauda vai diminuindo aos poucos, sem que mude a quantidade de enzima.Um exemplo interessante da reciclagem de materiais é dado pelo estudo da cauda do girino durante sua metamorfose: inicialmente longa em relação ao corpo, ela é gradativamente reabsorvida. Essa reabsorção ocorre de forma simultânea ao aparecimento e crescimento das patas. Os lisossomos estão certamente implicados neste fenômeno. As células da cauda, a partir de um determinado momento, sofrem autodigestão gradativa, causada pelo rompimento de seus próprios lisossomos. O material proveniente da digestão é aproveitado para o crescimento de outras partes do organismo em transformação, como por exemplo das patas.
A exemplo do que ocorre com a cauda do girino, o lisossomo deve ter muitas outras funções semelhantes no desenvolvimento embrionário de organismos pluricelulares, permitindo, no momento correto, a reabsorção de certas estruturas e o aproveitamento da matéria-prima resultante para a formação de outras.
Há casos de patologia celular pelos quais os lisossomos são, direta ou indiretamente, responsáveis. A silicose, doença dos pulmões que ataca trabalhadores de minas, é causada pela inalação de partículas de sílica, ao longo dos anos. Aparentemente, essas partículas penetram nas células e provocam a destruição da membrana lisossômica, o que leva à autólise da célula. As enzimas, por sua vez, atacam as células vizinhas, e aos poucos atingem grande parte da área respiratória.
Por: Renan Bardine