O desenvolvimento pré-natal é dividido em três períodos, estabelecidos pela maioria dos embriologistas: período pré-embrionário, que vai da fecundação até a terceira semana de desenvolvimento, período embrionário, que vai da quarta semana à oitava semana, e o fetal, que vai do terceiro mês até o final da gestação.
Período pré-embrionário – vai da fecundação até a gastrulação. No final da terceira semana o embrião já tem o tubo neural formado, embora ainda esteja aberto nas duas extremidades.
Período embrionário – no início da quarta semana e durante os próximos 10 dias surgem os somitos, sendo possível determinar-se à idade do embrião pelo número de pares de somitos. Assim com 20 dias de desenvolvimento de 1 a 4 pares de somitos; com 21 dias de 4 a 7 pares de somitos; com 22 dias de 7 a 10 pares de somitos e com 30 dias de 34 a 35 pares de somitos.
Costuma-se, a partir do segundo mês, expressar a idade do embrião pelo comprimento vértice-nádega que é dado pela distância entre a linha reta do vértice cefálico até a região caudal.
Como o grau de curvatura difere de um embrião para outro, as medidas fornecidas pelo comprimento vértice-nádega fornecem valores aproximados da idade do embrião. Dentro do segundo mês ainda ocorre a formação da face e dos membros. Os membros aparecem como projeções cônicas, lembrando a estrutura dos animais adaptados à vida aquática.
Período fetal – no terceiro mês o embrião adquire aspecto humano e passa a ser chamado feto. Neste período ocorre essencialmente o crescimento do feto, sendo porém o crescimento da cabeça menor do que o do corpo. Isto justifica o fato de que no início do terceiro mês, a cabeça constitui praticamente a metade do comprimento do feto e no final do terceiro mês reduz para um terço doe comprimento do feto.
Neste período, como os membros anteriores e posteriores estão formados, o comprimento do feto é dado pela medida vértice-talar (V-T) que corresponde à altura do feto em pé.
ÂMNIO
O âmnio forma-se com cerca de sete dias de desenvolvimento, na forma de um saco membranoso que envolve o embrião e posteriormente o feto. Com o desenvolvimento do âmnio ele fecha gradativamente a cavidade coriônica e as bainhas do cordão umbilical, formando para o cordão umbilical seu revestimento epitelial.
No interior do âmnio acumula-se o líquido amniótico que inicialmente dever ser sintetizado pelas próprias células do âmnio, mas que posteriormente deverá provir do soro materno, já que apresenta a mesma constituição em solutos do soro materno, e suas células são dotadas de microvilosidades que provavelmente desempenham papel de transferência do líquido amniótico. Descarte que o feto também contribui, pois excreta urina no líquido amniótico e no final da gravidez o feto elimina cerca de 500 ml de urina no líquido amniótico diariamente.
O volume de líquido amniótico aumenta gradativamente. Assim temos cerca de 30 ml no início do 3º mês, 350 ml no final do 5º mês e cerca de 1.000 ml no final da gravidez.
Quando o volume de líquida amniótico está diminuindo (cerca de 400 ml) no trimestre final da gravidez, a isto chamamos oligoidrâmnio e pode estar relacionado com a agenesia renal do feto, não fornecendo urina para o líquido amniótico ou com problemas placentários, por exemplo, redução do fluxo sanguíneo. Por outro lado, podemos ter aumento exagerado do líquido amniótico (cerca de 2000 ml), a isto chamamos polidrâmnio. Neste caso o feto apresenta problemas de deglutinação, como atresia esofagiana que impede a passagem de líquido para o estomago e intestino ou com mal formações do sistema nervoso como anencefalia.
O líquido amniótico estando aumentado pode ser que o feto não esteja deglutindo o líquido amniótico. Isto equivale a dizer que em situações normais o feto absorve no último trimestre de gravidez, cerca de 400 ml de líquido amniótico por dia, passando a maior parte do líquido para o trato gastrintestinal e pequena parcela para os pulmões.
A análise do líquido amniótico feita por punção, processo denominado amniocentese permite na detecção de análises cariotípicas, pois este contém células fetais em suspensão, dando para detectar-se anomalias cromossômicas. Também como o líquido amniótico serve de depósito para excretas fetais, quando a urina fetal é adicionada ao mesmo, permite a análise bioquímica de enzimas fetais, aminoácidos, hormônios e outras substâncias fetais.
Portanto, podemos dizer que o líquido amniótico se compõe de células fetais descamadas e de substâncias orgânicas e inorgânicas e cerca de 98% de água. Devemos lembrar que dos componentes orgânicos temos 50% de proteínas e outros 50% são de carboidratos, lipídios, enzimas, pigmentos e hormônios.
As funções que o líquido amniótico desempenha são as seguintes:
- permite o crescimento externo simétrico do embrião;
- protege o embrião contra choques mecânicos;
- impede a fixação do embrião contra as paredes que o contém;
- mantém a temperatura corporal do embrião relativamente constante;
- permite ao feto movimentar-se livremente; isto ajuda no desenvolvimento musculoesquelético fetal.
SACO VITELINO
O saco vitelino também se forma no início do desenvolvimento embrionário e no final da segunda semana de desenvolvimento embrionário. mesmo já adquiriu uma forma definitiva, sendo formado por endoderma revestido externamente por mesoderma extraembrionário. No início do terceiro mês, observa-se que a vesícula vitelina diminui e adquire um aspecto periforme, estando ligada ao intestino médio pelo pedículo do saco vitelino. No inicio do 5º mês a vesícula vitelina é muito pequena e posteriormente é praticamente impossível visualizá-la.
Evidentemente que no caso humano ela não é funcional do ponto de vista de armazenamento de vitelo. Evidentemente tem outras funções importantes para o desenvolvimento embrionário humano, como os que seguem:
1 – transferência de nutrientes para o embrião, na 2ª e 3ª semanas de desenvolvimento enquanto se processa a circulação uteroplacentária;
2 – da 3ª a 5ª semana de desenvolvimento o saco vitelino tem função hematopoiética, isto é, formadora dos elementos do sangue. Somente na 6ª semana é que o fígado inicia sua função hematopoiética ;
3 – durante a 4ª semana, parte dorsal do saco vitelino é incorporada ao embrião como intestino primitivo ;
4 -na 3ª semana, a parede do saco vitelino forma as células germinativas primordiais que posteriormente migram para as gônadas onde originam as células germinativas (espermatogônia ou ovogônia).
ALANTÓIDE
Surge precocemente no desenvolvimento embrionário, parecendo provável que o mesmo derive do teto do saco vitelino no ponto em que este está em contato vem a área posterior do disco germinativo ou blastoderma (futura região posterior do embrião). Estruturalmente representa um saco alongado, sendo formado por um epitélio endodérmico revestido por mesoderma extraembrionário. No homem o crescimento do alantoide para no segundo mês de desenvolvimento e a partir daí regride, obliterando-se por completo. Resquícios desta formação podem ser vistos no cordão umbilical de fetos de poucos meses.
Seu significado funcional no desenvolvimento embrionário humano são os seguintes:
1. função hematopoiética com formação dos elementos figurados do sangue da 3ª até a 5ª semana de desenvolvimento embrionário.
2. vasos sanguíneos derivados do alantoide formam as duas veias e artérias que correm no cordão umbilical.
Já nos referimos que a porção intra-embrionária do alantoide vai do umbigo à bexiga urinária, com a qual é contínua. À medida que a bexiga cresce, o alantoide regride para formar o úraco. Após o nascimento o úraco torna-se um cordão fibroso, o ligamento umbilical mediano que vai do teto da bexiga ao umbigo.
PLACENTA
Órgão responsável pelas trocas metabólicas entre a mãe e o feto, sendo formada por tecido fetal (cório) e por tecido materno (endométrio uterino). Hoje tende a se considerar a placenta como um sistema de transferência entre a mãe e o feto e não mais como uma membrana interposta entre a mãe e o feto com finalidade de proteção contra drogas ingeridas pela mãe, ataque de microrganismos etc.
Anteriormente nos referimos que no 7° dia de desenvolvimento, o trofoblasto diferenciava-se em citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto, este por sua vez aprofundava-se como raízes no endométrio uterino, sendo que o ovo em desenvolvimento ficava envolvido pela mucosa uterina, que agora é referida como decídua, sendo que as células deciduais tornam-se hiperplásicas, com grande acúmulo de glicogênio e lipídios.
A implantação pode ocorrer em qualquer região da mucosa uterina, sendo que normalmente esta se dá nas paredes laterais ou anterior e posterior e ainda m fundo do útero. Portanto em relação ao local da implantação podemos distinguir três decíduas. Em primeiro lugar temos a região em que se implanta o ovo, portanto é a porção subjacente ao embrião e que representa o componente materno da placenta a que nos referimos como decídua basal. A decídua basal contribui pouco para a formação da placenta, constituindo cerca de 7 mm de espessura no final da gravidez. Em segundo aparece à porção que envolve todo o embrião, é a decídua capsular. E por último todo o restante da mucosa uterina referida agora atrai decídua parietal.
Com cerca de 12 dias de desenvolvimento os cordões trofoblásticos crescem em toda a superfície do embrião e se organizam formando estruturas digitiformes chamadas vilosidades primárias. Com cerca de 20 dias de desenvolvimento, as vilosidades adquirem um eixo de mesênquima e são referidas como vilosidades secundárias ou coriônicas.
Mais ou menos até o final do segundo mês, as vilosidades cobrem toda a superfície do saco coriônico. Com o desenvolvimento do saco coriônico as vilosidades associadas à decídua capsular comprimidas e o seu suprimento sanguíneo reduzidos. Posteriormente, estas vilosidades degeneram, produzindo uma área praticamente avascular denominada de cório liso.
No terceiro mês as vilosidades ramificam-se muito, adquirindo aspecto arborescente podendose observar um tronco viloso de onde partem ramos, sendo que as extremidades de alguns destes ramos chegam até a decídua basal onde se fixam. Nos pontos de fixação dos ramos com a decídua basal, o trofoblasto se prolifera e reveste toda a superfície da decídua basal. Portanto, a cavidade por onde circula o sangue materno se encontra revestida totalmente por células originadas do trofoblasto.
Como o sinciciotrofoblasto não digere totalmente a mucosa uterina da decídua basal, deixando regiões que são denominadas por septos deciduais, são constituídos por cristais descontínuas que delimitam espaços irregulares, os cotilédones que representam a unidade morfofuncional da placenta e contém troncos vilosos banhados por sangue materno.
No quarto mês de desenvolvimento embrionário a placenta está totalmente formada, mas seu crescimento persiste até o final da gravidez quando apresenta forma discoide, pesa cerca de 600 g, possui um diâmetro de cerca de 20 cm e uma espessura de cerca de 3 cm, sendo que a face fetal é lisa e nela se insere o cordão umbilical e a materna é irregular devido à presença de septos deciduais.
Convém ressaltar que o sangue embrionário circula nas áreas infra e extraembrionária, como sangue venoso, sendo levado até os capilares dos reptos deciduais que estão mergulhados no sangue materno, mas sangue materno e embrionário não se misturam graças à barreira placentária que são interpostas entre a circulação materna e fetal. No caso humano a barreira placentária é composta por sinciciotrofoblasto, mesênquima e endotélio dos capilares fetais. No quinto mês as células citotrofoblásticas desaparecem, reduzindo a espessura desta barreira e os capilares fetais aproximam do sinciciotrofoblasto diminuindo a camada de mesênquima que fica entre sinciciotrofoblasto e endotélio.
HORMÔNIOS PLACENTÁRIOS
A placenta produz hormônios proteicos e esteroides. Os hormônios proteicos são representados pela gonadotrofina coriônica e somatotrofina coriônica; já os esteroides são representados por estrógeno e progesterona.
Hormônios proteicos: o hormônio gonadotrofina coriônica é uma glicoproteína produzida pelo sinciciotrofoblasto e sua função é manter o corpo lúteo em funcionamento, permitindo a manutenção do endométrio uterino até que a placenta produza esterógeno e progesterona. Portanto, este hormônio tem ação similar à do hormônio luteinizante hipofisário.
A síntese deste hormônio inicia-se logo depois da implantação e sua concentração máxima no sangue e urina é atingida por volta da 8ª semana de gravidez, e partir daí, sua concentração vai diminuindo gradativamente.
Dosagem da gonadotrofina coriônica constitui a base dos vários testes de gravidez, além de fornecer indicações seguras sobre o desenvolvimento do trofoblasto. Quando as dosagens estão altas, pode indicar:
a) gravidez múltipla, isto é, leva à formação de gêmeos;
b) mola hidatiforme, representa uma neoplasia benigna, onde as vilosidades apresentam-se sem vasos sanguíneos, trofoblasto com única camada de células e cada célula bastante distendida assemelhando-se a cachos de uva.
As molas hidatiformes normalmente se localizam na cavidade uterina e raramente nos locais de gravidez etiópica, sendo comum o crescimento uterino além do esperado para aquele tempo de gravidez, entretanto o seu desenvolvimento leva a uma estrutura deformada e amolecida. É óbvio que as molas de volume reduzido não alteram o volume uterino.
c) Coriocarcinoma – é uma forma de tumor maligno dos elementos trofoblásticos, cuja incidência fica ao redor de 2,5%. Sua característica fundamental é a anaplasia acentuada, exibindo e mesma morfologia dos tumores benignos e até mesmo do trofoblasto das gestações normais. Propaga-se o coriocarcinoma pela via hematogênica, apesar de ser um tumor epitelial, sendo desprovido de vasos sanguíneos próprios e de tecido conjuntivo. As lesões são infiltrantes, invasoras ou metastatizantes, órgãos longínquos poderão exibi-las, sendo a localização mais comum das metástases os pulmões, sistema nervoso central, fígado, rins, pele, coração, intestinos, vulva e vagina. Todavia existem casos em que o coriocarcinoma é localizado (in situ) e portanto desprovido de poder invasor, sendo seu prognóstico bom, uma vez que no seu acompanhamento os acidentes representam exceção.
A síntese de somatotrofina coriônica ou hormônio de crescimento placentário cresce gradativamente até a 38ª semana de desenvolvimento; a partir daí permanece o seu nível estável ou diminui muito pouco. Se a concentração de somatotrofina coriônica atingir níveis baixos, podemos suspeitar de lesão placentária que pode levar o feto a um déficit da taxa de oxigênio. As dosagens deste hormônio representam uma maneira eficaz de se fazer uma avaliação da função placentária.
Os hormônios esteroides são sintetizados pelo sinciciotrofoblasto e suas concentrações aumentam gradativamente durante a gravidez. A função da progesterona é manter o endométrio uterino desenvolvido para que a gravidez chegue até o final. Admite-se que o aumento da concentração de estrógeno placentário leva a um aumento da sensibilidade do miométrio à ação do ocitocina, hormônio hipofisário responsável pelas contrações uterinas que ocorrem durante o parto.