O que somos? Para os biólogos, o animal humano é membro da subespécie chamada Homo sapiens sapiens, que representa uma divisão da espécie conhecida como Homo sapiens. Cada espécie é única e distinta; isto faz parte do próprio conceito de espécie.
Mas o que há de particularmente interessante sobre o animal humano?
Para começar caminhamos sempre eretos sobre nossos membros inferiores, o que é uma maneira incomum para um mamífero ir de um lugar a outro. Existem também diversas características incomuns quanto a nossa cabeça, entre as quais o cérebro bastante volumoso que ela abriga.
Uma segunda característica incomum do animal humano é a face estranhamente achatada, com um nariz proeminente voltado para baixo; os antropoides e macacos têm faces projetadas para a frente em focinho, com narizes “amassados” no topo desse focinho.
Existem muitos mistérios a respeito da evolução do homem, e a razão para nosso nariz de formato inusitado é um deles. Outro mistério do animal humano é a nudez, ou nossa aparente nudez. Diferentemente dos antropoides, não somos cobertos por uma capa de pelos espessos.
O pelo do corpo humano é abundante, mas extremamente fino e curto, de modo que, para todos os fins práticos, estamos nus. Provavelmente, isso tem algo a ver com a segunda característica interessante de nosso corpo: a pele é copiosamente coberta por milhões de microscópicas glândulas sudoríparas. A capacidade do animal humano de suar é inigualada no mundo primata.
Isto quanto a nossa aparência; e quanto ao comportamento do animal humano?
Nossos membros superiores, liberados de ajudar na locomoção, possuem um alto grau de habilidade manipulativa. Parte dessa habilidade repousa na estrutura anatômica das mãos, mas o elemento crucial é, sem dúvida, o poder do cérebro.
Não importa a habilidade dos membros para uma manipulação minuciosa: eles não possuem utilidade na ausência de instruções primorosamente enviadas através de fibras nervosas. O produto mais óbvio de nossas mãos e cérebro é a tecnologia. Nenhum outro animal manipula o mundo na extensão e da maneira arbitrária como faz o animal humano.
As térmitas são capazes de construir montículos intrincadamente estruturados, que criam seu próprio meio ambiente com “ar condicionado” interno. Mas as térmitas não podem optar por, em vez disso, construir uma catedral. Os humanos são únicos porque possuem a capacidade de escolher o que fazem.
A comunicação é um traço vital de todo o mundo animal. Insetos sociais como as térmitas possuem um sistema de comunicação que é, sem dúvida, essencial para seus trabalhos complexos: sua linguagem não é verbal, mas se baseia na troca de substâncias químicas entre os indivíduos e em certos tipos de sinalização com o corpo.
Em muitos grupos animais, tais como os pássaros e os mamíferos, a comunicação por meio de sons é importante, e a postura e movimentos do corpo podem também transmitir mensagens. Inclinar a cabeça, fixar ou desviar o olhar, arquear as costas, eriçar pelos ou penas — tudo isso faz parte de um extenso repertório de sinais animais. Nas espécies que vivem em grupos, a necessidade de serem capazes de se comunicar efetivamente é de primordial importância.
Para o animal humano, a linguagem corporal é ainda muito importante, mas a voz passou a ser o canal principal para o fluxo de informações. Diferentemente de qualquer outro animal, temas uma linguagem falada, a qual é caracterizada por um amplo vocabulário e por uma complexo estrutura gramatical. A fala é um meio sem paralelos para a troca de informações complexas. E também uma parte essencial das interações sociais da mais social de todas as criaturas: o Homo sapiens sapiens.
LEAKEY, Richard E., A evolução da humanidade, São Paulo, Melhoramentos, 1981, pp. 18-20.