Fisiologia

Ocitocina, o hormônio do amor

A sintetização e liberação de determinados hormônios no organismo, em descargas realizadas na corrente sanguínea está associada ao desencadeamento de emoções e sentimentos. A ocitocina é um desses hormônios e, popularmente, é conhecido como o “hormônio do amor“. A ocitocina tem um papel fundamental na vida das mães – ela atua nas contrações do útero durante o parte e no pós-parto exerce influência na produção de leite materno.

Como ocorre com outros hormônios, estudos e pesquisas hoje analisam como esse hormônio interfere nas relações pessoais e na construção de laços entre seres humanos. Do mesmo modo, avaliam até que ponto a produção sintética desse hormônio é possível, no sentido de gerar os mesmos efeitos do hormônio naturalmente produzido.

O que são ocitocinas e suas funções

As ocitocinas são pequenas moléculas, denominadas peptídeos, e no corpo humano elas são produzidas numa pequena glândula na zona cerebral chamada hipotálamo. Essas moléculas, formadas por nove aminoácidos (cisteína-tirosina-isoleucina-glutamina-asparagina-cisteína-prolina-leucina-glicina-amida) podem ser classificadas como neuro-hormônios.

Elas possuem uma dupla atuação: podem agir no próprio sistema nervoso, como se fossem neurotransmissores; e também podem ser descarregadas na circulação sanguínea, como outros hormônios, atingindo os órgãos-alvo.

A ocitocina e o parto

As moléculas de ocitocina têm uma ação importante nas paredes do útero, estimulando a contração delas – e assim desempenhando uma função vital no trabalho de parto. O nascimento de um bebê por parto natural depende de uma grande descarga de ocitocina na circulação da gestante. Essa descarga ocorre de maneira gradativa ao longo das várias horas de trabalho de parto.

O hormônio estimula a contração das paredes uterinas, que por sua vez, contraídas, tornam a estimular neuroreceptores para gerar novas descargas de ocitocina. Ao mesmo tempo, a alta concentração de ocitocina no sangue inicia uma ação nas glândulas mamárias, auxiliando na produção e liberação de leite, ajudando a nutrir o bebê já a partir do parto.

Por essa razão, em alguns casos, médicos receitam a utilização de ocitocina exógena, ou seja, fornecida por meios externos, facilitando o trabalho de parto e ajudando a gestante a produzir mais leite. Infelizmente, em especial na atualidade, a ocitocina exógena é usada indiscriminadamente na condução do trabalho de parto – uma realidade nos centros obstétricos que deve ser analisada com maior profundidade.

Além de todos os efeitos fisiológicos da ocitocina no organismo materno, sabe-se que essa produção hormonal está diretamente relacionada à sensação de bem-estar e de facilitação da criação de vínculo de afeto e amor entre mãe e bebê. Do mesmo modo, o hormônio cria efeitos na neurotransmissão relacionada à maioria dos comportamentos sociais tidos como “positivos”, tais como a confiança, a empatia e a fidelidade.

A ocitocina e o prazer

A ocitocina atua em regiões cerebrais que desencadeiam a sensação de recompensa e bem-estar. Sua concentração é diretamente ligada, em estudos, a orgasmos e à sensação de prazer no sexo. Ela permite que vínculos emocionais sejam criados ou fortalecidos durante o sexo, sendo chamada de hormônio do amor.

Contudo, a ocitocina não é o único hormônio associado ao amor ou ao sexo – outras moléculas como a dopamina e a serotonina também são liberadas e causam efeitos similares. Outros efeitos periféricos estão relacionados com a atuação da ocitocina no coração, causando a redução da frequência cardíaca.

A sensação de bem-estar da ocitocina tornou essa substância uma opção também em tratamentos e terapias que visam reduzir o estresse, a ansiedade e outras condições psicopatológicas comuns.

Atualmente, os cientistas buscam responder às seguintes questões: se as emoções e os sentimentos humanos seriam apenas o resultado de reações fisiológicas no organismo ou estariam muito além disso; como a administração de moléculas sintéticas pode interferir nos aspectos emocionais do ser humano; qual o papel de hormônios, como a ocitocina, para a preservação da espécie humana. Essas e outras perguntas são alvo de estudos científicos e de questionamentos sobre o que torna nossa espécie humana.

Referências:

  • DOMINGUES, Rafaela Quintana. O uso da ocitocina exógena no trabalho de parto: uma revisão integrativa. 2016.

Por: Carlos Artur Matos

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