Durante muitos anos o diagnóstico genético foi baseado apenas em critérios clínicos e em teste bioquímicos de produtos genéticos ou da ausência de determinados genes. Os critérios clínicos são ambíguos e muita das vezes demora anos para desenvolverem, gerando longos períodos de incerteza. Os teste bioquímicos são geralmente estudos caros, que requerem procedimentos invasivos, podendo ter resultados equívocos. Os métodos moleculares utilizados atualmente evitam esse grau de incerteza. Os avanços adquiridos na área de métodos diagnósticos genéticos impulsionaram também avanços na área de terapia gênica.
A terapia gênica é uma estratégia terapêutica que utiliza a técnica de transferência de material genético para modificar o genoma da célula-alvo “in vivo”, permitindo a expressão do gene transferido. Os conhecimentos adquiridos com a terapia gênica estimularam estudos em diferentes áreas da medicina. Em cardiologia há inúmeras aplicações da terapia gênica, mas essa fascinante terapêutica tem dificuldades e limitações.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) inicialmente não seria uma patologia ideal para aplicação da terapia gênica por ser multifatorial e poligênica. Hoje há duas estratégias de manipulação gênica que podem utilizadas na reversão da HAS (1) a inserção de genes que levam a expressão de substâncias vasodilatadoras ou (2) a inibição de genes codificadores de substâncias vasoconstritoras (Hypertension 1999;33:8-13). O melhor entendimento da fisiopatologia da HAS juntamente com os avanços dos desafios da terapia gênica poderá, no futuro, tornar a HAS uma doença curável.
A aplicação da terapia gênica na doença arterial coronária (DAC) abrange o controle da hipercolesterolemia e da trombose, principalmente. Os primeiros protocolos, de terapia gênica, aplicados a hipercolesterolemia foram focados a doença familiar e mostraram uma redução de 17% na concentração sérica de LDL-colesterol após 18 meses de acompanhamento (Nat Med 1995;1:1148-54). Uma das estratégias da terapia gênica para prevenção de trombose consiste em revestir internamente o dispositivo vascular (stent) com uma camada de células endoteliais geneticamente modificadas transfectadas com o ativador do plasminogênio tecidual (tPA) humano (Circulation,1989;80:1347-53). Ainda é preciso confirmar se a produção local de tPA reduz o risco de trombose.
A angiogênese terapêutica é a administração exógena de fatores de crescimento vascular com objetivo de aumentar ou promover o desenvolvimento de vasos colaterais em tecidos isquêmicos. Losordo et al, em 1998, publicaram os primeiros resultados clínicos com o uso do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) para o tratamento de pacientes com coronariopatia obstrutiva severa (Circulation 1998;98:2800-04). Todos os pacientes obtiveram melhora clínica e laboratorial do quadro de isquemia miocárdica. Agora para que a terapia possa ser aplicada na prática clínica diária é necessário contornar as inúmeras limitações do método.
Recentemente, Strauer et al no Congresso Europeu de Cardiologia (24 de agosto de 2001) mostraram os resultados preliminares do transplante de células em seis pacientes pós-infarto do miocárdio. Após 10 semanas de acompanhamento foi observada redução de um terço da área do infarto, com a terapêutica.
No Instituto do Coração (InCor-HC/FMUSP) o Prof. Dr. José Eduardo Krieger coordena o Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular que desenvolve estudos principalmente na área da hipertensão arterial. Segundo o professor fantástico mundo da terapia gênica é fascinante, mas ainda limitado. São inúmeras as suas limitações e muitas pesquisas precisam ser feitas para que a terapia gênica possa se tornar uma realidade terapêutica.
Autoria: Amanda Farias Oliveira