Quando falamos em nomenclatura, taxonomia, classificação e sistemática devemos saber que estes são conceitos, que, apesar de terem alguma relação entre si, se referem a matérias distintas, muitas vezes confundidas.
A sistemática é o estudo das relações de parentesco entre os organismos. Desta maneira quando comparamos espécies diferentes, por exemplo, e hipotetizamos uma filogenia, que representa as relações de parentesco entre estas espécies, estamos fazendo um estudo de sistemática. Podemos comparar tais espécies pelas suas características morfológicas, moleculares e etc.
A taxonomia diz respeito às regras de nomenclatura, tais como: dar nomes às espécies, gêneros e famílias. As regras para formar coleções taxonômicas, para coletas em campo, rotulagem e publicações taxonômicas, também dizem respeito à taxonomia.
A classificação está no âmbito da taxonomia e se refere à prática de se agrupar os táxons em categorias hierárquicas como: filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. A classificação ideal deve refletir a sistemática de determinado grupo, ou seja, deve representar as relações de parentesco daquele grupo. Por outro lado à classificação é, de certa maneira, independente da nomenclatura, já que, um autor, de acordo com certas regras, poderá alterar o nome de uma espécie ou gênero, quando ele achar necessário
A importância da nomenclatura
A comunicação entre os diversos campos da ciência biológica se dá principalmente pelo nome científico das espécies estudadas. Por exemplo, num estudo interdisciplinar em que existe a cooperação de profissionais de diversas áreas da biologia, um ecólogo poderá fazer o levantamento da fauna de determinada região, um geneticista fará a caracterização do cariótipo daquela fauna, um morfologista descreverá as características morfológicas, e, assim por diante.
Sem um nome científico universal, ditado segundo regras aceitas por toda a comunidade científica, que caracteriza cada espécie estudada e catalogada, ficaria difícil a comunicação entre os diversos campos da biologia. Quem dita tais regras é o código de nomenclatura zoológica. Tal código é universal, ele rejeita nomes que possam causar confusão ou ambiguidade, o que garante a universalidade dos nomes científicos, fazendo com que estes sejam reconhecidos por cientistas de qualquer nacionalidade.
A importância prática da taxonomia, cujas regras de nomenclatura disciplinam a nomeação das várias categorias taxonômicas, pode ser vista, por exemplo, nos estudos sobre o controle de vetores de doenças que atingem humanos.
Se a espécie a qual pertence o vetor estiver mal classificada, a ponto de englobar uma variedade de outras espécies do mesmo gênero, que não hospedam determinado vírus ou protozoário causador da doença, os esforços no combate à mesma podem malograr.
Este foi o caso do combate ao mosquito transmissor da malária (Anopheles maculipennis). De 1895 até 1934 várias foram às tentativas para a erradicação do mosquito. A partir desta última data o problema começou a ser solucionado pelos entomólogos da época, que descobriram que Anopheles maculipennis, na verdade, formava um complexo de pelo menos sete espécies, das quais apenas algumas eram transmissoras da malária.
Porque devemos nomear as espécies com dois nomes?
Desde Aristóteles a nomenclatura binomial já era praticada. Foi ele quem sistematizou esta maneira de classificar os organismos, em duas categorias. No entanto foi Linnaeus (1707-1778) quem começou a usar um sistema binomial de forma mais coerente e organizada. Assim cada espécie animal ou vegetal teria dois nomes: o primeiro, o gênero, deveria refletir as características mais genéricas ou coletivas; o segundo, a espécie, refletiria as características mais específicas, aquelas mais peculiares.
O código de nomenclatura zoológica que vigora hoje foi publicado em 1964, e de acordo com o mesmo, existem regras para a formação dos nomes dos táxons do grupo da família, do grupo do gênero e do grupo da espécie.
Como se nomeiam os táxons do grupo família?
Este grupo inclui quatro categorias, a saber: tribo, subfamília, família e superfamília. O nome da categoria família é formado pela adição da desinência -idae ao radical do gênero tipo da família, o gênero que é o tipo padrão para determinada família.
Por exemplo, o gênero Felis é o tipo padrão para toda a sua família, o radical deste termo é fel; portanto, adicionando-se a desinência -idae a este radical, o nome da família fica felidae. O mesmo para Canis; cujo radical é can, portanto canidae.
No caso da categoria subfamília vale o mesmo raciocínio, porém a desinência é -inae. Para as categorias superfamília e tribo, as desinências são -oidea e –ini, respectivamente.
Como se nomeiam os táxons do grupo gênero e espécie?
Como já dissemos, geralmente o nome da espécie é composto por dois termos (binomial). O primeiro designa o gênero, categoria que pode englobar uma ou mais espécies; é um termo mais amplo, que diz respeito às características mais genéricas comuns a este táxon. O segundo termo designa a espécie, diz respeito ás características próprias de cada espécie pertencente àquele mesmo gênero.
Por exemplo, Panthera leo (leão), Panthera tigris (tigre), Panthera onca (onça) são três espécies da família felidae, pertencentes ao mesmo gênero, Panthera. Cada uma delas tem as suas particularidades, daí serem classificadas em três espécies distintas; todas as três, porém, compartilham certas características, daí pertencerem ao mesmo gênero.
De acordo com o código o nome do gênero e da espécie devem ser escritos em latim, ou, então, numa forma latinizada, com caracteres itálicos ou grifadas separadamente. Apenas a primeira letra que forma o nome do gênero deve estar em maiúscula; o nome da espécie deve estar todo em letras minúsculas.
Segundo o código, quando num artigo, mencionamos o nome de uma espécie pela primeira vez, este deve ser escrito por completo, por exemplo: Drosophila melanogaster. A partir daí, durante o desenvolvimento do artigo, o nome pode ser escrito numa forma abreviada, não precisamos escrever o nome do gênero, apenas a sua inicial, em maiúscula seguida de ponto, e, depois, o termo que caracteriza a espécie. Assim, no mesmo artigo, se o nome desta espécie fosse mencionado novamente ficaria: D. melanogaster
Algumas vezes encontramos o nome científico de uma espécie escrito com três termos (nomes de táxons ditos trinomiais). Quando encontramos, por exemplo, Glenea (Paraglenea) tigrinata, significa uma espécie do gênero Glenea e do subgênero Paraglenea, termo que se escreve entre parênteses e com a primeira letra em maiúscula.
O subgênero, como o nome diz, é uma categoria abaixo de gênero e acima de espécie. Seriam grupos de espécies de um mesmo gênero, mas que apresentam certas características que permitem agrupá-los numa categoria intermediária entre gênero e espécie, o subgênero. Assim um gênero pode ter vários subgêneros, e cada subgênero, várias espécies.
Se encontrarmos, por exemplo, Homo sapiens neanderthalensis interpretamos como uma subespécie da espécie Homo sapiens. O termo que caracteriza a subespécie vem em seguida ao termo da espécie. Neste exemplo é o termo neanderthalensis, também escrito em minúscula.
A subespécie é uma categoria abaixo da espécie, definida por características ainda mais peculiares. Deste modo uma espécie pode ter várias subespécies. No exemplo dado a espécie H. sapiens apresenta duas subespécies: H. sapiens neanderthalensis (o homem de Neandertal) e H. sapiens sapiens (homem moderno).
Nome dos autores e data da publicação
Muitas vezes encontramos um nome próprio, logo após ao nome da espécie, Tupinambis teguixim Linnaeus. Linnaeus é nome do autor que publicou o nome do táxon pela primeira vez. Seguido ao nome do autor podemos encontrar uma data, Tupinambis teguixim Linnaeus, 1758. Isto significa que o nome da espécie, T. teguixim foi publicada pela primeira vez por Linnaeus num trabalho datado de 1758.
De acordo com o código a data deve vir em seguida ao nome do autor, separada deste por vírgula. Também podemos encontrar a seguinte situação: Trichomys apereoides (Lund, 1841). Neste caso, tanto o nome do autor como a data aparecem entre parênteses, separados por vírgula; o que significa que a espécie em questão foi primeiramente descrita num outro gênero que não o atual.
No exemplo citado, T. apereoides foi primeiramente incluída no gênero Cercomys, pelo próprio Lund em 1841. Posteriormente, outro autor, no caso Peter, cujo nome não aparece, concluiu que todas as formas referidas ao gênero Cercomys deveriam constar como Trichomys. Nota-se daí que o nome próprio que vigora é sempre o do primeiro autor, e não o do autor que reconheceu aquele táxon como outro gênero.
Nomenclatura dos Seres Vivos
Considerando-se o imenso número de idiomas e dialetos espalhados pelo mundo, torna-se absurdo o número de nomes diferentes pelos quais são chamados os animais e as plantas.
Assim, já em 1735, o sueco Karl Von Linné, botânico e médico, lançava regras para classificar e denominar animais e plantas, mas só em 1758 foi que ele propôs efetivamente uma forma de nomenclatura mais simples, em que cada organismo seria conhecido por dois nomes apenas seguidos e inseparáveis. Assim surgiu a nomenclatura binomial que é ainda hoje adotada.
As principais regras são:
Na designação científica, os nomes devem ser latinos de origem ou, então, latinizados.· Cada animal ou planta deve ser reconhecido por uma designação binomial, onde o primeiro termo qualifica o gênero e o segundo a espécie.
O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto escrito com inicial maiúscula.
O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito com inicial maiúscula.
Em seguida ao nome do organismo, é facultado colocar, por extenso ou abreviadamente, o nome do autor que primeiro o descreveu e denominou, sem qualquer pontuação intermediária, seguindo-se depois uma vírgula e a data em que foi publicado pela primeira vez.
Conquanto a classificação seja unomial para gêneros e binomial para espécies, ela é trinomial para subespécies.
As regras de nomenclatura botânica são independentes das regras de nomenclatura zoológica.
Bibliografia
- Bernardi, Nelson (tradutor). 1994. O Código Internacional de Nomenclatura Zoológica adotado pelo XV Congresso Internacional de Zoologia, Londres, julho de 1958.
- IN: PAPAVERO, N. 1994. Fundamentos práticos de taxonomia zoológica. 2ª ed., São Paulo, USP, p.189- 264.
- Futuyma, Douglas Biologia Evolutiva. SBG, Segunda Edição. Martins, Ubirajara R. comunicação pessoal.
- Papavero, Nelson Fundamentos práticos de taxonomia zoológica: coleções, bibliografia e nomenclatura. 1983. Belém, PA.