Para muitas pessoas, o transplante de órgãos é a última oportunidade de vida autônoma. No passado, era uma técnica cirúrgica muito arriscada, mas atualmente se tornou prática habitual em muitos hospitais.
Um novo sopro de vida
Diante da deterioração irreversível de um órgão, o que poderia causar a morte em curto prazo, cabe a possibilidade, em alguns casos, de substituí-lo por um órgão saudável procedente de outra pessoa.
Os órgãos que hoje em dia são transplantados com mais frequência são os rins, o fígado, o coração e os pulmões, além do pâncreas e do intestino.
Todos esses órgãos devem proceder de pessoas mortas recentemente e que em vida expressaram seu desejo de doá-los. Em alguns casos, como ocorre com o rim, há pessoas, geralmente familiares próximos ao enfermo, que doam o órgão em vida, uma vez que se pode viver somente com um rim. Além disso, também é possível transplantar determinados tecidos, como a córnea, a pele e a medula óssea.
Atualmente, a tecnologia médica para a realização de transplantes está bastante avançada, a porcentagem de êxito é muito elevada e existem cada vez mais enfermidades que podem ser tratadas por meio de transplantes.
Como se faz um transplante
Normatizar, coordenar e fiscalizar atividades relacionadas com a procura de órgãos e tecidos e sua distribuição são tarefas muito complexas.
É necessário um minucioso sistema de coordenação, em nível estatal, que registre a lista de pessoas que esperam por um transplante e sua urgência e cruze esses dados com um banco de órgãos disponíveis. No momento em que um órgão está disponível para o transplante, esse sistema administrativo põe em andamento um processo também complicado, que tem como objetivo fazer o órgão chegar, no melhor estado de conservação possível, até o paciente. Nesse processo colaboram, desinteressadamente, numerosas pessoas, organizações e empresas. É muito comum que empresas aéreas ofereçam ajuda gratuita nesse sentido.
Enquanto o órgão é transportado, o paciente se dirige ao hospital e se prepara para a operação. No momento em que o órgão chega, se comprova seu estado e começa o transplante, Há ocasiões em que a gravidade da operação e sua complexidade são tamanhas que é necessário começar a intervenção antes mesmo de ter preparado por completo o novo órgão.
A rejeição
Os transplantes às vezes falham ao cabo de meses ou anos, em razão de um processo chamado rejeição. Mecanismos especiais no corpo produzem anticorpos, que destroem qualquer célula estranha introduzida no organismo.
Quando transplantes de órgãos são feitos, usam-se medicamentos e raios X para deter o processo de formação de anticorpos. Mas essas medidas privam o organismo do principal meio de combate às infecções.
Os transplantes de órgãos mais bem-sucedidos são os feitos entre gêmeos idênticos. Como as células desses indivíduos são geneticamente iguais, não há formação de anticorpos e, consequentemente, também não há rejeição.
História dos transplantes de órgãos
A pesquisa em larga escala sobre transplantes teve início no final de década de 1940. O cientista australiano sir MacFarlane Burnet sugeriu a possibilidade de tais transplantes. Ele e o cientista britânico Peter B. Medawar receberam conjuntamente, em 1960, o Prêmio Nobel de Medicina por seus estudos sobre imunologia nos transplantes.
O primeiro transplante de rim
Em 1954, médicos do Hospital Peter Bent Brigham, da cidade de Boston, nos EUA, realizaram o primeiro transplante de rim bem-sucedido. Em 1959, médicos do mesmo hospital fizeram o primeiro transplante de rim bem-sucedido entre gêmeos não-idênticos.
O primeiro transplante de coração
Em 3 de dezembro de 1967, Christiaan Neethling Barnard tornou-se famoso ao realizar o primeiro transplante de coração em um ser humano.
Foi em um homem de negócios, de 53 anos. Louis Washkansky recebeu o órgão de uma mulher negra de 25 anos. Washkansky era diabético e havia sofrido vários infartos que lesionaram seu coração.
A cirurgia de transplante em si foi um êxito, mas Washkansky não pôde superar a pneumonia, favorecida pelos medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição, e faleceu após 18 dias da operação. Desde então, os transplantes cardíacos têm se tornado intervenções muito mais seguras, com grandes garantias de êxito. Também tem sido melhorado o pós-operatório, evitando muitas complicações que apareciam nos primeiros transplantes.
No Brasil, o primeiro transplante de coração foi feito em 1968 no Hospital das Clínicas de São Paulo, por uma equipe chefiada por Euríclides de Jesus Zerbini.
Desde então, os transplantes de órgãos tornaram-se comuns em muitos países, inclusive no Brasil.
Implicações éticas e sociais dos transplantes
A melhor forma de obter mais órgãos é o aumento das doações. Esse incremento, contudo, ocorre lentamente.
Os governos tratam de estabelecer uma legislação que facilite uma solução para o problema e, além disso, desenvolvem campanhas informativas para conscientizar a população sobre o assunto. A doação de órgãos, porém, é um ato solidário e tem numerosas implicações do ponto de vista ético, social e moral. Em primeiro lugar, tem-se uma maior demanda de órgãos sem que haja aumento, na mesma proporção, das doações.
A principal causa do baixo número de doações parece estar relacionada à falta de informação, tanto dos possíveis doadores quanto dos familiares que teriam de dar a autorização.
A falta de iniciativa e o não-consentimento para doação se devem a múltiplas causas, como temores e crenças similares às seguintes:
- Dúvidas sobre a morte real do doador, apesar de haver confirmação da morte cerebral.
- Medo de que os órgãos sejam utilizados com fins lucrativos.
- Crença de que ao transplantar um órgão também se transplante alguma característica do caráter ou do espírito do doador.
- Fato de pertencer a algum grupo religioso ou social que não admita a doação de órgãos. Alguns grupos religiosos também vetam a transfusão de sangue.
- Apreensão pela mutilação do corpo de um familiar recém-falecido.
Tanto organismos oficiais como organizações não governamentais que atuam em todo o país fornecem informação que esclarece os aspectos mais duvidosos e ressalta aqueles mais positivos: que um transplante é um presente de vida.
Por: Paulo Magno da Costa Torres