A Enron é produto da deslumbrante desregulamentação do setor energético. Era um sucesso, todos queriam investir em suas ações pois era uma excelente garantia de retorno, suas ações valorizavam-se a cada mês, mesmo nos tempos de crise.
Nos anos 90 poucas empresas de capital aberto na Bolsa de Valores de Nova York tinham ações tão caras quanto as da Enron. Seu slogan era “Ask Why”, pergunte por quê, sugerindo que a companhia não temia ultrapassar barreiras, quebrar mitos.
Acionistas investiam às cegas. Funcionários eram incentivados a aplicar suas poupanças em ações da casa. Acontece que ninguém questionava o porquê do sucesso da Enron.
O segredo da desregulamentação da indústria é que o Estado não interfere no livre-comércio. No caso da Califórnia, por exemplo, revendedores de energia, como a Enron, poderiam elevar o preço como quisessem, enquanto as distribuidoras, aquelas que lidam direto com o consumidor, sofriam o limite de tarifas imposto pelo governo estadual. O ápice desse desequilíbrio de regulamentação foi o famoso blecaute de 2001.
Porém surgiram dúvidas sobre um enorme e misterioso buraco em suas contas e a SEC (comissão responsável pela fiscalização do mercado acionário americano) começou a investigar os resultados da empresa. As ações da Enron começaram a cair.
As operações de comércio da companhia se baseavam na maior parte das vezes em transações financeiras complexas, a maioria referindo a negócios que deveriam ocorrer vários anos depois, prática que inflava os seus lucros. Os operadores colocavam o valor das ações da companhia lá no alto, sugerindo que no prazo futuro essas ações iriam mesmo se valorizar, sem ter que justificar a remarcação do preço, era o mark-to-market, marcar a mercado significa considerar os ativos de uma empresa tão valorizados que é possível liquidá-los a qualquer momento pelo preço corrente do mercado. As ações chegaram a valer cerca de US$ 85, nos bastidores, porém, a empresa só dava prejuízos com projetos fracassados de internet e com usinas na Índia que nunca operaram.
Há indícios que altos executivos da companhia estavam envolvidos em fraudes, além dos principais bancos. Com o objetivo de maquiar o balanço da companhia, foi usado um complexo sistema de parcerias financeiras para esconder prejuízos. Eles supostamente tiveram grandes lucros vendendo suas ações antes que elas despencassem.
O então presidente dos estados unidos na época tinha relações próximas com Kenneth Lay (ex-presidente da companhia) que era chamado de “Kenny Boy” por Bush. Não existem indicações de envolvimento direto de Bush no escândalo, mas havia um vínculo entre o poder político e uma potência empresarial.
A empresa que a auditava era de Arthur Andersen, um dos principais executivos da empresa, o que contribuiu para o encobrimento da farsa. Desde que foi envolvida com o colapso da Enron, a Andersen perdeu diversos clientes de prestígio.
Os empregados da empresa levaram prejuízo, além de perderem o emprego, suas economias estavam, na maior parte dos casos, investidas em ações da Enron.
Por fim, todos aqueles que tinham ações da companhia, que há um ano valiam US$ 85, hoje possuem papéis que não valem nada.
Por: Renan Bardine