Contabilidade

Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa é um instrumento que possibilita o planejamento e o controle dos recursos financeiros de uma empresa. Gerencialmente, é indispensável em todo o processo de tomada de decisões financeiras.

Contextos econômicos modernos de concorrência de mercado exigem das empresas maior eficiência na gestão financeira de seus recursos, não cabendo indecisões sobre o que fazer com eles. Sabidamente, uma boa gestão dos recursos financeiros reduz substancialmente a necessidade de capital de giro, promovendo maiores lucros pela redução principalmente das despesas financeiras e é essa a finalidade do fluxo de caixa.

Em verdade, a atividade financeira de uma empresa requer acompanhamento permanente de seus resultados, de maneira a avaliar seu desempenho, bem como proceder aos ajustes e correções necessários. O objetivo básico da função financeira é prover a empresa de recursos de caixa suficientes de modo a respeitar os vários compromissos assumidos e promover a maximização de seus lucros.

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO FLUXO DE CAIXA

Fluxo de caixa

Para Assaf Neto e Silva (1997, p. 35) “(…) o fluxo de caixa é um instrumento que relaciona os ingressos e saídas (desembolsos) de recursos monetários no âmbito de uma empresa em determinado intervalo de tempo”.

O Fluxo de Caixa é indispensável para uma sinalização dos rumos financeiros dos negócios. Através de sua elaboração é possível prognosticar eventuais excedentes ou escassez de caixa, determinando-se medidas saneadoras a serem tomadas. Para se manterem em operação, as empresas devem liquidar corretamente seus vários compromissos, devendo como condição básica apresentar o respectivo saldo em seu caixa nos momentos dos vencimentos. A insuficiência de caixa pode determinar cortes nos créditos, suspensão de entregas de materiais e mercadorias, e ser causa de uma séria descontinuidade em suas operações.

A manutenção de saldos de caixa propicia folga financeira imediata à empresa, revelando melhor capacidade de pagamento de suas obrigações. Neste posicionamento, a administração não deve manter suas reservas de caixa em novéis elevados como forma de maximizar a liquidez. Ao contrário, deve buscar um volume mais adequado de caixa sob pena de incorrer em custos de oportunidades crescentes. É indispensável que a empresa avalie criteriosamente o seu ciclo operacional de maneira a sincronizar as características de sua atividade com o desempenho do caixa.

Os fluxos de caixa costumam apresentar-se sob diferentes formas: restritos, operacionais e residuais, podendo ainda relacionar o conjunto das atividades financeiras da empresa dentro de um sentido amplo, decorrente das operações.

É importante que se avalie também que limitações de caixa não se constituem em característica exclusiva de empresas que convivem com prejuízo. Empresas lucrativas podem também apresentar problemas de caixa como consequência do comportamento de seu ciclo operacional. Por outro lado, problemas de caixa costumam ocorrer, ainda, em lançamentos de novos produtos, fases de expansão da atividade, modernização produtiva, etc.

ABRANGÊNCIA DO FLUXO DE CAIXA

Foi comentado que o fluxo de caixa descreve as diversas movimentações financeiras da empresa em determinado período de tempo, e sua administração tem por objetivo preservar uma liquidez imediata essencial à manutenção das atividades da empresa. Por não incorporar explicitamente um retorno operacional, seu saldo deve ser o mais baixo possível, o suficiente para cobrir as várias necessidades associadas aos fluxos de recebimentos e pagamentos. Deve-se ter em conta que saldos mais reduzidos de caixa podem provocar, entre outras consequências, perdas de descontos financeiros vantajosos pela incapacidade de efetuar compras a vista junto aos fornecedores. Por outro lado, posições de mais elevada liquidez imediata, ao mesmo tempo em que promovem segurança financeira para a empresa, apura maior custo de oportunidade. Em essência, este é o dilema risco e rentabilidade presente nas finanças das empresas.

Ao apurar o saldo líquido destes fluxos monetários, o instrumento do fluxo de caixa permite que se estabeleçam prognósticos com relação a eventuais sobras ou faltas de recursos, em função do nível de caixa desejado pela empresa.

O fluxo de caixa não deve ser enfocado como uma preocupação exclusiva da área financeira. Mais efetivamente deve haver comprometimento de todos os setores empresariais com os resultados líquidos de caixa, destacando-se:

– a área de produção, ao promover alterações nos prazos de fabricação dos produtos, determina novas alterações nas necessidades de caixa. De forma idêntica, os custos de produção têm importantes reflexos sobre o caixa;

– as decisões de compras devem ser tomadas de maneira ajustada com a existência de saldos disponíveis de caixa. Em outras palavras, deve haver preocupação com relação a sincronização dos fluxos de caixa, avaliando-se os prazos concedidos para pagamento das compras com aqueles estabelecidos para recebimento das vendas;

políticas de cobrança mais ágeis e eficientes, ao permitirem colocar recursos financeiros mais rapidamente à disposição da empresa, constituem-se em importante reforço de caixa;

– a área de vendas, junto com a meta de crescimento da atividade comercial, deve manter um controle mais próximo sobre os prazos concedidos e hábitos de pagamentos dos clientes, de maneira a não pressionar negativamente o fluxo de caixa. Em outras palavras, é recomendado que toda decisão envolvendo vendas deve ser tomada somente após uma prévia avaliação de suas implicações sobre os resultados de caixa (exemplos: prazo de cobrança, despesas com publicidade e propaganda, etc);

– a área financeira deve avaliar criteriosamente o perfil de seu endividamento, de forma que os desembolsos necessários ocorram concomitantemente à geração de caixa da empresa.

Uma adequada administração dos fluxos de caixa pressupõe a obtenção de resultados positivos para a empresa, devendo ser focalizada como um segmento lucrativo para seus negócios. A melhor capacidade de geração de recursos de caixa promove, entre outros benefícios à empresa, menor necessidade de financiamento dos investimentos em giro, reduzindo seus custos financeiros.

Dessa forma, o objetivo fundamental para o gerenciamento dos fluxos de caixa é atribuir maior rapidez às entradas de caixa em relação aos desembolsos ou, da mesma forma, otimizar a compatibilizarão entre aposição financeira da empresa e suas obrigações correntes.

As principais áreas que podem contribuir para melhor desempenho do fluxo de caixa, acelerando os ingressos ou retardando os desembolsos, insere-se basicamente nas fases do ciclo operacional. É sabido que a extensão do ciclo operacional é o fator determinante das necessidades de recursos do ativo circulante; ele é administrado através de:

  • negociações com fornecedores e outros credores visando alongar os prazos de pagamento;
  • medidas mais eficientes de valores a receber, sem prejuízo de vendas futuras, objetivando reduzir o volume de clientes em atraso e inadimplentes;
  • decisões tomadas na área com intuito de diminuir os estoques e incrementar seu giro;
  • concessão de descontos financeiros, sempre que economicamente justificados, na expectativa de redução dos prazos de recebimentos das vendas etc.

Os sistemas de cobrança, por seu lado, devem ser avaliados com base em sua facilidade de pagamento e rapidez de emissão e entrega das faturas/duplicatas aos clientes. A agilidade do sistema revela-se mais indispensável, ainda, no caso de clientes que pagam somente em determinados(s) dia(s) do mês, ou que apresentam um processo lento de pagamento.

De maneira ampla, o fluxo de caixa é um processo pelo qual uma empresa gera e aplica seus recursos de caixa determinados pelas várias atividades desenvolvidas. Neste enfoque, ainda, o fluxo de caixa focaliza a empresa como um todo, tratando das mais diversas entradas e saídas (movimentações financeiras) de caixa refletida por seus negócios.

O FLUXO DE CAIXA E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES DAS EMPRESAS

As altas taxas de inflação e a excessiva interferência da legislação fiscal no principal sistema de informações das empresas, que é a contabilidade, impedia a até poucos anos, que os empresários dessem importância aos dados gerados por esses sistemas.

Enquanto os profissionais da área contábil faziam grande esforço para gerar números sem distorções inflacionarias e discutiam o significado de lucro inflacionário, lucro inflacionário realizado, lucro inflacionário diferido, correção monetária pela legislação societária, correção integral e outros temas de difícil entendimento para o empresário, este, sabiamente, refugiava-se em alguns indicadores incompletos, mas confiáveis, como, por exemplo, quantidade de vendas no mês, o estoque e o dinheiro disponível.

Estocar mercadorias e adquirir imobilizado significava proteger-se da inflação. A própria administração financeira das empresas foi confundida com administração das disponibilidades, somente. Era muito difícil pensar em investimentos que envolviam o longo prazo, já que o longo prazo da época era de 30 dias.

Com a inflação debelada, ela deixou de ser um aspecto relevante. Isto permite o uso da moeda real para a apresentação das contas das empresas.

A interferência da legislação fiscal no principal sistema de informações das empresas, a contabilidade, é um problema mundial, que se apresenta de modo mais acentuado no Brasil.

As empresas buscam resolver esse problema de várias formas. Algumas mantêm registros paralelos à contabilidade oficial para obter informações gerenciais pelo regime de competência, eliminando parte das distorções causadas pela legislação fiscal. É um trabalho difícil e nem sempre satisfatório, pois de um lado temos o contador e o advogado tributarista trabalhando 365 dias por ano para fazer o planejamento tributário de modo a pagar menos impostos, e, de outro, algumas poucas horas para gerar as informações gerenciais.

Outras empresas se voltam quase que exclusivamente para informações de caixa, criando um sistema independente, em que prevalecem critérios distintos dos estabelecidos pela legislação fiscal.

O chamado “reprocessamento” dos dados para gerar informações ao Fisco, aos proprietários e administradores, às instituições financeiras, representa alto custo para as empresas. Reduzi-lo é um grande desafio.

Se, por um lado, o Real, com a inflação baixa, trouxe facilidades aos empresários, aos contadores, aos financeiros e aos administradores, por outro lado, a abertura da economia brasileira trouxe novos concorrentes, exigindo das empresas competência maior. Além do aumento da concorrência, as altas taxas de juros têm penalizado empresas e pessoas físicas que precisam recorrer a empréstimos e financiamentos. A manutenção das altas taxas de juros levou associações como a FEBRABAN (Federação Nacional dos Bancos) a recomendar à população que não se endividasse com as taxas de juros então vigentes. Embora sensata, a recomendação foi seguida por poucos. Afinal, após muitos anos, estávamos diante de uma situação nova. Haviam caído as limitações de prazo para o crédito. O freio ao excesso de consumo passou a ser somente a taxa de juros alta.

Gradativamente, a economia brasileira ficou com um comportamento mais próximo das economias desenvolvidas. Podemos aplicar aqui a maioria dos princípios financeiros utilizados lá fora.

É importante conhecer os produtos e serviços do mercado financeiro, saber calcular a taxa efetiva de um empréstimo ou financiamento.

Precisamos ter informações confiáveis, de fácil entendimento, que estejam disponíveis em tempo hábil. O feeling do empresário precisa ser completado com o que dizem os números gerados pelos controles. Precisamos acompanhar os acontecimentos no mundo e principalmente no Brasil, avaliando sua influência no segmento no qual está inserida a empresa e transformar essa visão em planejamento dos negócios e financeiros. Já podemos elaborar orçamentos de caixa para, pelo menos, três meses. Isto custa pouco e traz bons benefícios, por permitir visualizar com antecedência as necessidades financeiras.

Há muitas empresas obtendo ganhos significativos de produtividade, mas perdendo todo esse ganho ao tomar dinheiro emprestado, a curto prazo, a taxas de 40,0 a 50,0% ao ano. Os “ralos financeiros” precisam ser fechados para que o empresário volte a ganhar dinheiro com seu negocio.

Vivemos uma nova realidade, na qual há espaço para o planejamento e controle dos negócios.

AS DIFERENÇAS ENTRE REGIME DE CAIXA E DE COMPETÊNCIA

Regime de Competência

– Reconhece a receita quando ocorre a venda, com entrega da mercadoria ou prestação do serviço.

– Reconhece despesa quando incorrida, independente de ter sido paga ou não.

Regime de Caixa

– São as datas de recebimentos e pagamentos que determinam os registros.

Se uma concessionária de veículos vende um automóvel por R$ 25.000,00, o regime de competência reconhece, hoje, a receita de R$ 25.000,00, embora o cliente tenha dado de entrada um carro usado avaliado em R$ 7.000,00 mais R$ 8.000,00 em dinheiro e o restante a ser pago em quatro prestações mensais de R$ 2.500,00:

· Regime de competência – receita de R$ 25.000,00;

· Regime de caixa –  receita de R$ 8.000,00.

No lado das despesas, essas diferenças entre caixa e competência também ocorrem. Por exemplo, o 13º salário é pago, geralmente, em novembro e dezembro de cada ano, mas as despesas são reconhecidas (1/12) a cada mês. Portanto, os números de caixa podem ser, e geralmente são, diferentes dos números de competência.

MÉTODO DIRETO DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

O Método Direto, que também é conhecido como a abordagem das contas T (T Account Approach), consiste em classificar os recebimentos e pagamentos de uma empresa utilizando as partidas dobradas. A vantagem desse método é que permite gerar informações com base em critérios técnicos, eliminando, assim, qualquer interferência da legislação fiscal.

Um exemplo:

A Delta Veículos Ltda. é uma concessionária de veículos recém constituída. No primeiro mês de atividade, ocorreram os seguintes pagamentos e recebimentos:

  • Os sócios da empresa integralizam o capital no valor de $ 5000.000,00
  • A empresa adquire a vista móveis e utensílios no valor de $ 1000.000,00 e máquinas e ferramentas no valor de $ 200.000,00
  • Pagamento à montadora pela compra de veículos no valor de $ 600.000,00
  • Recebimento de clientes pela venda de veículos no valor de $ 560.000,00
  • Pagamento do aluguel da loja no valor de $ 40.000,00
  • Pagamento de salários a funcionários no valor de $ 50.000,00

Os lançamentos a débito e a crédito que acabamos de efetuar são mostrados a seguir nos razonetes (razão simplificados). Os débitos são mostrados do lado esquerdo das contas e os créditos no lado direito. A diferença entre os débitos e os créditos representa o saldo de cada conta.

Por esse relatório, podemos perceber que no primeiro mês de atividades a empresa pagou mais do que recebeu no Operacional. Isso costuma ocorrer em início de atividade. Em regra geral, no entanto, é que os recebimentos operacionais superem os pagamentos operacionais. Essa é a condição para que a empresa sobreviva e ganhe dinheiro.

O grupo Investimentos consumiu $ 300 mil. Como regra geral, esse é o grupo que só consome dinheiro, mas esse dinheiro precisa ser investido para que a empresa possa operar.

O grupo Financiamentos gerou entradas de $ 500 mil. O comportamento deste grupo varia ao longo do tempo. Há períodos em que gera caixa, como na integralização de capital por parte dos sócios, ou na obtenção de empréstimos e financiamentos, e há períodos em que consome caixa, como na amortização de empréstimos e financiamentos ou nos pagamentos de dividendos.

Caixa líquido do período é o somatório de Operacional (130.000,00), Investimentos (300.000,00) e Financiamentos 500.000,00. No período analisado, entrou mais do que saiu do Caixa $ 70.000,00.

Uma das vantagens desse demonstrativo é facilitar a administração financeira das empresas. Com ele podemos saber se os problemas financeiros têm origem no Operacional, no Investimentos, no Financiamentos, ou ainda numa combinação dos três grupos.

MÉTODO INDIRETO DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA

Utilizando como base o exemplo da Alfa Veículos Ltda vamos elaborar a DFC pelo método indireto. Tomaremos por base o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados em 30-06-20X1. Vamos, portanto, converter os números de Competência em números de Caixa.

A Demonstração de Resultados mostra que o Lucro líquido em seis meses foi de R$ 154.996, enquanto a Demonstração dos Fluxos de Caixa apresenta um Fluxo de Caixa operacional líquido (superávit) de R$ 517.796. Vamos compensar essa diferença de R$ 362.800.

O primeiro passo a ser dado é associar as contas do Balanço Patrimonial com as contas da Demonstração dos Fluxos de Caixa.

A seguir, faremos adições e subtrações ao lucro líquido para chegar ao fluxo de caixa operacional líquido. Estaremos trabalhando com o balanço patrimonial do inicio do período, em que todos os saldos são zero, pois trata-se no exemplo de empresa recém-constituída e o balanço patrimonial no final do período.

Subtraímos R$ 18.000 do lucro líquido referente ao acréscimo da conta Clientes de peças – assistência técnica (de zero para R$ 18.000 temos um acréscimo de R$ 18.000). Porque essas vendas a prazo foram computadas na apuração do resultado, mas o dinheiro não entrou no caixa.

E somamos R$ 50.800 ao lucro líquido referente ao aumento de Salários e encargos – operacional. Porque essas despesas foram computadas na apuração do resultado, mas o dinheiro não saiu do caixa.

MÉTODO DIRETO x MÉTODO INDIRETO

Na comparação entre os dois métodos, é importante irmos além dos aspectos técnicos e consideramos a realidade em que vivemos, principalmente a realidade brasileira.

Método Indireto – Vantagens 

1. Representa baixo custo. Basta utilizar dois balanços patrimoniais (o do início e o do final do período), a demonstração de resultados e algumas informações adicionais obtidas na contabilidade.

2. Concilia lucro contábil com fluxo de caixa operacional líquido, mostrando como se compõe a diferença.

Método Indireto – Desvantagens

1. O tempo necessário para gerar as informações pelo regime de competência e só depois convertê-las para regime de caixa. Se isso for feito uma vez por ano, por exemplo, podemos ter surpresas desagradáveis e tardiamente.

2. Se há interferência da legislação fiscal na contabilidade oficial, e geralmente há, o método indireto irá eliminar somente parte dessas distorções.

Método Direto – Vantagens

1. Cria condições favoráveis para que a classificação dos recebimentos e pagamentos siga critérios técnicos e não fiscais.

2. Permite que a cultura de administrar pelo caixa seja introduzida mais rapidamente nas empresas.

3. As informações de caixa podem estar disponíveis diariamente.

Método Direto – Desvantagens

1. O custo adicional para classificar os recebimentos e pagamentos.

2. A falta de experiência dos profissionais da área financeira em usar as partidas dobradas para classificar os recebimentos e pagamentos.

Quando falamos em informações para administrar os negócios, pelo menos duas condições devem estar presentes:

– Essas informações devem representar 100% das atividades da empresa; e

– As informações devem ser geradas por critérios técnicos e não por critérios fiscais, que visam pagar menos tributos.

Para a realidade da maioria das empresas brasileiras, o método direto traz mais benefícios, principalmente para a redução dos custos financeiros.

A escolha por um dos dois métodos deve ser analisada considerando a realidade de cada empresa. Há segmentos, o da construção civil, por exemplo, em que as vantagens do método direto são ainda maiores, porque os números de competência têm pouco significado para essa atividade.

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS PELO FLUXO DE CAIXA DESCONTADO

A avaliação de uma empresa não pode ser feita segundo princípios de uma ciência exata. O peso que os técnicos em avaliação atribuem aos diversos fatores envolvidos no processo de avaliação não é uniforme. Isto se deve a um problema de julgamento pessoal de cada avaliador que é influenciado pela experiência que este especialista acumula, bem como pelos motivos e objetivos da avaliação para o comprador ou vendedor.

A valoração de uma empresa é complexa por envolver em seu corpo um conjunto de bens heterogêneos e destinados a produzir riqueza, dentro das mais diversas conjunturas econômicas e sociais.

Dentre as concepções de valor da empresa, destacam-se as seguintes:

– Valor Patrimonial: o valor da empresa é determinado pelo somatório dos bens que constituem o patrimônio da empresa.

– Valor Econômico: o valor da empresa decorre do potencial de resultados futuros.

Ambas as abordagens apresentam fatores embutidos dentro de suas formulações teóricas. Alguns bens que compõem o patrimônio da empresa são de difícil mensuração, principalmente quando considerados isoladamente. É o caso dos bens intangíveis como marcas, patentes, ponto comercial, reputação, organização, etc. Por outro lado, a avaliação econômica dos benefícios futuros que a empresa pode gerar depende de um grande número de fatores que ainda apresentam dificuldades quanto à sua quantificação (risco do negócio, risco financeiro, taxa de capitalização, crescimento da empresa, etc.).

O objetivo principal deste modelo é determinar o valor máximo que um potencial comprador poderá pagar pela empresa.

São as seguintes premissas básicas do modelo apresentado:

  1. a avaliação independe do modo como será feita a aquisição da empresa, bem como a forma de pagamento (financiamento) a ser realizado pelo comprador;
  2. a estrutura de capital da empresa não influencia no cálculo do valor máximo a ser pago;

Aplicam-se os seguintes passos para a análise do investimento:

  1. determinar o capital inicial necessário;
  2. determinar lucros e despesas, para composição do fluxo líquido de caixa esperado;
  3. determinar a rentabilidade implícita na relação entre investimento e retorno.

Com relação à rentabilidade, apresentam-se duas formas para medi-la:

  1. calcula-se a taxa de retorno implícita (TIR) do fluxo líquido de caixa, comparando-a com a taxa de retorno exigida (custo de capital);
  2. pela comparação do valor presente do fluxo de caixa (usando-se como taxa de desconto a taxa de retorno requerida) com o valor do investimento.

A seguir apresenta-se um exemplo de avaliação, aplicando-se os conceitos do orçamento de capital.

Considerando-se a necessidade de um investimento inicial de $ 100.000 numa nova empresa (semelhante à empresa que está sendo avaliada), e um fluxo líquido de caixa esperado de $ 15.000 para o primeiro quinquênio, $ 25.000 para o quinquênio seguinte, $ 20.000 para o terceiro quinquênio e $10.000 para os últimos cinco anos, obtém-se uma taxa de retorno (TIR) de 17,2%[1] ao ano:

A seguir, calculam-se os valores presentes dos fluxos líquidos de caixa da empresa que está sendo avaliada, utilizando-se como taxa de desconto: a) a taxa interna de retorno (TIR) de 17,2% a, a,; e b) a taxa de retorno exigida pelo potencial comprador (custo de capital), estimada em 15% a, a,. O fluxo líquido de caixa foi previsto em:

  • 1° quinquênio = $ 24.000
  • 2° quinquênio = $ 24.000
  • 3° quinquênio = $ 15.000
  • 4° quinquênio = $ 10.000

Observa-se que este fluxo admitiu valores maiores de receita para os primeiros períodos, uma vez que a empresa já vem operando normalmente.

– Cálculo do Valor Presente Líquido (VPL): 

a) taxa de desconto igual à “TIR” = 17,2% a, a,

VPL = (24.000 x R10¬0,172) + (15.000 x R5¬0,172 x S10¬0,172) + (10.000 x R5¬0,172 x S15¬0,172)

VPL = $ 123.800

b) taxa de desconto igual à taxa de retorno mínima exigida pelo comprador = 15%

VPL = (24.000 x R10¬0,15) + (15.000 x R5¬0,15 x S10¬0,15) + (10.000 x R5¬0,15 x S15¬0,15)

VPL = $ 137.030

Agora, estabelece-se uma análise de rentabilidade, pela comparação das taxas de desconto utilizadas e os valores presentes calculados.

Se o potencial comprador fosse instalar uma nova empresa, teria que investir $ 100.000 e seu retorno seria de 17,2% a,a,. A esta mesma taxa, contudo, o valor presente dos fluxos líquidos de caixa da empresa em funcionamento é de $ 123.800, superior ao valor de $100.000 da nova empresa.

Assim, conclui-se que é mais atrativo optar pela compra de empresa em funcionamento a implantar uma nova empresa.

ABORDAGEM DO PROJETO TOTAL VERSUS ABORDAGEM DIFERENCIAL

Dois métodos comuns para comparar as alternativas de projetos utilizando o VPL são: a abordagem do projeto total e a abordagem diferencial.

A abordagem do projeto total calcula o impacto total nos fluxos de caixa para cada alternativa e, então, converte esses fluxos de caixa totais em seus VPs. Essa é a abordagem mais popular e pode ser utilizada para qualquer número de alternativas. A alternativa com o maior VPL dos fluxos de caixa totais é a melhor.

A abordagem diferencial calcula as diferenças nos fluxos de caixa entre alternativas e, então, converte essas diferenças em seus VPs. Esse método não pode ser utilizado para comparar mais de duas alternativas. Frequentemente, as duas alternativas em comparação são: aceitar um projeto e rejeitar.

Independente da abordagem utilizada, talvez a parte mais difícil de realizar decisões de orçamento de capital seja predizer os fluxos de caixa relevantes. Verifique que os eventos causados ao fluxo de caixa, para dentro ou para fora, poderão ser muito complicados, especialmente quando houver muitas origens de fluxos de caixa. Você, entretanto, não pode comparar as alternativas se não conhecer seus custos; assim, a primeira etapa para a abordagem de projeto total ou abordagem diferencial é arranjar os fluxos de caixa relevantes por projeto.

– Abordagem do projeto total: determine o VPL dos fluxos de caixa para cada projeto individual. Escolha o projeto com o VPL positivo maior (isto é, o maior beneficio) ou o VPL negativo menor (isto é, menor custo).

– Abordagem diferencial: calcule os fluxos de caixa diferenciais. Em outras palavras, subtraia os fluxos de caixa para o projeto B dos fluxos de caixa para o projeto A para cada ano. Lembre-se de que as entradas de caixa são números positivos, enquanto as saídas são negativas. Em seguida, calcule o VP dos fluxos de caixa diferenciais. Se esse VP for positivo, escolha o projeto A; se for negativo, escolha o projeto B.

Esses dois métodos podem ser utilizados intercambiavelmente, desde que haja apenas duas alternativas sob consideração. Se houver apenas uma alternativa, a escolha seria a do projeto total.

FLUXOS DE CAIXA RELEVANTES PARA O VPL

No arranjo dos fluxos de caixa relevantes esteja seguro de considerar quatro tipos de entradas e saídas de caixa:

  • Entradas e saídas de caixa iniciais no tempo zero.
  • Investimentos em contas a receber e estoques.
  • Valores residuais futuros.
  • Fluxo de caixa operacional.

Entradas e saídas de caixa iniciais no tempo zero: Esses fluxos de caixa incluem saídas de caixa para compra e instalação de equipamentos e outros itens necessários para o novo projeto, e outras entradas ou saídas de caixa da eliminação de quaisquer itens que sejam repostos.

Investimentos em contas a receber e estoques: São saídas de caixa iniciais tanto quanto investimentos em instalações e equipamentos. No modelo VPL, os desembolsos iniciais são entradas no esboço de fluxos de caixa no tempo zero. Contas a receber e estoques, entretanto, geralmente diferem de instalações e equipamentos no final da vida útil do projeto. Investimentos em instalações e equipamentos são, em geral, utilizados durante a vida do projeto, deixando pouco, se algum, valor residual. Em contraste, os investimentos originais inteiros em contas a receber e estoques são, geralmente, recuperados quando o projeto termina. Consequentemente, todos os investimentos iniciais são tipicamente considerados com saídas de caixa no momento zero, e seu valor residual final, se algum, é considerado como entradas de caixa no final da vida útil do projeto.

A diferença entre o desembolso inicial para o capital de giro (na maior parte, contas a receber e estoques) e o VP de sua recuperação é o VP de custo de usar capital de giro no projeto.

Valores residuais futuros: Os ativos, além de contas a receber e estoques, podem ter valores residuais relevantes. O valor residual, no fim de um projeto, é um aumento na entrada de caixa no ano do descarte. Os erros em prever valores residuais finais são, geralmente, não-cruciais, porque o VP é, geralmente, pequeno.

Fluxos de caixa operacionais: O principal propósito da maioria dos investimentos é afetar as entradas e saídas de caixa operacionais. Muitos desses efeitos são difíceis de mensurar, e três pontos merecem menção especial.

Primeiro, usar a análise de custos relevantes, os únicos fluxos de caixa relevantes são aqueles que diferirão entre as alternativas. Frequentemente, os custos indiretos fixos serão os mesmo sob todas as alternativas disponíveis. Se assim for, eles poderão ser seguramente ignorados. Na prática, não é fácil identificar exatamente quais custos diferirão entre as alternativas.

Segundo, como mencionado antes, a depreciação e os valores contábeis devem ser ignorados. O custo dos ativos é reconhecido pelo desembolso inicial, não pela depreciação, como calculado sob o regime de competência contábil.

Terceiro, uma redução na saída de caixa é tratada da mesma maneira que uma entrada de caixa. Ambas significam aumentos no valor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condição para que a empresa viva e ganhe dinheiro é ter recebimentos operacionais que superem os pagamentos operacionais. O Administrador se depara com o dilema do Risco e Rentabilidade, se por um lado ela precisa manter uma liquidez imediata essencial a manutenção das atividades, por outro lado, ele pode incorrer em riscos de custos de oportunidade, então o grande desafio para os administradores é buscar um volume adequado de caixa para empresa, de forma a incorrer o mínimo possível em riscos. A Demonstração de Fluxo de Caixa é uma importante ferramenta que auxilia na tomada de decisões e pode facilitar o trabalho dos administradores através das análises de fluxos passados e previsão de fluxos futuros.

O objetivo da Contabilidade é produzir informação útil, confiável em tempo hábil para uma gama enorme de usuários que na grande maioria das vezes não possui, ou possui pouco conhecimento para análise de demonstrações mais complexas como a DOAR, por exemplo. Neste sentido a Demonstração de Fluxo de Caixa é ideal por ser de fácil entendimento pelos diversos tipos de usuários. Desde que seja elaborada adequadamente a DFC é um importante instrumento de análise financeira das empresas que permite à Contabilidade desempenhar mais eficientemente o seu papel de principal guia na tomada de decisões econômicas.

Vale ressaltar também que as informações sobre fluxo de caixa são úteis porque além da facilidade de entendimento e ferramenta auxiliar na tomada de decisões econômicas, proporcionam aos usuários das informações contábeis como investidores e credores, uma base para avaliar a capacidade da empresa gerar caixa e valores equivalentes à caixa e, as necessidades da empresa em utilizar esses fluxos de caixa.

REFERÊNCIAS:

ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Administração de capital de giro. São Paulo: Atlas, 1997.

CAMPOS FILHO, Ademar. Demonstração dos fluxos de caixa: uma ferramenta indispensável para administrar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1999.

HORNGREN, Charles T.; SUNDEM, Gary L.; STRATTON, Willian O.; Contabilidade Gerencial. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

IUDÍCIBUS, Sérgio et al. Manual de contabilidade das sociedades por ações. São Paulo: Atlas, 1980.

NEIVA, Raimundo Alelaf. Valor de mercado da empresa. São Paulo: Atlas, 1999.

Por: Gelson Maranhão