Cultura

Cultura no Brasil Colonial

A cultura que conhecemos hoje no Brasil é resultado de uma série de influências e misturas ocorridas durante os mais de 500 anos de história do país após a chegada dos europeus.

Durante o Brasil colonial, costumes e hábitos europeus, indígenas e africanos foram miscigenados numa combinação única. A culinária é um bom exemplo disso, com influências dessas três correntes e também de outros europeus além dos portugueses, como alemães, franceses e holandeses. Contudo, a mistura também se faz presente em outras áreas, como a arte, a arquitetura e até mesmo a língua portuguesa “brasileira”.

A língua falada no Brasil colônia

A língua falada na colônia também refletia a miscigenação cultural. Palavras empregadas naquela época, e até os dias de hoje, nunca de fato existiram no português original. Em regiões como o litoral, a influência do tupi-guarani foi decisiva, enquanto em outras regiões, como o Nordeste canavieiro, línguas africanas tiveram impacto decisivo na forma como se fala o português.

A fim de se aproximar dos índios para catequizá-los, os padres jesuítas aprendiam as línguas faladas por eles e lhes ensinavam o português. A troca de vocábulos entre os idiomas era inevitável. As línguas africanas, mesmo entre capatazes e capitães do mato, eram frequentes – eles tinham de se comunicar com os escravos, e então novamente muitas trocas ocorreram.

Cipó, abacaxi, abacate, mandioca, são todas palavras vindas de línguas indígenas. Ao mesmo tempo, africanos deixaram milhares de novas palavras, como samba, senzala, zabumba, caçula e tantas mais.

A verdade a respeito da língua no Brasil colonial é que, até o século XVIII, quando o Marquês de Pombal estabeleceu a obrigatoriedade do português como língua oficial, a situação não era muito diferente da hoje existente em muitos países africanos. Diversos grupos ainda mantinham sua língua – tanto indígenas quanto escravos africanos. Dialetos existiam em toda parte – na zona da mineração, em Minas Gerais e parte de São Paulo, mesmo colonos falavam versões do português indecifráveis para os europeus. Em lugares próximos do litoral, dialetos ainda sofriam influência de outras línguas europeias, entre elas o holandês e o francês.

Religião no Brasil Colônia

A cultura religiosa é outro aspecto particular da cultura brasileira. Durante praticamente toda a época colonial, em tese, o catolicismo era a única religião existente. Outras religiões não eram bem-vindas e até mesmo eram perseguidas pela Inquisição católica, ainda existente em boa parte do período colonial.

Na prática, escravos, indígenas e mesmo colonos de origem protestante tentavam manter cultura e práticas religiosas, o que levou a “meios-termos” em relação à fé. O fenômeno, conhecido como sincretismo religioso, nesse caso, ocorre quando diversas religiões ou práticas se fundem, criando uma mistura.

Dança da congada.
Os cultos aos santos por meio das irmandades e confrarias representavam espaços de sociabilidade entre os africanos que viviam no Brasil, construindo importantes vínculos de associação entre eles. A congada é um exemplo de confraria religiosa leiga surgida no Brasil colonial, cuja existência permanece nos dias atuais.

Vemos o resultado da mistura de símbolos religiosos africanos com símbolos religiosos católicos, como exemplifica bem a comemoração do Senhor do Bonfim, em Salvador. Praticantes da umbanda ou do candomblé, e outras religiões de origem africana, associaram orixás ou deuses a santos católicos, evitando perseguições ao mesmo tempo em que mantinham o culto a suas divindades e ídolos.

Arte no Brasil Colônia

Mas e quanto às manifestações artísticas e regionais? Festas e danças – como o frevo, o bumba-meu-boi, cavalhadas, o próprio samba. As misturas únicas criaram centenas de focos de cultura local diferentes entre si e, ao mesmo tempo, únicas em relação a qualquer outra cultura no mundo.

Pintura representando uma dança de capoeira.
Jogar capoeira, de Rugendas. A capoeira, uma mistura de dança, jogo e luta praticada pelos africanos e seus descendentes no Brasil, não era bem vista pela elite colonial brasileira, o que fez com que ela fosse combatida e até proibida.

A arte encontrou determinados “centros”, a depender da época durante o período colonial. No auge da mineração, por exemplo, Vila Rica (atual Ouro Preto) foi um dos principais centros das mais variadas manifestações artísticas, chegando a comportar a primeira Casa de Ópera do Brasil. O impacto dessa época fica nítido principalmente na arquitetura – exemplos do barroco mineiro não apenas podem ser encontrados em Minas Gerais, mas também em cidades espalhadas por toda a região Sudeste, como Parati, no Rio de Janeiro.

Com a chegada do século XIX, grandes cidades começaram a despontar no Brasil colonial. Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Recife e outras. A arte e a cultura passaria a ser canalizada e concentrada nesses centros urbanos – vitrines para artistas brasileiros encontrarem financiadores e público de origem aristocrática ou europeia. Mesmo elitizada em seu início, a produção cultural e artística brasileira já havia sido traçada, por mais de 300 anos, em bases que envolviam não apenas a cultura dominante, mas também características dos diversos povos, etnias e culturas que fizeram parte da história do país.

Por: Carlos Artur Matos

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