Cultura

Danças Argentinas


Tango

É difícil escrever uma anotação histórica sobre o tango, mas ao mesmo tempo, é muito árduo eludi-lo porque são muitos os que através destas páginas solicitam, ainda que só seja, uma ligeira orientação que lhes ponha na pista deste completo fenômeno cultural – baile, música, canção, poesia – que por uma ou outra razão atrai a tanta gente.

Ainda que sobre o tango e suas figuras são muitas as coisas que se discutem e põem em dúvida, é geralmente aceitado que o tango nasce em Buenos Aires no final do século XIX ainda que alguns preferem dizer a modo conciliador, que nasceu às orlas do Rio da Prata.

Num fato de origem popular como o tango e, portanto, de nascimento evolutivo resulta impossível apontar uma data de nascimento. No entanto, o verdadeiro é que a maioria dos estudiosos coincidem em dar por boa a década de 1880 como o ponto de partida do que então não era mais do que uma determinada maneira de dançar  a música. A sociedade onde nasce o tango escutava e dançava habaneras, polkas, mazurcas e alguma valsa, pelo que respeita os alvos, enquanto os negros, um 25% da população de Buenos Aires no século XIX, moviam-se ao ritmo do candombe, uma forma de dança na que o casal não se enlaçava e dançava de uma maneira mais marcada pela percussão que pela melodia.

Musicalmente, o tango entronca em sua genealogia com a habanera hispano-cubana e é por tanto filho do tráfego mercantil entre os portos de língua espanhola de Havana (Cuba) e Buenos Aires (Argentina). No entanto, estas origens explicam pouco sobre seu nascimento. Inicialmente, o tango é interpretado por modestos grupos que contam só com violino, flauta e viola ou inclusive, em ausência desta, o acompanhamento de um pente convertido em instrumento de vento com a mediação de um papel de fumar e um soprador que marca o ritmo. O instrumento mítico, o bandoneón, não chega ao tango até um par de décadas depois de seu nascimento, em 1900 aproximadamente, e pouco a pouco substituiu a flauta.

Tango - dança argentina

Inicialmente, o tango foi um modo de interpretar melodias já existentes, modo sobre o que foram criando-se outras novas que num início nem sequer contavam com uma transcrição musical, já que com frequência seus intérpretes e criadores não sabiam escrever ou ler música. De fato, com o correr dos anos, alguns dos primeiros tangos já transcritos não vão assinados por seus autores senão por espertos personagens que sim sabiam escrever música e aproveitaram o esvaziamento existente sobre a autoria de determinados tangos celebrados popularmente, para pô-los a seu nome e ganhar com isso uns pesos.

Quiçá a estas alturas do texto, algum se pergunte sobre a origem do nome. É uma boa pergunta, mas carece de resposta, ou o que é o mesmo, há milhares. Em Espanha no século XIX se empregava a palavra tango para um pau flamenco, na geografia africana há alguns topônimos com esse nome, em documentos coloniais espanhóis se usa o vocábulo para referir-se ao lugar em que os escravos negros celebravam suas reuniões festivas… alguns inclusive dizem que a origem poderia estar na incapacidade dos africanos para pronunciar bem a palavra “tambor” que ficaria assim transformada em “tango”. Em fim, é uma boa pergunta mas o defeito da documentação escrita e a origem do tango e seus primeiros pais calará a resposta para sempre.

No entanto, se é possível falar com propriedade de um elemento importante: o palco de seu nascimento. Há que dizer que Buenos Aires era no final do XIX uma cidade em expansão com um enorme crescimento demográfico sustentado sobretudo na emigração que procedia de multidão de países. Tinha por suposto espanhóis e italianos mas não eram alheios a esta corrente migratória os alemães, húngaros, eslavos, árabes, judeus… Todos eles compunham uma grande massa obreira desarraigada, pobre, com escassas possibilidades de comunicação devido à barreira linguística e majoritariamente masculina, já que eram fundamentalmente homens em procura de fortuna, até o ponto de que a composição natural da população de Buenos Aires ficou totalmente descompensada, de maneira que o 70% dos habitantes eram homens.

As cifras falam: Argentina passou de ter dois milhões de habitantes em 1870, a quatro milhões vinte e cinco anos mais tarde. A metade dessa população se concentrava em Buenos Aires aonde a percentagem de estrangeiros chegou a ser do 50 por cento e onde iam também gaúchos e índios procedentes do interior do país.

Neste ambiente, começa-se a dançar em tugurios e lupanares o novo ritmo que se associa assim desde seu início ao ambiente prostibulário, já que eram só prostitutas e “garçonetes” as únicas mulheres presentes nas academias.

Já que se tratava de femininas dedicadas em alma e, sobretudo, em corpo a seus acidentais acompanhantes, o tango se começou a dançar de um modo muito “corporal”, provocador, próximo, explícito… de um modo socialmente pouco aceitável como se veria quando, sendo já um fenômeno emergente, o tango começou sair do arrabalde de sua cidade de origem e começou a expandir-se.
Nos primeiros tempos, quando o tango começa a converter-se em canção, as letras que acompanham a música são obscenas e seus títulos deixam lugar a poucas dúvidas: “Dois sem sacá-la”, “Que pó com tanto vento”, “Com que tropeça que não adentra”, “Sete polegadas”… ou inclusive “O Choclo” que ainda que literalmente significa maço de milho, em sentido figurado e vulgar, equivale ao castelhano “chocho” ou “buceta”.

De seu baixo berço a seu encobrimento como dança rei nos salões do mundo ocidental, o tango percorreu um curioso caminho de ida e volta entre o Novo e o Velho Continente, com uma paragem decisiva e brilhante em Paris.

Como chegou ali? Também neste ponto as respostas são  díspares e algumas variadas pintas. Determinados textos, bem mais ingênuos que eruditos, dão inclusive nomes e sobrenomes de “a” pessoa responsável desta viagem. A realidade, em sua extensão como em seu nascimento, parece mais complexa e, sobretudo, plural.

Os “meninos bem” de Buenos Aires não tinham reparos em baixar aos arrabaldes para divertir-se, dançar e, de passagem, levantar-se alguma mina ou alguma “milonguita” que engatusava ou se deixava engatusar. E para acercar-se à mulher não conhecida, nada melhor do que o tango. Por isso, o tango não era aceitável em suas casas nem dançavam com as senhoritas de seu ambiente e por essa razão permaneceu durante muitos anos como algo marginal e de classe baixa.

No entanto, as viagens destes patrícios a Europa, especialmente a Paris, foram o desencadeante. Paris não só era a capital do glamour e da moda, senão que ademais era uma cidade que dava refúgio a uma sociedade plural, parte da qual era alegre e despreconceituosa. Os bailes galantes da capital francesa vinham de atrás, Louis Mercier, cronista da vida parisiense escrevia em 1800: “Depois do dinheiro, hoje em dia o baile é o que mais sucesso tem entre os parisienses seja qual seja sua extração social: amam o baile, veneram-no, idolatram-no… É uma obsessão à que ninguém escapa”. Se isso era assim a princípios do XIX também o era a princípios do século XX ao que chegaram com uma fortalecida fama locais públicos como o Bal Bullier de Montparnasse ou o Moulin da Galette. Por acréscimo, o atrevimento, a princípios de século, não era alheio aos costumes parisienses, antes ao invés, algum baile anual, como o Bal dês Quat’z Arts dos estudantes “era célebre pelo ligeiro das vestimentas e pelo jogo sexual que reinava sempre nele” .

Neste contexto social não foi difícil que o ousado baile criado na capital do Prata encontrasse um terreno abonado para florescer e converter-se em curiosidade ao princípio, em moda e furor depois. E uma vez em Paris, a vitrine de Europa, a capital da moda, o berço do chic, sua extensão ao resto do continente primeiro, a todo mundo depois, foi algo singelo e rápido. Curiosamente, é então, quando Buenos Aires se olha em Paris, quando finalmente o tango entra em seus salões mais nobres avalizado agora pelo batismo europeu, o melhor dos pedigrees para uma burguesia emergente que lutava por fazer de sua cidade o Paris de América

A glória trouxe também e simultaneamente a rejeição. A sempiterna dinâmica social se pôs novamente em marcha, o antigo frente ao novo, a censura frente à abertura, à tradição frente à renovação. Os detectores do tango surgiram por todos os lados e foram inclusive ilustres e famosos. O Papa Pío X o proscreveu, o Káiser o proibiu a seus oficiais e a revista espanhola A Ilustração Europeia e Americana falava do “…indecoroso e por todos conceitos reprovável ‘tango’, grotesco conjunto de ridículas contorções e repugnantes atitudes, que mentira parece que possam ser executadas, ou sequer presenciadas, por quem estime em algo sua pessoal decência.”. A citação pertence a essa revista espanhola, mas resulta fácil encontrar outras paralelas em publicações inglesas, alemãs ou, inclusive, francesas.

Não obstante, para quando chegou a reação à sorte estava já jogada: o tango tinha triunfado. Teve vestidos de tango, cor tango, tango-thés… o tango foi o baile rei desse mundo de pré-guerra que teria de terminar muito cedo com o primeiro confronto armado mundial, a ascensão de Estados Unidos como potência, a mudança de costumes. Depois, o tango seguiu vivendo, nasceu com força o tango canção que lhe tomou o relevo ao tango dance, mas com um sucesso geograficamente mais restringido, o mundo, numa nova pré-guerra descobriu e admirou a Carlos Gardel e ao final do conflito a supremacia de Estados Unidos desembarcou em Europa também com o swing que morreu só para dar-lhe passo ao rock.

Em todos estes anos o tango tem uma brilhante história de auges limitados e declives relativos e uma continuada vida ao longo da qual se desenvolveu tanto o baile como a música até chegar a um nível de sofisticação e depuração que deixam às claras a maturidade desta manifestação que vive já nas primeiras décadas de seu segundo século de vida.

Chacarera

Pertence ao folclore vivo, pois ainda se dança ao natural nos ambientes populares de algumas províncias. A respeito disse La Nusta que é possível encontrar em Catamarca, Salta, Tucumán, Santiago Del Estero, sul de Jujuy, La Rioja, Cuyo e parte de Córdoba.

Quanto as versões musicais antigas da Chacarera, podemos mencionar, entre outras, as de Andrés Chazarreta (1911,1916,1920,etc), as de Manuel Gómez Carrillo (1920 e 1923), etc.

Características Gerais

Espécie folclórica da República Argentina, com exceção do litoral argentino, sua prática é conhecida por ser praticada em quase todo país. Pertence as danças de caráter vivo, de parceiros soltos e independentes. Sua origem é difícil de determinar, está emparelhada com as outras espécies como o Gato, o Escondido, o Marote, o Palito, o Ecuador e o Remedio, entre outras.

Modos Utilizados

As Chacareras são em sua maioria “bimodais”, utilizando a escala com terceiras paralelas. Também existe Chacareras  exclusivamente em modo menor e em menor proporção.

Variações

– Chacarera double: originada de Santiago Del Estero, se diferencia da Chacarera porque ao se dançar há um giro depois da mudança e antes de dar a volta redonda, parte do rombo que se agrega ao começar. Ainda em alguns casos se emprega o avanço e retrocesso reto;

– Chacerera truca: agrega-se há um tempo médio ao final que lhe dá uma característica de sincronia difícil de acompanhar com instrumentos ao dançar.

– Chacarera larga: com alguns lances mais largos que a double, em especial o agregado de um contragiro.

Existem 4 tipos de Chacareras perfeitamente diferentes no território nacional:

  • La Santigueña
  • La Tucumana
  • La Chaqueña
  • La Cordobesa

Origens

Poucos testemunhos escritos nos documentam suas origens, mas se acredita que começou depois de 1850, nas províncias do norte, centro e oeste da Argentina.

Segundo a tradição oral, nasceu em Santiago Del Estero, além disso o eixo de sua existência está nas províncias chacareras, que melhor definem essa teoria.

A primeira versão musical é a de Andrés Chazarreta, em 1911.

Pertence a um grupo de danças malandras, de ritmo ágil e caráter muito alegre e festivo, gozo da aceitação do ambiente rural e também dos salões cultos do interior até finos do século passado, espalhando por todo país, exceto no litoral e na Patagônia. É uma das poucas vigentes, ao dizer que ainda se dança em Santiago Del Estero – onde se arranjou com firmeza – e em Tucumán, Salta, Jujuy, La Rioja, Catamarca e Córdoba.

Há poucos documentos que nos contam sua história, mencionam que é a mais antiga e se dançava em Tucumán em 1850. musicalmente consta de 4 frases nas quais se cantam as coplas e um interlúdio que é somente instrumental, intercalado depois da primeira e segunda copla e também serve de introdução. Este interlúdio é uma característica coreográfica, já que pode durar de 6 a 8 compassos, e varia da mesma forma a duração desta – ou acompanhamento musical que se utiliza genericamente  de uma guitarra, violino, acordeom e pressuposto, o bombo, que se traja com seus típicos repiques. Na coreografia se introduz uma figura que é o avanço e o retrocesso, que consta de 4 compassos o igual que em quase todas as nossas danças consta como partes. A segunda se dança igual a primeira, mais invertendo como é característica, a posição inicial.

Indumentária feminina: sapatos de couro com salto médio. Vestido de zaraza em duas pesças: saia rodada e adornada com amplas rendas aplicadas. Bata abotoada na frente com rendas posto com sobresaia e outro na borda das mangas e au redor do pescoço. Penteado com uma ou duas traças soltas.

Indumentária masculina: botas adornadas com ou sem esporas. Bombacha e jaqueta típica, cortona de bordas retas e adornado de “alforcitas” o ninho de abelha chamadas “encarrujadas”. Camisa qualquer, branca o de cor, faixa, puxador com rastro, ou cinta larga com bolsos. Lenço de seda no pescoço com as pontas meio para as costas. Sombreiro de abas largas, nas cores cinza, marrom e preto. Faca na cintura. Pode-se dançar de dois pares “em quarto” ou compartilhadas, em cujo caso os bailarinos se localizam nos vértices do quadro imaginário, tendo cada cavaleiro ao frente a seu colega e à esquerda à dama contrária. As figuras que se compartilham são a volta inteira e meia volta.

Uma Chacarera que fez história

A história musical do folclore argentino se remonta as primeiras criações crioulas, muitas delas baseadas na literatura do Ciclo do ouro espanhol, e a fusão lenta e constante que sofreu com as influencias de natureza indígena.

Este folclore, puro e descontaminado, começou a registrar-se musicalmente, mas sem verso, no final do século XVIII e começo de XIX. Já em meados de 1800 começa um processo de “acriolamento” e de divulgação da musica e dança.

Nos últimos anos do século XIX e começo de XX, da mão de Mecenas do Folclore e Dr. Ernesto Padilla e recopiadores da valia de Andrés Chazarreta, ou Juan Alfonso Carrizo, o folclore resgata-se e divulga-se por todo centro e norte do país. Já na década de 1920 se começa a “projetar” as guitarras cuyanas por uma lado e a companhia de arte nativo de D. Chazarreta por outro fazem chegar o folclore a Buenos Aires: ali se registra o primeiro grande cambio na estética musical.

Um novo cambio se produz com o surgimento da poesia salteña da mão de Dávalos, Portal, Perdiguero, etc, e na dança que leva a cabo Santiago Ayala, o chúcaro.

Mas é uma Chacarera, criada em Tucumán, por poetas e músicos salteños: os irmãos Nuñez (Pepe e Geraldo) que introduz uma nova estética, estilizada e muitas vezes resistida…esta é a Chacarera de 55. A continuação transcreve uma nota na qual se reproduzem os ambientes e personagens que rodearam esta criação musical que impõem um antes e depois na música folclórica Argentina.

Cielito

Para falar do Cielito, propomos enfaticamente recorre aos textos de Carlos Vega, este grande investigador fez os estudos mais completos das contradanças: cielito, Pericón y Media Caña, em seus trabalhos As danças populares Argentinas I e II.

Esta foi a dança patriótica por excelência, levada desde Buenos Aires, em 1810, como marcha dos soldados ao Uruguai, ali se registra sua primeira versão, logo vai a Bolívia, segundo os estudos de Vega, não  podendo haver nas primeiras excursões, campana com as do exercito  de Belgrano. Logo vai a Mendoza e Chile com o General San Martín. Também vai ao  Paraguay e não há datas precisas de sua chegada ao Peru.

Existem vários documentos que provam a existencia do cielito no século XIX, algum vertígio em 1844 diz: “fazer involuntariamente os nervos da contemplativa e retirada ansiosa”, de da donzela, do magistrado, do militar. Em 1868 um vestigio dizia que os bailes iniciavam-se “com o céu em homenagem ao país e aos sentimentos nacionais da dona da casa”.

O primeiro texto do cielito se publicou em 1813, a primeira versão  musical foi escritaem 1816 e a primeira descrição coreográfica em 1818.

Muito mais são os dados que nos brindou o grande investigador sobre o Cielito que iremos contemplando com o tempo…

Milonga

“Dança urbana de Buenos Aires, da mesma geração do Tango, mas com melodia e ritmo brejeiro. O sentido do termo provém da língua “Bunda” da República dos Camarões, (Melunga = palavra, o plural é Milonga)”.
Descende da Habanera Cubana e o Lundu Africano. No vocabulário africano milonga quer dizer palavra, tem passagem pela Europa de onde adquiriu fortes traços da influência negro e hispânica, Sua pátria contudo é o pampa Riograndense, Uruguaio e Argentino, indícios apontam para o surgimento na Argentina por volta de 1865/1870.

Onde junto com o Tango de Gardel, tomaram conotações de danças populares argentinas, na Argentina o local onde as pessoas vão dançar tango, o salão de bailes, é chamado de milonga, neste mesmo local são dançados ambos os ritmos, a milonga Argentina, herda do tango a estrutura de seus passos e figuras, no tango o passo básico de 8 tempos, a milonga abrevia em 6 porém a estrutura é muito idêntica, e aos ouvidos de um leigo é quase impercebível a diferença entre os dois ritmos, contudo a diferença se dá na milonga ser mais rápida e compassada em quanto o tango é mais dançado através de estímulos.

O Rio Grande do Sul adotou esta dança e deu conotações Riograndenses a esta dança aonde a proximidade com a vaneira, originou a milonga dançada nos fandangos gaúchos, que difere da milonga Argentina, a milonga gaúcha é uma dança calma que por ter muitas influências do tango, possui giros lentos entre outros cortantes, lembrando os ganchos e sacadas do tango, todos estes enfeites são criados pela habilidade dos bailarinos. Em 1968 o conjunto Farroupilha gravou pela primeira vez uma milonga no RS, “A Milonga do Bem Querer”.

Coreografia dos passos: para o peão, uso do compasso binário para a esquerda e o compasso único para a direita e para a prenda, uso do compasso binário para a direita e o compasso único para a esquerda.

Chamamé

Segundo o folclorista argentino Joaquim Lopez Flores em seu livro “Danças Tradicionais Argentinas” que relata que este ritmo é semelhante a dança Espanhola chamada “La Zamarra”, e que esta dança no passar dos tempos foi chamada de “Chamarra” e que na zona da Província de Corrientes ) sofreu o diminutivo e passou a ser chamada de “Chimarrita”.

O chamamé como música, dançar valseado, foi muito difundido pelas gravadoras de Buenos Aires, a partir dos anos 40, para o público de Corrientes e vizinhanças do Paraguai.

Na Argentina o chamamé é dançado em compasso ternário, ou seja o chamamé valsado, na língua indígena guarani, chamamé quer dizer improvisação,

Coreografia dos passos: Compasso quaternário (4 passos para cada lado ) ou também compasso único para ambos os lados ( 4 e 4 ou 1 e 1 ).

El Gato

O gato é uma alegre dança crioula que se dança na Argentina antes de 1820 e que possivelmente chegou ao Peru.

Representa um discreto jogo amoroso onde o cavalheiro simula cortejar a dama e tratar de conquista-la, perseguindo-a; luz para ela as melhores mudanças de suas sapatos,realizando incríveis piruetas até obter sua resposta na coroação final. Esta dança pode ser dançada por um ou dois pares e foi,  sem sombra de dúvidas, a mais popular dos bailes da planície igual ao Malambo.

Também é conhecido com outros nomes como: “Gato mis mis”, ‘mis mis” e “Perdiz”.

Malambo

O Malambo nasceu nas sociedades pampianas, por volta de 1600. Dentro dos bailes é uma exceção, pois é um verdadeiro contraponto  de sapateado dos homens: é uma dança masculina. Cada variação na forma de sapatear se chama “mudança”, ou seja, figura distinta, e como é lógico, vence o duelo quem consegue superar o seu rival nas variedades de recursos. As “mudanças” são executadas por rigorosos turnos e ao som de um rasguido na guitarra, cujos tons se repetem infinitamente. dizem que há “malambeadores” capazes de fazer 50 ou mais “mudanças”. Do que se poder ter certeza é que alguns de seus cultivadores, pela agilidade, sentido rítmico, elegância e resistência física, seriam melhores que muitos bailarinos clássicos, sem desmerece-los. O Malambo foi, nos bailes tradicionais, o que a payada de contrapunto no canto: um verdadeiro torneio de habilidades.

Zamba

A Zamba  é uma dança na qual os parceiros são soltos e independentes. O lenço tem um importante papel, já que é através dele que os bailarinos expressam estado de animo, sugestões e desejos.

O homem corteja a mulher com ternura e ela aceita, onde se curva. Logo após de conquista, chega o triunfo do varão, que o coroa pondo nele o lenço, como a abraçando.

Teve origem no Peru, filha direta do Fandango Espanhol, onde foi a preferida das raças índia e negra (zambo) e deve um de seus nomes a esse de que as coplas que se cantavam iam dirigidas as zambas.
Passando pelo Peru, Chile, Bolívia, Paraguai e Equador, chegou a Argentina por duas vias, passando do Chile aos salões de Mendonça e de Lima aos de Jujuy, Salta e Tucumán, entre 1825 e 1830. É conhecido por diversos nomes desde o original., Zamacueca até Zambacueca, Zambaclueca, Chilena, Marinera, sendo todas denominações regionais de uma forma musical coreográfica comum com leves variações captadas do ambiente.

As regiões onde é mais intensa sua prática são as províncias do norte e oeste, sobre todo Santiago Del Estero. Se dança também na província de Buenos Aires e parte do litoral, mas é no norte aonde se tem conservado com mais cuidado, sendo uma das danças com maior vitalidade na prática popular.

Pericón

Esta dança tradicional foi no começo uma variante do Cielito, igualmente a Media Caña. Segundo alguns autores, uma das variantes do Cielito com muitos essa variação recebeu o nome de “Cielito Apericonado”. Com o decorrer dos anos, esta forma de dançar se torna importante e se distingue daquele como dança indepemdente, tomando o nome de Pericón.

Em 1817, já como dança independente, San Martín o levou ao Chile, junto com o Cielito, a Sajuriana e o Cuando. Ali alcançaram grande difulsão.

Dança-se desde o inicio da independência Argentina, tanto na campanha como nos salões da região pampiana, litoral, e centro e na província de Buenos Aires, onde dura até 1840.

Em 1880 cai a popularidade do Pericón, mas felizmente os irmãos Podestá, em seu espetáculo circense, ao incluí-lo na obra “Juan Moreira”, transforma-o numa dança nacional.

Classificação: dança de conjunto de pares soltos e interdependentes. Dança-se no geral com 8 pares, mas este número pode variar sempre que seja par (múltiplos de quatro).

Elementos: passo básico

Acessórios: lenços (celeste para as damas e brancos para os varões). A dança inicia-se com o pé direito.
Coreografia: não tem uma quantidade fixa de compassos dançados,sendo que está condicionada para as indicações que dá o portador do bastão. O mesmo, anunciará o passo a ser realizado (voz preventiva) e a voz da Aura (voz executiva) .

Posição inicial: os bailarinos se dispõem em duas fileiras frente a frente. 4 pares de cada lado. As damas devem estar à direita de seus parceiros. Os pares serão numerados de 1 a 8, sendo o primeiro par o possuidor do bastão.

Pollito

O igual que o Amores, dança-se em quartos: 2 casais soltos e independentes. É uma típica dança de galanteio por suas donosos saudações e coregrafía.

São quase nulos os documentos que nos podem dar uma semblanza da origem do Pollito, ainda que há sinais de que se dançou no centro da República para mediados do século XIX; não se encontraram versões similares em outras províncias nem países. Tanto a Ñusta como Beltrame indicam que o Pollito é uma variante do gato, realizada por algum bailarino desconhecido, quem lhe agregou alguns enfeites.

Os enfeites adicionais são o pío-pío que se realiza com as mãos. Segundo Berrutti, Ventura Lynch comenta: “No Pollito se faz o pío-pío com a gema dos dedos da mão que executa, apertando-os e retirando-os da prima à bordona em duas notas do tom e no mesmo fracasso”.

Prado

Ao igual que Pollito o e Amores, é dança de quarto de 2 casais, também de galanteio, casal solto e independente.

Esta dança surgiu na segunda metade do século XIX em Buenos Aires. Também se dançou em Tucumán, e segundo Orestes Di Lullo há versões do Prado também em Santiago do Estero.

Como diz os estudiosos, o Prado guarda grande similitude com outras danças. assim Isabel Aretz, genial recopiadora e discípula de Carlos Vega, indica-nos que a versão de Lombardi se assemelha à segunda parte do Esondido e que a publicada por Beltrame é uma variante da Impressão, Beltrame também tem uma versão do Prado com a mesma música da Pátria.

Triunfo

Esta dança tão ágil e significativa, que constituiu em seus princípios uma homenagem aos bravos patriotas que asseguraram a liberdade americana com seus triunfos de armas, bailóse na campanha de todas as províncias aproximadamente desde 1825 até 1900. Em algumas regiões, como na província de Santiago do Estero, permaneceu até as primeiras décadas de nosso século.

Em algumas províncias teve também vigência nos salões, nos quais se dançou com maior discrição que na campanha – onde foi todo agilidade, vigor e soltura -, tal como ocorreu com as danças em general.
Nas coplas mais antigas se nomeia aos “godos” (realistas) e aos patriotas, aludindo sem dúvida aos soldados crioulos que selaram a independência americana, tenho aqui uma das mais típicas:

Este triunfo, menina
dos patriotas;
que caíam realistas
como gaivotas.

Escondido

Dançou-se em todas as províncias, nos ambientes rurais, desde antes de mediados de século anterior até o fim do mesmo, também teve aceitação nos salões, mas só durante certas épocas. Na campanha de algumas províncias perdurou até as primeiras décadas de nosso século, e em algumas regiões apartadas ainda costuma dançar-se, Isabel Aretz diz a respeito que atualmente “vive no centro e oeste de nosso país”.
Em algumas regiões se chama “Gato escondido”, de onde pode inferir-se que quiçá seja uma variante do antigo Gato de quatro esquinas.

Entre as versões musicais citaremos: a Luis Bonfiglio (1889), Andrés Chazarreta (1911 e 1916), Manuel Gómez Carrillo (1923), etc.

Media Caña

A história da Media Caña que se nos apresenta sócia com a do Cielito e a do Pericón, arranca desde a segunda década do século passado. Derivada, como o Pericón, do Cielito – dança mãe das “contradanças rurais crioulas” – seu nome aparece com frequência vinculado com o destes dois bailes, quiçá porque num princípio não foi senão uma forma especial deles que, com o tempo, se tornou independente e adquiriu condição de dança.

A Ñusta manifesta que o Cielito teve com o tempo um diretor ou bastonero, chamado “pericón”, que se fez necessário para que todos os casais fizessem as figuras em forma coordenada; a este Cielito se lhe chamou, por tal motivo, “apericonado”, e foi o que deu origem mais tarde ao Pericón. Quando esta dança se dançava em certa forma especial recebia o nome de “Pericón em media cana”, e deste derivou mais tarde a Media Caña.

Entre 1830 e 1850 atingiu seu maior  voga, especialmente na cidade de Buenos Aires, litoral e zona central, tanto nos salões como nos ambientes rurais e populares. Na campanha perdurou algumas décadas mais.

Huella

Esta formosa dança, de música tão sentida, delicada e melancólica, dança-se em todas as províncias, aproximadamente desde 1830, e em algumas delas se conservou até os primeiros anos do século XX.
Na atualidade não se dança espontaneamente, pelo que pertence ao folclore histórico.

Firmeza

A Firmeza se dançou em todas as províncias argentinas; hoje, já desaparecida, sua música se recolhe ainda em algumas delas.

Em Buenos Aires e em Montevideo se praticou desde meados do século anterior. Em 1900 o circo Podestá, que a incluiu em seu repertório (como ao Pericón, a Huella e outras crioulas), difundiu-a por muitas províncias.

Seu nome está tomado do texto, onde se alude à firmeza: “Que me mandaste a dizer que te amasse com FIRMEZA”.

A origem da Firmeza deve procurar-se nos bailes europeus que se introduziram em América e que aqui sofreram um processo de adaptação e transformação. Em Espanha existiram várias danças com mímica indicada pelo texto (segundo A Ñusta, algumas danças de Burgos, a Geringoza e as Agachadillas ou Enganchadillas), as quais podem ter contribuído a dar origem à Firmeza.

Pala-Pala

Sustentou-se que o Pala-Pala é de origem quichua – quiçá por causa do texto bilíngue quichua-castelhano com que nos chegou -, mas as versões que conhecemos atualmente são de neta fatura europeu-crioula, como todas as demais danças nossas de galanteio. C. Vega indica que não é senão uma variante da Joaninha, e por sua vez I. Arétz manifesta que “a música do Pala-Pala conhecida hoje, sobretudo em Santiago do Estero, deriva daquela dança .

O Pala-Pala se dançou principalmente em Santiago do Estero, nas últimas décadas do século passado e nas primeiras do presente. C. Vega indica que também se cultivo em Tucumán e Salta.

A voz “Pala-Pala” – que significa CORVO em quichua -, com que se inicia o texto e que lhe dá nome à dança, deu motivo para que o significado desta se interpretasse de muito diversa maneira, originando formas mímicas no baile. Quis-se ver nela uma pantomima em que o corvo persegue a sua presa – uma doce pomba – até que consegue ataca-la e extrair-lhe as vísceras, representadas por um ou dois lenços vermelhos, já com a mão, já com os dentes; ou bem a representação de uma luta entre dois corvos que se disputam a presa, amém de outras pelo mesmo tenor. Uma versão indica que à medida que o canto vai nomeando aos diversos animais (corvo, sapo, lagartixa, etc.), os dançarinos imitam seus movimentos.

Condición

Esta formosa, senhorial, magnífica dança, verdadeira joia de nosso folclore, chegou-nos com uma história plena de sugestões embelezada pela lenda.

Com respeito a sua origem, uma das versões mais difundidas nos diz do que sua coreografia foi criada pelo General Manuel Belgrano, um irmão seu e vários ilustres patriotas, em Catamarca, para 1812 ou 1813, em honra das tropas libertadoras do norte; e agrega que seu nome se deve a que aquele, convidado a dançá-la, pôs como “condição” a de fazê-lo com uma determinada dama daquela província.

Mas os historiadores – que ainda que agradem da poesia nunca a mudam pela verdade averiguada -, dizem-nos que, desafortunadamente, não há documentos que abonem essas crenças, e que as tradições orais, sem precisar data, indicam que o prócer dançou a Condición, em Catamarca, com a Sra. Elcira González de Olmos ou com a Sra. Luisa González de Molla Botello, mãe da anterior.

Cuando

Esta formosa dança cortesana dançou-se na Argentina desde os começos do século anterior até passada a metade do mesmo, tanto nos ambientes rurais como nos cidadãos nas províncias andinas, cuyanas e centrais; C. Vega indica que também se praticou em Salta, no oeste da Pampa e em Rio Negro. Parece que não se cultivou na cidade de Buenos Aires nem na região do litoral.

San Martín, que possivelmente o conheceu em Mendoza, levou-o A Chile junto com outras danças, em 1817 a respeito ao memorialista chileno José Zapiola, diz o seguinte: “San Martín, com seu exército, em 1817, trouxe-nos o Cielito, o Pericón, a Sajuriana e o Quando, espécie de Minuet que ao final tinha seu alegramento”. No país teve ampla difusão, e em 1828 se imprimiu ali sua música; a leitura desta nos permite comprovar que a melodia se manteve quase intacta até hoje.

O Cuando deriva – segundo C. Vega – das Gavoitas que nos trouxeram os espanhóis no século XVIII; estas eram danças francesas que tinham dois ares: um de Minuet e outro de alegramento, que se sapateava. Em nosso país o povo conservou o Minuet mas acrioulou o alegramento, dando-lhe ritmo de Gato.
A primeira versão musical argentina é de Andrés Chazarreta (1914 e 1916).

Por: Renan Bardine

Bibliografia

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