Diferentemente do caso de outros idiomas europeus, o dialeto toscano florentino, que viria a ser chamado “italiano”, acabou tornando-se língua nacional graças à escolha deliberada de que fora objeto, já no século XIII, por parte de Dante Alighieri, que lhe deu foro de língua literária.
O italiano é uma língua neolatina ou românica, ou seja, deriva da evolução do latim vulgar, tal como o francês, o castelhano e o português. Os primeiros exemplos linguísticos conhecidos em italiano vernáculo remontam ao século X, mas o primeiro trabalho literário de certa extensão a ganhar ampla difusão foi o Ritmo Laurenziano, no fim do século XII.
A península italiana caracteriza-se por grande riqueza dialetal, superior à que apresentam as demais línguas românicas. Os dialetos italianos podem ser assim classificados: (1) setentrionais ou galo-itálicos, constituídos pelo piemontês, o lombardo, o lígure e o emiliano-romanhês; (2) vênetos, falados no nordeste da Itália; (3) toscanos, cuja variedade principal, o florentino, constituiu o fundamento da língua nacional; (4) centrais, integrados pelas variedades das Marcas, Umbria e Roma; e (5) meridionais, que compreendem todos os falados na zona meridional do Lácio e no resto das regiões do sul, como o napolitano, o calabrês, o campaniano e o siciliano.
A ausência de unidade nacional, que só se concretizaria no século XIX, foi a causa de não existir inicialmente, em meio a toda essa riqueza dialetal, nenhuma variedade capaz de impor-se sobre as demais. Nesse sentido, foi decisiva a intervenção de Dante Alighieri, pois, ao empregar o dialeto florentino na Divina comédia, ele lançou os fundamentos da língua literária, que haveria de ser o idioma oficial do estado. Para isso contribuíram também o prestígio e as obras de Francesco Petrarca e de Giovanni Boccaccio, ambos florentinos como Dante, assim como a posição geográfica central da cidade toscana na península itálica.
O italiano é falado em todo o território da Itália, no estado do Vaticano, na república de San Marino, em parte da Suíça — cantão de Tesino e quatro vales do cantão de Grisões — e na ilha francesa da Córsega. Estendeu-se também consideravelmente pelo continente americano, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Argentina, já que foram numerosos os imigrantes italianos que ali se fixaram.
Características da língua italiana
O sistema fonético italiano não difere de forma significativa do português ou do latim. Possui sete vogais tônicas, cinco átonas e dois ditongos, e carece de metafonia, isto é, as vogais não mudam de timbre por influência de um fonema próximo. O conjunto de consoantes, ao contrário, apresenta maiores diferenças. Um de seus traços mais importantes é a presença de sons palatais fricativos. Faz distinção entre consoantes sonoras e surdas, e estas últimas conservam seu valor mesmo em posição intervocálica. Cabe ainda assinalar a perda das consoantes finais, que faz as palavras italianas acabarem geralmente em vogal. Tais palavras podem ser oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, embora somente as oxítonas agudas terminadas em vogal apresentem acento gráfico.
No que diz respeito à morfologia, o italiano possui unicamente dois gêneros, masculino e feminino. Sua diferença mais significativa em relação a línguas românicas como o francês e o português é que não forma plural com as desinências -s e -es. Para a maioria das palavras femininas emprega-se -e; para as masculinas e algumas femininas, -i. Além disso, o italiano é muito rico em sufixos aumentativos e diminutivos, que podem ser acrescentados aos substantivos, assim como a alguns adjetivos e verbos. Existem, enfim, três conjugações verbais, com duas variantes cada uma.
A sintaxe italiana caracteriza-se por sua notável complexidade, principalmente no que diz respeito ao verbo. São numerosas as perífrases de tipo modal e temporal, assim como o emprego dos modos subjuntivo e infinitivo. A ordem das palavras é flexível, embora predomine a de sujeito, verbo e complementos.
O vocabulário italiano é constituído, em sua maioria, por palavras latinas que seguiram uma evolução lógica de acordo com a fonética toscana. Uma parte considerável de seu léxico, porém, é integrada por empréstimos de outras línguas — grego, provençal –, por cultismos latinos ou por palavras de origem germânica, árabe ou espanhola. São muitos os galicismos, sobretudo dos séculos XVI e XVII, enquanto que no século XX o idioma sofreu forte influência do inglês, como outras línguas românicas. Também é preciso levar em conta a incorporação de grande número de empréstimos procedentes dos próprios dialetos italianos, cuja diversidade perdura.
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Autoria: André Dedini Altafin