As origens da língua espanhola começam muitos séculos antes de nossa era. Supõem-se que os primeiros habitantes do que hoje é a Península Ibérica (Espanha e Portugal), se estabeleceram aos lados dos Pirineus (cadeia montanhosa entre a França e a Espanha).
Estes grupos humanos falavam uma língua que ainda sobrevive no idioma vasco (fala-se vasco em Vasconia, região de Espanha e França). Em outra região geográfica – costa de Levante – se estabeleceram os Iberos, cujo o nome tormou-se o da península. Sua cultura provavelmente procedia das costas africanas.
Veja as culturas que influenciaram na formação da língua espanhola:
Os Tartesios
Provavelmente no final da Idade de Bronze, chegou à atual Andalucía uma raça de cultura superior, a qual por haver fundado a cidade de Tartesos se chamou tartesia. Procedia da África, e dominou os antigos habitantes, provavelmente íberos. Também estes eram de raça africana razão pela qual alguns consideravam como íberos os tartesios.
Os restos da civilização tartesia foram descobertos em 1922-1923, nas marismas da atual desembocadura do Guadalquivir, mas Tartesos esteve numa ilha do delta que então formava o rio. Na época do rei Salomão (1000 anos antes de Cristo) ficou conhecida como uma cidade populosa.
A península ibérica foi invadida várias vezes por tribos oriundas da África. Nos séculos anteriores a era do cristianismo viveram nela os iberos, de raça africana, que povoaram todo o norte da África, desde o mar Vermelho até o oceano, e com certeza invadiram várias vezes a península.
Entraram pelo norte outras tribos de raça celta. Como os iberos, se estenderam pela península e passaram ao sul da atual França, e três ou quatro séculos antes de Cristo estavam mescladas ambas as raças em celtiberos.
Os fenícios e os gregos
Os colonizadores fenícios chegaram a Espanha 1110 anos antes de Cristo e fundaram, perto de Tartesos, a cidade de Gádir, ao sul da península.Posteriormente os romanos a chamaram Gades e os árabes, Qádis, para terminar como a conhecemos hoje: Cádiz. A palavra gadir é de origem púnico e quer dizer recinto amuralhado.
Outra cidade importante nascida, graças aos fenícios, foi Málaga (Málaka: feitoria, fábrica).
Os gregos, expulsos do sul pelos fenícios, se estabeleceram na região de Levante. Aí fundaram cidades importantes como Lucentum, hoje Alicante, e Emporiom, Ampurias. Pouco depois os gregos chegaram às ilhas Baleares. Os fenícios para deter-los se estabeleceram em Ibiza e fundaram várias feitorias no continente, entre elas Málaca, hoje Málaga.
Os fóceos
Os fóceos, nos fins do século VII a.C., fundaram cidades na costa leste da Espanha, como haviam fundado Massilía (hoje Marselha) no sul de França. A atual cidade espanhola de Ampurias foi fundada pelos fóceos, com o nome de Emporion. Os fóceos dominaram os fenicios mas foram derrotados pelos etruscos aliados com os cartagineses.
Os cartagineses
Quando os assírios tomaram Tiro, a hegemonia desta passou a Cartago.Desde então essa cidade, fundada depois de Gádir, aumentou sua importância, quem sabe porque não seguiu o costume fenício de estabelecer feitorias.Cartago colonizou, respeitando a autonimia dos dominados, exigíndo-lhes só tributos de homens e dinheiro. Assim muitos nativos da península ibérica combateram contra os inimigos de Cartago.
O desejo de monopolizar o comércio dos minerais levou aos cartinegeses a conquistar as grandes ilhas do Mediterrâneo e a destruir Tartesos, como haviam destruído antes outras cidades rivais.
Toda Andaluzia ficou então sob seu poder e dominaram também as explorações de minerais da atual Grã-Bretanha. A expansão comercial cartaginesa não tinha nenhuma piedade e uniu aos iberos e marselheses contra Cartago. No ano 300 a.C. como consequência, Cartago perdeu Andaluzia que havia reconquistado Amílcar no ano 240 a.C. quedó entonces bajo su poder y dominaron también las explotaciones minerales de la actual Gran Bretaña. La expansión comercial cartaginesa era despiadada y unió a los íberos y marselleses contra Cartago. Hacia el año 300 a.C. como consecuencia, Cartago perdió Andalucía que había reconquistado Amílcar en el año 240 a.C.
Para esta data uma nova e pujante cidade havia crescido militar e economicamente, junto aos etruscos, aos que absorveu. Essa cidade, já então mais que uma cidade, por seu território e poder, era Roma. O confronto de ambos estados era inevitável.
As culturas fenícia e grega, propiciaram o desenvolvimento da arte ibérica, tanto em numismática como em escultura. A famosa Dama de Elche ficou como uma amostra da aculturação grega por parte dos iberos.
Lígures
No que se refere as regiões do Centro e Noroeste, não é possíver definir com exatidão que grupo ou grupos humanos chegaram a colonizar. Existe a hipótese de uma imigração lígure (proveniente do Norte e Centro da Itália, da região da Provenza). Dita suposição tem se sustentado devido aos toponímicos (nome de lugares) encontrados em diversas partes da Espanha. São característicos, ainda que não exclusivos do idioma lígure, os sufixos “-asco”, “-osca” e “usco”, por exemplo “Viascón”, hoje Pontevedra; “Tarascón”: Orense, “Piasca”: Santander, “Beascos”: Murcia, “Orusco”: Madrid, “Biosca”: Lérida. O sufixo “-ona”, também é de origem lígure, por exemplo: Barcelona, Tarzona, etc.
Celtas
Os celtas invadiram a Hispânia no século VII a.C. Procedentes do sul da Alemanha, se estabeleceram em Galícia, sul de Portugal e na região chamada Serra Morena. Mais tarde se mesclaram com os iberos no Centro e Baixo Aragão, e formaram uma região chamada Celtiberia.
Os toponímicos de origem céltica são muitos. Quase todos eles possuem nomes guerreiros.Entram como elementos informativos das palavras: “briga”, que significa fortaleza, e “sego” ou “segi” que indicam vitória, po exemplo: “Conimbriga”: Coimbra, “Lacobriga”:Carrión, “Seguvia”: Segovia. A palavra “dunum”, é sinônimo de “briga”; aquele elemento também entrou na formação de toponimias. Os lugares citados se encontram localizados tanto na região central como na oriental dos Pirineus, por exemplo “Navardúm”: Zaragoza, “Salardú”: Lérida.
Carência de unidade linguística pré-romana
Não é possível falar de uma unidade linguística na península ibérica antes da chegada dos romanos. Os alfabetos ibéricos e tartesio serviram cada um para diversas línguas. Os grupos colonizadores conservaram e estenderam cada um sua própria língua: gregos, fenícios, cartagineses, celtas, etc. Além dos idiomas mencionados ainda é necessário agregar o vascuense.
A língua vascuense
O vascuense, língua que até agora se conserva, e não tem relação linguística com os demais que se falaram e falam na Espanha, é um idioma cuja origem é muito discutida ainda. Existem três teses:
- O vascuense é de procedência africana. Apresenta coincidência decisivas com as línguas camíticas: bererer, copto, cusita e sudanês.
- O vascuense é originário da região do Caucáso. Sua estrutura gramatical tem muita semelhança com as línguas caucásicas.
- O vascuense é uma língua mista e se parece aos idiomas caucásicos em sua estrutura e origem. Incorporou numerosos elementos camíticos das línguas ibéricas, assim como celtismos e, finalmente, abundantes latinismos.
A segunda e terceira teoria são as que se mantém na atualidade (muito se deve a pressões de alguns “expertos”, orientadas a se afastarem, o mais possível, das origens africanas).
O vascuense, desde sua origem até o século X, foi uma língua que se transmitiu por tradução oral. Textos mais ou menos amplos aparecem até o século XVI, mas sem chegar a ter a qualidade de uma língua culta. Em nossos dias mantém sua primária estrutura gramatical, mas se têm visto submetida à influência do latim e das línguas românicas.
O vascuense tem dado lugar a muitos dialetos. São de origem vasco numerosos toponímicos localizados principalmente em toda região dos Pirineus. Para a composição de muitas palavras entraram em função os sufixos éuscaros (vascos): “berri”:novo, “gorri”: vermelho, “erri”: queimado. Alguns nomes de origem vasco são: Urquiza, Esquerra, Iruecha, Garay, etc. O vascuense é a única língua pré-romana que possui vigência na atualidade. É falado em algumas províncias espanholas: Vizcaya e Guipúzcoa.
Os romanos
Os romanos começam a conquista de Hispânia no ano 206 a.C. Antes, no ano 218 a.C., os Escipciones tinham desembarcado em Ampurias. A pacificação foi completa até o ano 19 a.C., quando Augusto dominou definitivamente os cântabros e astures. Assim, Roma, ao conquistar novas terras, acabava com as rivalidades entre tribos, povos e cidades, impondo sua cultura, que trazia o o conceito da lei e da cidadania. Os romanos eram mestres em administração e direito. Devemos recordar que o Direito Romano foi a base das legislações ocidentais. Também não devemos esquecer que construíram admiravelmente calçadas, portos, pontes e aquedutos que ainda estão em pé.
Com efeito, os romanos transformaram completamente o modo de vida dos habitantes de Hispânia, levando a este povo não só as formas latinas de vida, senão a cultura grega que eles haviam adquerido quando conquistaram a região helvética.
Logo começaram a levantar cidades latinas na península ibérica; em 206 a.C. fundaram Itálica. Estenderam-se rapidamente por diversas regiões do país colonizado. Já no ano de 90 a.C., nativos de Salduia (Zaragoza) lutavam como irmãos ao lado dos romanos na guerra social de Itália.
O latim
O latim, língua oficial dos romanos, se impôs rapidamente como instrumento de comunicação em todo o Império Romano. Os toponímicos indicam que também houve mescla de elementos romanos com celtas e vascos. Por exemplo “Gracchurris” (Alfaro) se formou do nome de seu fundador Tiberio Sempronio Graco e da palavra vasca “urris”. Elementos romanos e celtas se combinaram para formar: Caesarbriga (Talavera), Juliobriga (cerca de Reinosa) e Augustobriga (Cidade Rodrigo).
O latim, idioma claro e preciso, enérgico, prático e ordenador, adquiriu elegância quando teve contato com a língua grega. Hispânia foi testemunha do florescimento da literatura latina que imitou, fazendo seus, os modelos dos grandes mestres gregos. Desta maneira, muitas palavras de origem grega tem passado ao nosso idioma neste período por intermédio de imposição do latim. Por exemplo: “philosophia”: filosofia, “poesis”: poesia, “mathematica”: matemática, “chorus”: coro, etc.
Línguas Indo-europeias
O latim pertence as chamadas línguas itálicas que eram faladas antes de Cristo na península do mesmo nome. A sua vez, as ditas línguas itálicas pertenciam ao indo-europeu, originário de quase todas as línguas faladas na Europa. Além do latim são indo-europeias: as línguas célticas (que falavam-se em Hispânia e hoje em Bretanha) e na Grã-Bretanha (irlandês, galês, escocês ); as línguas germânicas (o desaparecido gótico, os modernos alemão, inglês e holandês); as línguas eslavas (russo, polaco, tcheco, búlgaro e servo-croata), as línguas escandinavas e também o grego e o albanês.
As línguas que se falam e falaram na Europa que não pertencem à família indo-europeia, são: o etrusco (desaparecido), o finlandês, o lapão, o estoniano, o húngaro e o vascuense, fora de Europa, pertencem ao tronco indo-europeu o grupo das línguas índias e persa. O que se conclui é que grande parte do mundo atual tem um mesmo antepassado linguístico.
Na atualidade o latim convertido em línguas romances, sobrevive com diversas modalidades em Espanha, França, Portugal, Itália, Bélgica, Suíça, România, Hispano-américa, sul de Estados Unidos, Filipinas e em muitos outros lugares do mundo, aonde foi levado pelos conquistadores espanhóis, portugueses e franceses, assim como pelos judeus sefardíes que foram expulsos de Espanha.
Fim da dominação romana
A dominação romana terminou no século V d.C., quando o império foi desmembrado. Em nossos dias o que se conserva das línguas pré-romanas são alguns sufixos: -arro, -orro, -urro: nuharro, machorro, baturro, -asco: peñasco. Presume-se que os sufixos -az, -ez, -oz, abundantes na toponímia peninsular espanhola, também pertencem ao periodo estudado. No mesmo caso está “-z” na terminação dos sobrenomes.
Por: Renan Bardine