Cultura

Pigmeus

Integrantes de uma etnia com estatura inferior a 1,50 m. Os Pigmeus vivem na África, em algumas partes da Ásia e em algumas ilhas dos oceanos Índico e Pacífico.

Características

Fisicamente bem proporcionados, os Pigmeus são “baixinhos” se comparados aos nossos padrões: a altura média das mulheres é de 135 centímetros e a dos homens, de 145. Eles mesmos consideram sua baixa estatura uma vantagem, porque os faz ágeis em suas andanças pelas obscuras selvas africanas.

Tem pele marrom-avermelhada e cabelos encaracolados, de cor escura. Em sua maior parte, tem cabeça arredondada e nariz achatado e volumoso. As pernas são curtas, os braços longos e o abdome saliente.

Os pigmeus falam a língua de vários povos vizinhos, fazem intercâmbio de produtos com eles, trocando carne por facas e outras ferramentas, e por produtos agrícolas, como banana, milho e arroz.

Como os demais povos caçadores da África, nunca se interessaram nem pela agricultura nem pela criação de gado. O único animal doméstico que costumam ter é o cachorro.

Todas as noites, os Pigmeus costumam se reunir em danças coletivas e jogos mímicos, que são suas atividades preferidas nas horas de lazer.

Os Pigmeus criaram formas culturais próprias, de acordo com as exigências do seu habitat. Isso, ao lado dos obstáculos geográficos e naturais, foi um dos fatores que os levou a viver isolados. Mesmo os poucos intercâmbios comerciais de carne e mel selvagem sempre se deram através de intermediários.

Povo pigmeu

Modo de Vida

Os Pigmeus, por viverem na floresta tropical escura, quente e úmida, encontram na coleta e na caça suas formas de subsistência. Não acumulam alimentos nem bens naturais e vivem daquilo que a natureza lhes oferece. Mas nem sempre contam com o suficiente para atender às necessidades mínimas – às vezes, passam longos períodos de fome.

Os homens caçam antílopes, pássaros, búfalos, elefantes, macacos e outros animais. A maior parte dos caçadores apanha os animais em grandes redes e os matam com lanças. Alguns deles caçam com pequenos arcos e flechas envenenadas. As mulheres coletam vegetais diversos, como morangos, nozes e raízes.

Os instrumentos de trabalho dos Pigmeus são poucos e feitos com madeira, ossos, chifres, fibras naturais e vegetais, dentes e sementes duras. Além de suas casas, são hábeis na construção de pontes de cipó sobre os rios.

Sociedade

A maior parte dos pigmeus vive em pequenos grupos de menos de cem pessoas. Cada grupo tem seu próprio território na floresta. Os pigmeus acampam, temporariamente, nas clareiras e constroem cabanas de galhos de árvores e folhas. Deslocam-se para uma nova área quando as fontes de alimento se tornam escassas.

Em todos os grupos pigmeus, a unidade socieconômica é a aldeia, formada por uma dezena de cabanas e habitada por grupos de trinta a setenta pessoas. O mais velho, ou o caçador mais hábil, preside cada unidade.

A cabana, semi-esférica e totalmente coberta de folhas, tem de 2 a 3 metros de diâmetro e uma altura que raramente supera os 150 centímetros. Antigamente, sua construção era tarefa exclusiva das mulheres.

A mulher é muito respeitada na sociedade pigmeia, e a monogamia é uma tradição tão firme que chega a ser difícil aos estudiosos explicá-la.

O homem em idade de casar busca uma esposa em um grupo distinto do seu. É uma forma de intercâmbio: um grupo cede a outro uma mulher se este está em condições de dar-lhe outra no lugar, para que o vazio deixado por uma seja preenchido pela outra.

lendas

O longo isolamento na selva e a falta de contato com os demais povos africanos deram origem a lendas absurdas e racistas. Costumava-se descrevê-los como um povo muito feio, meio animal, chegando-se a fantasiar que possuíam grandes rabos.

Tais lendas foram responsáveis por atitudes discriminatórias por parte dos Bantu africanos, como também dos árabes e europeus, que os consideravam animais, sem alma. Há umas dezenas de anos, por exemplo, a tribo africana dos Magbetu perseguiu e matou todos os Pigmeus de seus arredores, caçando-os como se fossem javalis.

Caça: momento mágico da comunidade

A estrutura social dos Pigmeus é muito precisa, e há uma nítida divisão sexual do trabalho. As mulheres recolhem na selva tubérculos, fungos, larvas e cogumelos. A pesca, que só acontece na estação seca, é reservada, em alguns grupos, às mulheres e crianças.

Já a caça é atividade exclusivamente masculina e se constitui num momento mágico na vida da comunidade pigmeia. Os homens se preparam para sair à caça se abstendo das relações sexuais e evitando toda “ofensa” à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de purificação e propiciação.

Nessas cerimônias, Mama Idei, a mulher mais velha do grupo, joga punhados de folhas sobre o fogo, fazendo a seguinte oração: “Abençoa, ó Deus, esses filhos teus. Olha para eles com atenção: estão famintos! Faz com que muitos animais caiam em suas mãos”.

Então, com a boca cheia d’água, benze os arcos, as flechas e as redes dos caçadores com pequenos borrifos. Em seguida, cada caçador enche a boca de água e borrifa sobre o fogo, pedindo o perdão de seus pecados: “Deus, se agi mal, perdoa-me. Que a caçada não fracasse por culpa minha”.

Certos grupos pigmeus são famosos pela caça do elefante, uma atividade valente e arriscada. Nela, alguns caçadores se aproximam o mais possível do animal e dificultam-lhe a marcha para que se distraia e caminhe devagar.

Enquanto isso, um dos homens se arrasta por debaixo do ventre do animal e lhe corta os tendões de uma das patas traseiras. Dessa forma, o elefante, debilitado e ferido, cai ao chão, e todos os caçadores se reúnem para matá-lo.

Religião

Não é fácil falar da religião dos Pigmeus, porque eles não costumam expressar suas crenças com ritos externos e, além disso, a religião dos diferentes grupos não é uniforme.

Geralmente, creem num Ser Supremo criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Creem ainda que as almas dos bons se convertem em estrelas do firmamento, enquanto as almas dos maus são condenadas a vagar eternamente pela selva e dão origem às doenças dos humanos.

Os Pigmeus acreditam também na vida além da morte, mas não se estendem muito sobre o assunto, logo se esquecendo das tumbas de seus antepassados.

Povo Bantu: patrões negros dos pigmeus

De natureza dócil e ingênua, os Pigmeus foram facilmente subjugados pelos Bantu. Em certas regiões, chegam a ser considerados parte do seu patrimônio familiar e, como tais, são transmitidos como herança de geração em geração.

Nessas condições, é o patrão negro quem responde por eles diante da sociedade. Defendem-nos em tribunais, onde às vezes os Pigmeus nem sequer têm o direito de comparecer, e conservam seus eventuais documentos públicos, que usam sem maiores controles.

Os Bantu desfrutam dos bens que os Pigmeus caçam e colhem e exigem que trabalhem em seus campos. Em troca, lhes dão retalhos velhos de tecido, alguns produtos de cultivo e até suas cabanas, quando estas já estão semidestruídas.

Vida e cultura ameaçadas pelo progresso

Quando estão entre estranhos e distantes de seu hábitat, os Pigmeus parecem tristes, preguiçosos, introvertidos. Na selva, ao contrário, são alegres, muito ativos, comunicativos e acolhedores. Para eles, o sistema comunitário é essencial e determinante.

Enquanto para o negro em geral a selva é uma madrasta perigosa, para os Pigmeus é uma mãe amorosa que os acolhe, nutre e protege. Dela eles recebem o material para construir suas cabanas, a madeira para seus arcos e flechas e o alimento cotidiano.

Hoje, como no passado, a sorte dos Pigmeus está ligada à selva. Fora dela, sua cultura e sua vida se perdem. Mas ultimamente o seu meio ambiente está sendo cada vez modificado e destruído pela extração de madeira, extensas plantações de café, minas de ouro e diamantes e implantações industriais.

Além disso, o uso de armas de fogo por parte de negros e brancos afasta sempre mais os animais selvagens, dificultando a caça, atividade essencial para a subsistência dos Pigmeus.

Qual o futuro dos Pigmeus? Eles conseguirão se integrar numa sociedade moderna sem perder a sua identidade cultural?

A discussão avança em terreno desconhecido. Qual o tipo de desenvolvimento adequado para uma população seminômade? Sabe-se muito pouco a respeito, e há o risco, sobretudo, de se querer responder a essa questão em nome dos próprios Pigmeus.

Por: Wilson Teixeira Moutinho