Doenças

Ancilostomose

A ancilostomose é uma infecção intestinal ou no duodeno causada por nematelmintos (vermes cilíndricos), que pode apresentar-se assintomática, em caso de infecções leves. Também chamada amarelão, ancilostomíase, doença do Jeca Tatu ou ainda opilação, é uma doença espoliativa, os parasitas se alimentam do sangue do hospedeiro.

A ancilostomose atinge predominantemente populações de baixa condição socioeconômica, cujo potencial à desnutrição é acentuado e facilitado com a presença dos vermes. O amarelão atinge 25% da população mundial, estatística semelhante à do Brasil.

Hospedeiro

A ancilostomose é uma doença que pode ser causada por vermes nematelmintos pertencentes à família Ancylostomatidae. São duas as espécies mais importantes: o Ancylostoma duodenale e o Necator americanus.

Não passam de um centímetro de comprimento, são monoxenos e dioicos, com dimorfismo sexual. Seu tubo digestório é completo e, na boca, encontramos dentes (Ancylostoma duodenale) ou lâminas orais (Necator americanus), com os quais se fixam na mucosa intestinal e lesam os capilares sanguíneos, podendo se alimentar de sangue.

Ancilostomose
Verme da ancilostomose

Ciclo da doença

Os vermes adultos, no intestino delgado da pessoa parasitada, reproduzem-se sexuadamente e os ovos são liberados com as fezes humanas. Em solo úmido e quente, esses ovos eclodem e liberam larvas que se alimentam de bactérias até se transformarem em larvas filarioides, a forma infestante do parasita.

Quando uma pessoa se expõe ao contato dessas larvas, elas penetram ativamente pela pele e atingem a corrente sanguínea. Dessa forma, são levadas até os pulmões e chegam aos capilares pulmonares. Depois de romperem a parede dos capilares, caem nos alvéolos pulmonares.

Com a tosse, atingem a faringe e são deglutidas. Finalmente, instalam-se no intestino delgado, onde exercem a sua ação espoliativa. Um mês depois da infestação, atingem a maturidade sexual e iniciam um novo ciclo com a eliminação de ovos pelas fezes.

Ciclo do verme da ancilostomose.
Ciclo do Ancylostoma duodenale.

Sintomas  da ancilostomose

A passagem das larvas pelos pulmões é menos traumática que a do áscaris, pois são larvas bem menores. As manifestações digestivas são diarreia, dor abdominal, náuseas e vômitos. A perda de sangue é considerável e pode provocar anemia e desnutrição.

Em crianças com parasitismo intenso, pode ocorrer hipoproteinemia e atraso no desenvolvimento físico e mental. Com frequência, dependendo da intensidade da infecção, acarreta anemia ferropriva.

Prevenção

É fundamental a educação sanitária, com orientação sobre hábitos corretos de evacuação e o destino dos dejetos humanos. O tratamento dos esgotos e a construção de fossas sépticas impedem a deposição de ovos no solo.

As pessoas devem evitar andar descalças, pois a pele dos pés é o local mais frequentemente penetrado pelas larvas filarioides.

O tratamento das pessoas doentes também é uma importante medida profilática, pois interrompe a eliminação de ovos, dos quais o homem é a única fonte.

História da Ancilostomose

Papiros egípcios de 1.600 A.C., já assinalavam a ocorrência da ancilostomose. Avicena, médico persa que viveu no século X da nossa era, foi o primeiro a encontrar os vermes nos intestinos de doentes e responsabilizá-los pela anemia decorrente, por serem os mesmos sugadores de sangue (hematófagos).

Na Europa era a doença conhecida por Anemia dos Mineiros, tomando nomes diversos conforme o país em que era constatada. No Brasil era antigamente nomeada por Opilação, Amarelão ou Anemia Tropical. Nosso escritor Monteiro Lobato, em um de seus livros, retrata o personagem Jeca Tatu, que nada mais era que um indivíduo parasitado pelo verme, o que serviu pelo Laboratório Fontoura para a propaganda de medicamentos de sua fabricação indicados para o tratamento da doença.

Em 1838 Dubini, médico Italiano, autopsiando uma mulher milanesa, encontrou em seus intestinos o verme causador da ancilostomose, descrevendo-o com detalhes e nomeou-o Ancylostoma duodenale, sem contudo suspeitar do seu papel patológico.

Somente Griesinger, em 1851, demonstrou ser o parasita intestinal o causador da chamada Clorose do Egito, encontrando o verme nos intestinos de numerosos cadáveres que necropsiou e assinalando a presença de pequeninos pontos hemorrágicos na mucosa intestinal, produzidos pelo verme para o ato de sugar sangue de suas vítimas.

J. Rodrigues de Moura, notável médico brasileiro, ainda quando estudante de medicina, em 1875, não só defendeu as ideias de Griesinger, como ainda emitiu a hipótese, mais tarde plenamente confirmada pelos trabalhos de Looss, da penetração das larvas do parasita pela pele íntegra das pessoas, as quais mais tarde se tornam parasitadas pelos vermes, abrigando-os em seus intestinos.

Trabalhos estatísticos efetuados no Brasil, comprovam que quase 100% da população rural, trabalhando na terra, muitas vezes descalça, está parasitada pelo verme. Hoje, é a ancilostomose uma doença de baixa prevalência, sendo inclusive considerada em extinção.

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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