Doenças

Trichomonas vaginalis

A espécie Trichomonas vaginalis, patogênica, foi descrita pela primeira vez em 1836, por Donné, que a isolou de uma mulher com vaginite. Em 1894, Marchand e, independentemente, Miura (1894) e Dock (1896), observaram este flagelado na uretrite de um homem.

Características morfológicas e fisiológicas

O Trichomonas vaginalis é um protozoário heterotrófico e anaeróbico facultativo, que possui flagelos para a locomoção. Se reproduz por divisão binária longitudinal, e possui em seu núcleo seis cromossomos.

O T. vaginalis é uma célula polimorfa (pois, não existem estruturas de sustentação, ou que lhe confiram rigidez, sob a membrana), tanto no hospedeiro natural como em meios de cultura. Os espécimes vivos são elipsoides ou ovais e algumas vezes esféricos.

O protozoário é muito plástico, tendo a capacidade de formar pseudópodes, os quais são usados para capturar os alimentos e se fixar em partículas sólidas, mas não para a realização de movimentos ameboides; como todos os tricomonadídeos, não possui a forma cística (forma latente do parasita), somente a trofozoítica (organismo móvel e pouco resistente no meio ambiente).

A forma típica é alongada, ovoide ou piriforme, provida de quatro flagelos livres que partem de uma depressão do polo anterior, denominada canal periflagelar, e se dirigem para a frente. Um outro flagelo, recorrente, emerge fora desse canal e fica voltado para trás, mantendo-se aderente em toda sua extensão ao corpo celular por uma prega que constitui a membrana ondulante, mas que não chega até a extremidade posterior, se estendendo somente ao longo dos dois terços anteriores da célula. Os flagelos movimentam o protozoário com movimentos abruptos.

Patologia

O Trichomonas vaginalis é um dos principais patógenos do trato urogenital humano, e está associado a sérias complicações de saúde, como:

Problemas relacionados com a gravidez – a tricomoníase pode ser a causa de nascimentos prematuros, recém nascidos de baixo peso, endometrite pós-parto, natimortos e morte pré-natal.

Problemas relacionados à fertilidade – o risco de infertilidade é duas vezes maior nas mulheres infectadas, pois a infecção destrói a estrutura tubária e danifica células ciliadas da mucosa tubária, inibindo a passagem de espermatozoides.

Transmissão do HIV – a infecção faz com que o corpo reaja imunizando o local, o que induz a uma grande infiltração de leucócitos, incluindo células alvo do HIV, com as quais ele se liga e ganha acesso. Além disso, o T. vaginalis causa pontos hemorrágicos na mucosa, permitindo o acesso direto do vírus para a corrente sanguínea.

Sintomas e sinais

O Trichomonas vaginalis produz infecção somente no trato urogenital humano. Na mulher, o período de incubação varia de três a vinte dias. A tricomoníase provoca uma vaginite que se caracteriza por um corrimento vaginal fluido abundante de cor amarelo-esverdeada, bolhoso, de odor fétido, mais frequentemente do período pós-menstrual. A mulher apresenta dor e dificuldade para as relações sexuais, desconforto nos genitais externos e dor ao urinar. A vagina e a cérvice podem ser edematosas e eritematosas, com erosão e pontos hemorrágicos na parede cervical.

No homem, a tricomoníase é comumente assintomática ou apresenta-se como uma uretrite com fluxo leitoso ou purulento e uma leve sensação de prurido na uretra. As seguintes complicações são atribuídas a esse organismo: prostatite, balanopostite e cistite. Esse protozoário pode se localizar ainda na bexiga e vesícula seminal.

O diagnóstico é feito pelas características clínicas, visualização direta de trofozoitos, cultura e imunodiagnóstico.

Tratamento

Após 50 anos de conhecimento do T. vaginalis como causador de vaginites foi sintetizada uma substância ativa eficiente para o tratamento dessa infecção. Em 1954, pela triagem de vários antibióticos, antimaláricos e amebicidas foi descoberta a azomicina. Através de manipulação da estrutura química da azomicina, foi sintetizado o metronidazol, um fármaco efetivo contra as infecções pelo Tricomonas do trato urogenital.

O T. vaginalis não é sensível aos antibióticos e atualmente existe uma emergente ameaça de cepas resistentes ao metronidazol.

A vacino terapia é uma nova tentativa de tratamento da tricomoníase. Cepas selecionadas de lactobacillus acidophilus são comercializadas como vacina sob o nome de Solco-Trichovac e Gynatren. A média de cura, segundo alguns autores, depois de três a quatro doses da vacina se aproxima ao dos nitroimidazóis.

Curiosidades

As Trichomonas vaginalis transitam da forma flagelada para ameboide/aderente a depender da disponibilidade de suprimentos alimentares, que são ingeridos por fagocitose através dos finos pseudópodos.

A fisiologia pode ser descrita como organismos anaeróbios facultativos; como fonte de energia, utiliza monossacarídeos, principalmente o glicogênio; possuem numerosas enzimas glicolíticas e são desprovidos de mitocôndrio e citocromo, portanto o ciclo de Krebs é incompleto.

Atualmente os cientistas estudam o citoesqueleto de actina e sua relação com a patogenicidade da forma ameboide, pois a sua forma flagelada não pode parasitar. Esses estudos são importantes para o desenvolvimento de medicamentos que atuem sobre o citoesqueleto de actina e tenham consequentemente, mais eficiência que os medicamentos atualmente utilizados.

Ao formar os pseudópodos, a actina da Trichomonas vaginalis polimeriza e despolimeriza, produzindo filamentos lábeis que dão forma ao citoplasma desta, demonstrando que, sem esse citoesqueleto ela não pode formar pseudópodos e consequentemente não pode parasitar e se alimentar, portanto “morre de fome”.

Ao passar da forma flagelada para ameboide, o parasita desenvolve os pseudópodos que se fixam ao substrato, e consomem o glicogênio da mucosa vaginal, enfraquecendo o tecido epitelial.