Por se tratar de uma civilização milenar (berço de várias descobertas, como papel de impressão, bússola, pólvora, entre outros), governada ao longo dos séculos por várias dinastias, o desenvolvimento econômico da China passou por várias fases.
História da economia chinesa
Antecedentes
Durante o século XX, o país sofreu grandes mudanças políticas. Em 1912, o colapso do poder imperial permitiu a Revolução de Sun Yatsen, que culminou com a criação de um governo republicano.
A partir desse período, o país viveu uma prolongada guerra civil entre ideários nacionalistas e comunistas, e sua instabilidade política agravou-se em razão da ocupação que sofreu pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim desses conflitos, surgiu o Partido Comunista da China (PCC).
Em 1949, depois de uma guerra civil, o exército camponês do Partido Comunista conseguiu vencer os nacionalistas e, em outubro, foi fundada a República Popular da China. O país foi unificado sob o comando de Mao Tsé-tung, até então secretário-geral do PCC.
No início do seu governo, os revolucionários chineses adotaram políticas econômicas socialistas, tendo como orientação o modelo soviético de estatização dos meios de produção, o desenvolvimento industrial e aspectos socioeconômicos e políticos gerenciados pelo Estado.
No entanto, no início dos anos 1960, a China rompeu com a União Soviética e passou a priorizar a agricultura. As pequenas propriedades foram reunidas e transformadas em cooperativas agrícolas.
Durante os anos iniciais da Guerra Fria, a China continental se tornou uma área de influência da URSS; e a China insular (Taiwan) ficou sob influência capitalista (EUA).
Abertura econômica e distribuição das atividades econômicas
Com a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, assume o poder o líder comunista Deng Xiaoping, promovendo o processo de abertura da economia chinesa.
Deng procurou abrir a China para o investimento estrangeiro e criar laços mais estreitos com o Ocidente. Em janeiro de 1979, ele assinou acordos com o presidente Jimmy Carter, estreitando relações comerciais da República Popular da China com os Estados Unidos.
Entre as estratégias adotadas pelo seu governo, está a criação das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs): regiões industriais voltadas à atração de investimentos estrangeiros, subsidiadas pelo estado chinês. Essas áreas priorizam as exportações, recebem incentivos do governo e apresentam taxas de crescimento industrial elevadas.
Investimentos privados e estatais combinados com grande estímulo e proteção às empresas nacionais, mão de obra barata, disciplinada e qualificada, sindicatos frágeis, políticas ambientais flexíveis e intermodalidade diversificada entre seus sistemas de transporte são alguns dos elementos que tornam os preços das mercadorias chinesas reduzidos e altamente competitivos no mercado internacional.
Outro fator significativo para o desenvolvimento do país é a sua grande disponibilidade de recursos minerais e energéticos (carvão mineral, terras raras), distribuídos por seu território. A presença desses recursos é de fundamental importância para a economia do país, uma vez que alimenta diferentes setores industriais. No entanto, a grande disponibilidade de matérias-primas não é suficiente para suprir as demandas internas do país; em vista disso, uma grande parcela desses produtos é importada.
O abastecimento energético da China está fundamentalmente apoiado em usinas termelétricas, abastecidas com carvão mineral, recurso encontrado em grandes jazidas ao longo do vasto território chinês. Esse modelo energético é responsável por grande parte das emissões de gases estufa em nível mundial, fato que desperta preocupação e críticas severas de comunidades e organizações ambientalistas no mundo.
É importante salientar que o governo chinês está investindo maciçamente em fontes de energia renováveis, com destaque para a eólica e a solar.
Um fator que acentuou ainda mais as diferenças econômicas entre as regiões do país foram os investimentos econômicos destinados às áreas litorâneas. Com isso, o interior, essencialmente agrário e extrativista, viu-se à margem da modernização, tornando-se uma área de repulsão demográfica, o que acentuou o processo de êxodo rural em direção às metrópoles, gerando a saturação e a precarização dos sistemas de infraestrutura urbana.
A fim de conter o avanço desses fluxos migratórios, o governo tem realizado a expansão de investimentos para o interior do país, por meio da elevação dos níveis salariais das famílias camponesas e da intensificação da produção agrícola, fundamental para a segurança alimentar de sua gigantesca população.
Características da economia chinesa
A China caracteriza-se como uma “economia socialista de mercado”, ou seja, um sistema político estatal controlado pelos líderes do Partido Comunista, os quais assumem a posição de defensores dos interesses da nação e, ao mesmo tempo, exercem práticas capitalistas de mercado.
Apesar de a China promover a abertura de sua economia, o partido político comunista do país exerce práticas autoritárias e ditatoriais. Por meio delas, impede a formação de outros partidos, caracterizando um sistema monopartidarista, ou seja, partido único, eliminando, dessa forma, o direito à democracia e à liberdade de expressão.
As reformas e a abertura econômica da China podem ser vistas como passos muito importantes no cenário internacional, pois permitiram que a mais populosa nação do mundo se reintegrasse ao cenário econômico mundial, dinamizando o processo de globalização.
Desse modo, a China vem se transformado em um dos parceiros econômicos mais cobiçados do mundo.
Desenvolvimento econômico
Na década de 1980, a China passou a sustentar a impressionante média de crescimento econômico de 9,5% ao ano, com o socialismo de mercado.
Durante a década de 1990, sob o governo de Jiang Zemin, o país atraiu maciços capitais externos com o advento da globalização, liberalização econômica e o fim do bloco socialista. As taxas de crescimento econômico continuaram elevadas, acima de 10% ao ano em média.
As exportações chinesas, principalmente da província de Guangdong, abrangendo Guangzhou, Shenzen e Zhuhai, abriram cada vez mais espaço no comércio globalizado, favorecidas pelo baixo preço dos produtos, chegando fortemente aos mercados das nações ricas e dos emergentes, seguindo os passos dos Tigres Asiáticos.
Nos anos 2000, a China consolidou seu forte crescimento econômico. Em 2001 o país ingressou na OMC, em reunião em Doha, após 15 anos de negociações, submetendo-se às regras da organização em relação ao protecionismo e subsídios, com maior abertura de seu mercado interno para os países, permissão para que o capital estrangeiro tivesse participação em setores estratégicos (ex.: telecomunicações) entre outros e futuros acordos. Por outro lado, os produtos chineses passaram a ganhar mais espaço, em conjunto com outros países emergentes, nos mercados dos países ricos.
A competitividade chinesa tornou-se brutal em relação aos outros países emergentes, principalmente com a transição para a exportação de produtos de bens de consumo com maior tecnologia, destacando a concorrência com os Tigres Asiáticos e os países latino-americanos, não só em produtos exportados como também na atração de investimentos financeiros e industriais. No mesmo ano, surgiu a sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), que, em 2011, ganhou o “s” em referência à África do Sul, formando o BRICS.
Buscando relevância não apenas no comércio, mas também no reconhecimento científico, a China, em 2003, entrou para o seleto grupo das potências espaciais, ao enviar uma missão tripulada ao espaço.
De olho no mercado interno
Outro contexto importante foi a mudança de visão econômica do Partido Comunista Chinês, que passou a priorizar a demanda do mercado interno, contribuindo para a emergente cultura de consumo da classe média que cresceu rapidamente, insaciável por adquirir todos os tipos de produto.
Foram feitos investimentos em infraestrutura (portos, aeroportos, rodovias, telecomunicações etc.) e na expansão imobiliária para atender a imensa e contínua migração de camponeses para as cidades (desde a década de 1980), que servem como reserva de mão de obra barata.
Os governos municipais passaram a entregar terras para os investidores que, por sua vez, recebiam empréstimos bancários para a expansão imobiliária. As unidades habitacionais inflacionadas pela demanda eram adquiridas por investidores individuais.
Esse ciclo de prosperidade a partir da segunda metade da década de 2000, sob o governo de Hu Jintao, gerou riquezas para os governos municipais, para os investidores, para os bancos, para o mercado de ações e para uma gama de autoridades do Partido Comunista.
O PIB cresceu e milhões de empregos foram criados; sob a óptica de prosperidade, rodovias, pontes, edifícios, bairros e até cidades surgiam de “um dia para outro.” As construções foram impulsionadas por um excedente de créditos a juros baixos; a crescente classe média que queria adquirir moradia e os novos ricos ávidos por investimentos também impulsionaram o setor.
A evolução para a economia de mercado
Em março de 2007, o Parlamento chinês aprovou por 99,1% dos votos uma das leis mais polêmicas: a que protege a propriedade privada, ampliando a evolução do país para a economia de mercado.
As novas regras reconhecem que a propriedade privada, individual e coletiva, passa a ter a mesma valorização que a propriedade estatal, estabelecendo ser crime a apropriação ou depredação do patrimônio privado; também houve a unificação de impostos corporativos para empresas estrangeiras e nacionais em 25%, acabando com os privilégios para o capital externo que pagava somente 15%.
A mudança também estabeleceu que os camponeses os quais trabalham em propriedades coletivas não terão o direito de compra, mas poderão renovar o contrato de arrendamento e garantia e não serão expulsos sem que recebam uma indenização, evitando a desocupação irregular e a exclusão dos camponeses por autoridades locais e empresários.
O aproveitamento das crises econômicas mundiais
No ano de 2008, perante a crise econômico-financeira mundial, o governo ampliou os gastos públicos para dinamizar a economia interna, com investimentos em infraestrutura e ampliação da oferta de créditos, como forma de conter a possível desaceleração da economia.
Já em 2009, o país transformou-se no maior exportador mundial, superando a Alemanha e os EUA; em 2002, a China já ocupava a quinta posição entre os maiores exportadores e o sexto PIB mundial, mas, em 2010, conquistou a posição de 2ª economia mundial, ao superar o Japão, permanecendo atrás dos EUA.
Em relação aos países de economia desenvolvida, a China também ganhou importante fatia no mercado da União Europeia, dos EUA, do Japão e da Austrália, com a presença de produtos a baixíssimos custos, além de realizar importantes investimentos no mercado financeiro e na aquisição e abertura de empresas (EUA, Japão, Alemanha, França, Holanda, Reino Unido, Itália, Portugal, Noruega etc.).
As crises econômico-financeiras vivenciadas pelos países desenvolvidos – EUA (2008) e União Europeia (2010/2011) – escancararam as portas desses mercados para os investimentos chineses, que foram sendo acumulados no decorrer das décadas por empresas e principalmente pelo Banco Central Chinês, por meio da compra de dólares para manter a moeda norte-americana valorizada perante a moeda nacional – yuan – como forma de conservar os produtos chineses mais baratos e, consequentemente, mais competitivos, ampliando o superávit na balança comercial e o crescimento econômico.
As reservas do Banco Central Chinês chegaram em junho de 2018 à impressionante cifra de US$ 3,1 trilhões.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
Veja também:
- Geografia da China
- Economia dos Estados Unidos
- China Antiga
- Revolução Chinesa
- Nova ordem mundial
- Tigres Asiáticos