A análise de posições doutrinárias no campo da economia envolve embasamento, hoje, especialmente complexo.
Intelectuais, políticos, economistas nem sempre confluem para uma discussão ponderada, consensual. Exemplificando: A economia na área de oferta, teve investimentos grandes em termos emocionais, políticos e financeiros.
A doutrina da superabundância global, considerada neste trabalho frente ao mercado econômico, desenvolvido, trás uma preocupação antiga sobre o excesso de produção sob os auspícios do capitalismo. Considerações sobre demanda nos países avançados, será o teor do estudo.
CAPACIDADE PRODUTIVA
Para se obter uma perspectiva da superabundância global, talvez seja útil concentrar-se em três proposições que são cruciais para a doutrina, uma delas relativa a oferta e as outras duas, a demanda. As proposições são as seguintes:
- A capacidade de produção Global está crescendo a uma taxa excepcional, talvez sem precedentes.
- Nos países avançados, a demanda não consegue acompanhar o crescimento da oferta potencial.
- O crescimento das novas economias emergentes irá contribuir muito mais, em termos globais, para a oferta que para a demanda.
São essas proposições verdadeiras em relação ao presente, ou há possibilidade de serem verdadeiras no futuro?
As discussões econômicas de caráter popular tendem a se basear mais em impressões e relatos episódicos do que em estatísticas. Há algo a ser dito em favor dessa atitude, sobretudo em épocas de mudança acelerada: as estatísticas concebidas para acompanhar a economia da geração passada pode facilmente deixar passar aspectos cruciais do que esta ocorrendo no presente. Por outro lado, os relatos tendem a enfatizar o excitante e o diferente e a deixar escapar o que é contínuo. As coisas fundamentais permanecem iguais ao longo do tempo, mas é fácil esquecer-se disto se concentrar em demasia nas anedotas interessantes.
Há épocas em que o equilíbrio é evidente: no fundo de uma grave recessão, o mesmo após uma queda modesta como a de 1990-91, há um evidente predomínio de um excesso de oferta.
Independentemente de sua exatidão, as estimativas oficiais da taxa global de crescimento da capacidade dos países avançados estão muito longe de ser impressionantes. Tanto a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico como o Fundo Monetário Internacional avaliam a taxa de crescimento do PIB potencial (o volume de produção de urna economia baseado nas taxas normais de utilização de sua capacidade instalada), nas economias avançadas corno um todo, em não mais que 2% ou 3% ao ano – aproximadamente o mesmo que nas duas décadas anteriores e bem abaixo das taxas de crescimento registradas nas décadas de 1950 e 1960.
Porém, serão confiáveis essas estimativas? Os entusiastas da tecnologia são os primeiros a apontar os avanços qualitativos desconsiderados pelas estimativas normais do PIB efetivo, como os ganhos em conveniência proporcionados pelas máquinas de automação bancária. Por outro lado, pode-se argumentar que tais melhoras qualitativas medidas de maneira precária foram igualmente importantes nas décadas passadas; ninguém sabe com certeza se hoje a margem de erro é maior do que antes.
Há um ponto, entretanto, sobre o qual não há a menor dúvida: a industrialização assombrosamente rápida de alguns países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia, contribuiu para a aceleração do crescimento da capacidade mundial.
Se se estabelecer uma média entre essas melancólicas estimativas oficiais de crescimento potencial e as impressionantes taxas de crescimento efetivo na Ásia, ver-se-á que a capacidade produtiva global nas economias de mercado do mundo está aumentando por volta de 4% ao ano. Isto é melhor do que o crescimento de cerca de 3% nas décadas de 1970 e 1980, mas ainda inferior ao registrado nas décadas de 1950 e 1960. Talvez as estimativas estejam mais equivocadas agora do que naquela época, mas o argumento em favor de um crescimento excepcionalmente elevado é, na melhor das hipóteses, bastante frágil, e não há argumentos que sustentem as alegações ainda mais precipitadas quanto a uma expansão sem precedentes.
Por fim, oculta por trás da tese da superabundância global talvez haja uma velha falácia sobre a relação entre consumo e investimento. Uma das coisas que as economias capitalistas fazem e acumular capital. Nem toda a sua capacidade produtiva e empregada na produção de bens de consumo; parte dela e usada para produzir bens de capital que irão expandir, mais adiante, a capacidade produtiva como um todo. Mas nem toda a capacidade produtiva futura será usada para satisfazer os consumidores – parte dela será usada para expandir ainda mais a capacidade, e assim por diante. Ora, nada mais fácil, quando se coloca a questão dessa maneira, começar a ver todo esse processo como uma espécie de corrente ou pirâmide: certamente, é de se imaginar, em algum ponto esse negócio de construir máquinas que constróem máquinas deve chegar a um limite, com resultados desastrosos. Na verdade, como Karl Marx poderia ter dito, não há nada de implausível a respeito de um estoque de capital sempre crescente em uma economia sempre crescente. Funcionou assim nos últimos cinquenta anos, e não se divisa no horizonte nenhum fim para esse processo.
A DEMANDA NOS PAÍSES AVANÇADOS
Mesmo Se o crescimento na capacidade for mais modesto do que se imagina, essa capacidade continuará subaproveitada a menos que os consumidores garantam uma demanda suficiente. Os economistas tradicionais não veriam nenhum problema nisso. Afinal, se a capacidade crescente dos países avançados for usada de fato, o crescimento da renda será concomitante; e se a renda aumentar, por que isto não se daria também com a demanda de consumo?
No entanto, se se ater às entrelinhas, parece provável que os defensores da superabundância global, tal como os antigos adeptos da estagnação secular, têm como pressuposto a ideia de que, à medida que aumenta a renda, os consumidores se tornam saturados – tendo adquirido todas as coisas que necessitam, eles hesitam em ampliar os gastos mesmo se houver um aumento em seus rendimentos. Essa ideia parece se confirmar na experiência cotidiana: em geral, as famílias mais ricas de fato poupam uma parcela muito maior de sua renda que as mais pobres. Alguns dos adeptos da superabundância global levam ainda mais longe essa lógica, sugerindo que a demanda de consumo também e limitada, nos países avançados, ou pelo menos nos Estados Unidos, pela má distribuição de renda. As famílias mais pobres gastariam mais se pudessem, mas em vez disso os ganhos de renda vão para os ricos, que os acumulam em vez de gastá-los.
Trata-se, evidentemente, de um relato convincente. Mas ela se choca com um fato incômodo na realidade, nos Estados Unidos, os gastos com consumo vêm há muito acompanhando o aumento dos rendimentos. Hoje, a renda per capita efetiva é aproximadamente o triplo do que era no final da década de 1940, que viu o apogeu da doutrina da estagnação secular. E essa renda e distribuída de maneira significativamente mais desigual. No entanto, a parcela dos rendimentos pessoais poupados pelos consumidores é hoje, na verdade, mais baixa do que naquela época. De uma maneira ou de outra, a maioria dos americanos, incluindo muitos daqueles nas faixas superiores de renda, encontraram maneiras de gastar sua renda sem ficar saturados.
É inegavel que pessoas com renda acima da média tendem a poupar mais que aquelas com rendimentos mais baixos. Mas há muito os economistas sabem que isto se deve sobretudo a uma espécie de ilusão de óptica estatística. Em qualquer ano, o conjunto das pessoas com renda elevada inclui um número desproporcional de indivíduos que estão ganhando mais do que normalmente e poupando para as épocas difíceis, ao passo que o conjunto das pessoas de baixa renda inclui um numero desproporcional de indivíduos que estão ganhando menos do que costumam e recorrendo a poupanças anteriores. Porém, quando aumenta a renda normal ou típica (ou, no jargão dos economistas, “permanente”) das pessoas, o que ocorre sempre que a economia cresce, os gastos delas acompanham esse crescimento. Em suma, é difícil encontrar qualquer justificativa para a crença de que a demanda de consumo nos países avançados não irá acompanhar o aumento da capacidade.
CONCLUSÃO
Não se pode declarar que tudo vai bem na economia mundial. Há certamente muitos problemas graves: desigualdade nos Estados Unidos (exacerbada, mas não provocada, pela importação de produtos de mão-de-obra intensiva), na Europa (também ligeiramente exacerbado por importações mão-de-obra intensiva mas devido sobretudo a mercados rígidos e políticas macroeconômicas equivocadas), uma economia japonesa lutando para superar as consequências do rompimento de uma bolha financeira, vários países recém-industrializados enfrentando crises potenciais devidos a excessos financeiros regulamentações bancárias frouxas, e assim por diante. De maneira geral, a situação da humanidade – medida por indicadores grosseiros mais cruciais como expectativa de vida e desnutrição infantil – está muito melhor hoje do que há 20 anos em grande parte devido ao crescimento econômico no Terceiro Mundo, embora ainda existam muitas sombras no quadro. Um problema que capitalismo não tem, contudo, é o de ser produtivo demais para seu próprio bem.
Autoria: Rosana Paula de Lima