Educação Física

Doping: o que é, substâncias e escândalos

O processo de treinamento apresenta tantos fatores relacionados que pode ser considerado uma estrada cheia de curvas até o sucesso. O doping é uma forma de cortar o caminho e chegar ao sucesso mais rapidamente. A seguir, entenda um pouco sobre o tema.

O que é doping

O doping ou dopagem é qualquer processo utilizado para aumentar o rendimento geral físico ou mental. Isso é conseguido com a utilização de substâncias químicas com ação estimulante e, nos esportes, é obtido, por exemplo, pelo uso de anabolizantes, sendo seu uso condenado.

A utilização de quaisquer dessas substâncias pode acarretar sérias consequências para o atleta. Ele pode ser advertido, perder medalhas e títulos e até mesmo ser banido do exporte, já que se define como uma trapaça.

Segundo Otávio Tavares, mestre em Educação Física pela Universidade Gama Filho, em seu artigo “Doping: argumentos em discussão”, o doping é tão antigo quanto o desenvolvimento das competições físicas. Em 1886, o doping ainda não era proibido e os ciclistas utilizavam uma mistura de cocaína e heroína, o que causou a primeira morte e o início da luta contra estes métodos. Tavares ainda afirma que, apesar de a interrupção do uso de algumas dessas substâncias revertem os efeitos delas, o risco à saúde se mantém.

Apesar dos riscos, diversos casos de doping ainda são descobertos em inúmeras competições esportivas. Isso se dá pelo fato de o ser humano querer se destacar de alguma maneira entre os outros. Dessa forma, o treino e o seu máximo desempenho nunca será suficiente e o uso das drogas resultará no desempenho desejado.

É importante ressaltar que diversas substâncias proibidas estão contidas em muitos medicamentos; por conta disso, muitos atletas já caíram no doping sem saber que estavam ingerindo essas substâncias. Quando um atleta precisa se medicar, ele deve verificar se na composição do medicamento não há alguma das substâncias listadas; caso haja, é recomendado que ele procure outro medicamento. Existem casos em que, por razões médicas, é permitido que o atleta utilize a droga devidamente receitada.

Substâncias consideradas doping

A Agência Mundial Antido-ping (WADA) atualmente é a responsável pelo controle das substâncias ilícitas durante eventos esportivos de todas as modalidades. O doping pode acarretar advertências e até punições severas, como o banimento do esporte. Dopings podem ser classificados de acordo com seu momento de uso: pré-competitivos, pós-competitivos e durante competições.

As proibições prévias incluem: substâncias não aprovadas (como é o caso de medicamentos veterinários); medicamentos anabólicos; hormônios de crescimento e similares; agonistas adrenérgicos beta-2, responsáveis pela facilitação do fluxo sanguíneo e transporte de gás oxigênio; moduladores e hormônios metabólicos; diuréticos, usados para remover substâncias do sangue após competições e agentes mascarantes que impedem a detecção de substâncias.

Durante competições, são proibidos: estimulantes; narcóticos; canabinoides, por atuarem no relaxamento muscular e transporte de gás oxigênio; e glucocorticoides, que têm efeitos similares aos estimulantes.

Além do uso de substâncias, existem métodos proibidos, como a manipulação do sangue e de componentes presentes nele, a manipulação químico-física de componentes fisiológicos e corporais e a manipulação genética e celular.

Teste antidoping

O antidoping é o teste através do qual é detectada a presença de substância dopante utilizada por um indivíduo para melhorar seu rendimento e é realizado, principalmente, nas competições esportivas.

O teste é feito com a urina do atleta, já que é nela que as substâncias residuais do organismo são eliminadas, e a coleta é feita na presença de um fiscal. Inicialmente é feita uma cromatografia, para separar as substâncias, que são colocadas em um espectrômetro para a identificação.

Teste antidoping.
Os testes antidoping podem acontecer de surpresa, durante períodos de treino, competições ou após o fim de uma competição.

Escândalos de doping

A utilização de substâncias estimulantes para aumentar o rendimento esportivo é remanescente da Grécia Antiga. Atualmente, seu uso, conhecido como doping, é proibido por lei. Alguns atletas e seleções famosos tornaram-se conhecidos pela utilização indiscriminada de drogas. Conheça alguns casos a seguir.

Tour de France

Reconhecido por muitos especialistas como o esporte com maior índice de doping, o ciclismo e, particularmente, o circuito mais popular da modalidade, o Tour de France, já foi palco de diversos escândalos de doping. Em 1998, um carro de uma equipe francesa foi apreendido carregado de substâncias ilícitas e todos os atletas confessaram ter usado estimulantes. A investigação dessa equipe e o aumento da fiscalização na mesma prova fez com que várias equipes se retirassem, possivelmente por medo de serem pegas pelo antidoping.

Além disso, o maior campeão do Tour de France, Lance Armstrong, perdeu todos os seus títulos após uma série de evidências de uso indiscriminado de doping durante sua trajetória esportiva. Inclusive, anos após os episódios, o ciclista admitiu publicamente tal prática.

Atletismo olímpico

Em 1988, nos Jogos Olímpicos de Seul, o canadense Ben Johnson venceu a prova de 100 metros rasos. Entretanto, ele perdeu sua medalha de ouro após ser comprovado o uso de hormônios pelo comitê anti-doping. A medalha foi para o norte-americano Carl Lewis que, por sua vez, também foi reprovado no teste anti-doping do mesmo ano, por uso de estimulantes, e perdeu a medalha para o então terceiro colocado da prova. Apesar disso, em 2003, seus testes foram revistos e um tipo de erro foi constatado – fato que deu o título de 1988 para Lewis.

Foto de Ben Johnson correndo.
O atleta Ben Johnson, durante prova ocorrida nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

A medalhista de prata da maratona dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, Eunice Kirwa, do Bahrein, foi suspensa por quatro anos depois de ter sido reprovada em um exame antidoping, que ocorreu depois do evento. Nascida no Quênia, a competidora naturalizada bareinita testou positivo para a substância eritropoietina, conhecida como EPO, hormônio cuja utilização é proibida e serve para melhorar a resistência dos atletas.

A Rússia e os Jogos Olímpicos de 2016

Em novembro de 2015, a Federação Internacional de Atletismo recebeu uma notificação de um possível esquema de doping coordenado por dirigentes e treinadores russos. Nesse cenário, a Federação informou que baniria a seleção russa das competições por tempo indeterminado, impedindo-a de disputar os Jogos Olímpicos do Rio.

A rechecagem de exames dos Jogos Olímpicos de 2008 e 2012 também indicavam o uso de substâncias ilícitas por diversos atletas russos, dando a entender que o esquema de doping era antigo. Há relatos de que agentes do serviço secreto russo ameaçavam o trabalho de agentes da WADA quando tentavam coletar mais amostras dos atletas russos.

Em 2016, a WADA lançou uma lista oficial indicando que, em 2014, a Rússia foi responsável por 10% de todo o doping esportivo praticado no ano. Nesse mesmo ano, o Brasil estava em 9º lugar como seleção mais envolvida com doping.

Ficar fora dos Jogos Olímpicos não foi pouco para a seleção russa de atletismo. Em nota oficial no fim de 2019, a WADA anunciou o banimento da Rússia em todas as modalidades nos Jogos Olímpicos de 2020 (Tóquio), nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 (Pequim) e na Copa do Mundo de 2022 (Catar).