Por não ser nem aquático nem anfíbio, e o fato de viver próximo das águas de rios, lagos e mares, e daí retirar sua sobrevivência, fez com que o homem desenvolvesse habilidades que o tornasse capaz de nadar. O homem então passou a perceber que era capaz de flutuar e de se deslocar na água, mesmo que imitando outros animais.
O fato é que o ser humano é capaz de nadar e adquiriu essa habilidade ultrapassando todas as dificuldades impostas pela natureza.
Medir cronologicamente ou apresentar uma data para definir os primeiros momentos da natação é impossível. Mas, no entanto, devemos crer que esse processo começou a partir das primeiras construções (habitações) à beira de lagos e rios.
Saiba tudo sobre a história da natação.
A natação na antiguidade
A História e a Literatura fazem frequentes referências à natação. Isso mostra que a natação é praticada desde a mais remota antiguidade.
Outro fato interessante é que nos símbolos da escrita egípcia foram encontrados desenhos que reproduziam movimentos de homens nadando. Ainda existe o fato de que o Egito teve seu desenvolvimento às margens do Rio Nilo.
Kirk Cureton, através da obra “How to Teach Swimming and Diving“, refere-se aos trabalhos arqueológicos de James Dunlap, que afirma que os gregos já conheciam a natação 3.000 anos antes da nossa era.
Na Grécia à natação era dada grande valor. Os atenienses e espartanos tinham a natação nos mais elevado conceito. Segundo a literatura grega, chegou-se a tornar obrigatório o banho pela manhã para ambos os sexos. Tornaram-se famosos os nadadores da ilha de Delos, Atenas e Esparta.
Muitas passagens na literatura são citadas em relação à natação. Museio, nos seus versos magníficos, conta que Leandro, para ver sua amada Hero, atravessava a nado, todas as noites, o Helesponto (hoje Estreito de Dardanelos). Leandro teria falecido numa noite tempestuosa. Hero, sua amada, indicava o caminho (referência) com uma tocha acesa, que naquela noite foi apagada pelo vento. Leandro perdeu a direção e faleceu. Hero seguiu em direção ao seu amante e teve o mesmo desfecho. Muitos séculos mais tarde, Lord Byron, poeta e esportista, quis reconstruir a façanha de Leandro e atravessou o canal de Dardanelos em 1 hora e 10 minutos no ano de 1818.
LOTUFO (Ensinando a Nadar) cita: “Homero, na Ilíada, descreve Petis saltando do Olimpo para, num formidável mergulho, chegar ao seu destino final sem ser vista depois de haver implorado a Zeus a vingança para Aquiles. A Odisseia, com Ulisses passando dois dias e duas noites e meia nas águas agitadas do mar depois do naufrágio, é mais uma página da mitologia grega, que põe em relevo o apreço que os helenos tinham pela natação.”
Em Roma a natação era considerada com requinte social. A pessoa para ser considerada culta deveria saber nadar. Entre os patrícios romanos o conceito em que tinham a natação era tal que chegavam a tratar de modo desprezível aos que não soubessem nadar. Utilizavam frases como: “É tão ignorante que não sabe ler nem nadar”.
Entre os soldados romanos, em suas rotinas diárias de atividades físicas, era regular a prática da natação. Depois dos exercícios físicos em terra, atravessavam a nado os rios. A robustez dos soldados era tal, que o seu dardo penetrava quatro dedos nas árvores mais rígidas (LOTUFO, 1970).
A natação nos tempos modernos
A Alemanha, Inglaterra e Suécia, por volta do século XVI, publicaram os primeiros trabalhos escritos sobre natação, todos em latim. Insistia-se nessa época no ensino do nado peito. Para os soldados atravessarem rios carregando armaduras e roupas, deveriam fazê-lo levando-os na cabeça ou nas costas. Daí talvez as conclusões que vieram favorecendo o nado de peito como o melhor, mesmo entre os profissionais da área.
O Museu de Belas Artes de Paris ostenta uma estátua ao nadador grego, em posição de peito. Este, provavelmente, é o motivo de também ser chamado de “clássico“. Os alemães e ingleses foram os seus grandes divulgadores, juntamente com a França. mais tarde, no século XIX, já mencionava um estilo de “cachorrinho”, aproximadamente parecido com o crawl dos dias de hoje.
Em 1859, o nadador Payton apareceu nadando uma competição em Baths (hoje Lamberth) com um estilo que lhe valeu a desclassificação por não ser considerado ortodoxo. Este estilo foi o mesmo que, 10 anos depois, era apresentado por Trudgen, estilo que levou o seu próprio nome, não se sabe por que razões (CURETON). Ficou criado um novo estilo que rapidamente se espalhou por todo o mundo. Esse estilo apresentava as vantagens de ser mais econômico e mais veloz que o nado de peito. Os ensinamentos de Trudgen estavam voltados muito mais para as provas de velocidade.
Um inglês chamado Frederick Cavill, que era um excelente nadador de peito, decidiu morar na Austrália onde construiu várias piscinas e começou a ensinar a natação. Antes da virada do século, Cavill, fazendo uma viagem com sua família (incluindo seis filhos), observou vários nativos, da região do Ceilão, nadando, e assim como Trudgen, percebeu que todos nadavam com braçadas alternadas. Mas Cavill percebeu que os nativos usavam um forte movimento de pernas. Cavill então decidiu estudar a fundo e criou o “crawl australiano“. A principais características eram o grande deslizamento, as pernas esticadas e o movimento alternado de braços. Um dos filhos de Cavill, Richard, esteve na Inglaterra em 1902 e nadou as 100 jardas em 58″8. Ao descrever o seu revolucionário estilo, Cavill disse: “é como estar engatinhando na água”.
Em seguida, os americanos, “os grandes mestres da propaganda” (LOTUFO), pegaram o já famoso crawl australiano e fizeram algumas modificações, surgindo, assim, o “crawl americano“, que deu muitas glórias aos Estados Unidos.
Um dado interessante é que na Europa as competições eram realizadas em piscinas de águas salgadas. Nesse mesmo período os americanos começaram a utilizar a água doce em suas piscinas. O fato era que, no “crawl” australiano os movimentos das pernas eram insignificantes e fácil de manter os pés em flutuação na água salgada, o que não ocorria na água doce. Daí os americanos terem imaginado um meio de melhorar o “crawl” australiano, introduzindo uma movimentação muito maior das pernas (flutter kick), com o objetivo de manter o corpo o máximo possível na posição horizontal, propiciando uma melhor flutuação e deslizamento. Foi assim que Charles Daniels apresentou novas possibilidades para o “crawl”, batendo os recordes de Cavill e Healy, estabelecendo em 1906 o tempo de 57″2 para as 100 jardas.
Vinha vitorioso o crawl americano, quando surge o havaiano Duke Kahanamoku, melhorando sensivelmente o tempo de Daniels para 54″3 em 1913, 53″1 em 1915, e 53″0 em 1917. Kahanamoku utilizava o crawl com a pernada de seis tempos, e afirmou que aprendera a nadar dessa forma observando os habitantes das ilhas onde morava.
A partir daí o crawl já começava a adquirir prestígio mundial, não havendo mais quem duvidasse de suas possibilidades. Havia ainda muita gente que acreditava que o crawl era muito bom para provas rápidas e se fazia necessária a comprovação de sua eficiência para as provas de longas distâncias. Comprovado em seguida com a travessia do Canal da Mancha por Gertrudes Ederle, e Marta Norelius nas 10 milhas.
Duke Kahanamoku teve em Johnny Weissmuller, o mais digno sucessor que poderia desejar. Este foi o maior campeão que a natação mundial conheceu, conseguindo chegar à fantástica marca de 67 títulos mundiais e 51 recordes mundiais até a distância de 880 jardas. Em 1924, nos Jogos Olímpicos de Paris, Weissmuller quebra a casa do 1 minuto nos 100m livre, também nadando com pernada de 6 tempos. Weissmuller interpretava “Tarzan” em Hollywood, onde realiza várias cenas nadando. Quatro anos mais tarde, Weissmuller volta a vencer os 100m livre. Em relação à pernada de seis tempos, o também americano Don Schollander ganha quatro medalhas de ouro nos Jogos de Tokyo em 1964.
A natação nos jogos olímpicos
Atualmente existem quatro modalidades da natação que são disputados nas olimpíadas: estilo livre, costas, peito e borboleta, além do nado Medley, no qual todas as quatro modalidades são utilizadas. Veja como foi a história da natação nos jogos olímpicos:
Na primeira Olimpíada da Era Moderna, somente o nado livre existia, com nadadores contando com as interpretações do nado peito ou com o nado Trudgen. Em 1900 o nado costas surgiu, e junto com o nado crawl eram dominantes nas provas de nado livre. O nado peito teve uma prova separada em 1904.
As provas de nado livre femininas foram incluídas nos Jogos de 1912, e eventualmente faziam parte todos os estilos existentes. O nado peito era realizado da maneira mais tradicional até um pouco antes de 1930, quando alguns nadadores descobriram que esse estilo poderia ser nadado com um impulso extra através de um empurrão dentro da água e lançando os braços por fora da água. O técnico da Universidade de Iowa, Dave Armbruster, e um dos seus nadadores, Jack Seig, brincavam com essa ação de braço chamando de “borboleta” e um movimento de perna chamando de “golfinho” – uma espécie de ondulação do quadril até as pontas dos dedos.
Originalmente, o borboleta era a novidade, e era considerado fatigante para qualquer distância. Mas provou ser consideravelmente mais rápido que o convencional nado peito. Em 1938, os nadadores que utilizavam a ação de braços do nado borboleta combinado à pernada de sapo (em relação ao movimento desses anfíbios), dominaram as provas de peito. No entanto, em 1953, foram realizados em provas diferentes. O nado peito então passou a ser conhecido como o nado silencioso, pelo fato dos movimentos acontecerem mais tempo dentro do que fora da água. Era mais rápido, no entanto, mais exaustivo para os pulmões.
Os nadadores de peito ficavam em baixo da água o máximo de tempo possível, e alguns deles chegavam a desmaiar ao final das provas apresentado tons azulados no rosto em consequência do bloqueio respiratório durante a prova. Poucos anos depois, as regras mudariam novamente, e o nado peito deveria ser nadado com a cabeça todo tempo fora da água. Atualmente a cabeça pode afundar, mas deve voltar à superfície ao final de cada ciclo de braçada.
O borboleta foi o primeiro estilo a ter uma prova diferente nos Jogos de 1956 em Melbourne, e hoje é nadado com a pernada de borboleta.
Desde a primeira aparição nos Jogos de 1900, o nado costas sofreu poucas modificações. É a único estilo que se inicia de dentro da piscina.
Alguns mitos, além de Weissmuller, fazem parte da história da natação. A australiana Dawn Fraser foi a única nadadora de todos os tempos a vencer a mesma prova em três olimpíadas consecutivas (1956, 1960 e 1964). Outro exemplo na natação feminina é a alemã Kristin Otto ganhou seis medalhas de ouro em Seul em 1998.