A filosofia, em muitos aspectos, é o ponto inicial do desenvolvimento de grande parte dos avanços científicos da humanidade e de campos como a sociologia, a economia, a psicologia, a medicina, entre outros.
Após milênios de história, hoje vemos a filosofia de um modo mais complexo e especializado. Ela se desdobra em diversos campos e áreas específicas, tendo evoluído muito nos últimos dois séculos até o estágio atual, graças a grandes filósofos contemporâneos.
Dentre as muitas vertentes do pensamento e da pesquisa filosófica, podemos destacar 10 áreas essenciais de estudo.
1. Metafísica
Com origem no grego metà, ou “além de” e physis, que significa natureza ou física, a metafísica ou ontologia propõe o estudo daquilo que está além da física ou da existência terrena, a realidade sobre o ser, o indivíduo e aquilo que está além do mundo concreto.
Os debates metafísicos foram inaugurados pelo filósofo Parmênides de Eleia. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos filósofos, Parmênides deixou de lado o pensamento e cogitações sobre a formação do universo e das coisas e preferiu concentrar o seu pensamento no conceito de ser. Para ele, as mudanças são ilusões: o único referencial imutável é o ser – a testemunha dessas mudanças.
A maneira mais fácil de compreender a metafísica e o que ela estuda é avaliar as perguntas em torno das quais gira essa vertente da filosofia:
- Existe um espírito? E, se existe, ele é imortal?
- Qual a diferença entre a mente e matéria?
- Os seres possuem livre-arbítrio?
- Há alguma força superior ou um Deus?
2. Ética
Ética vem do grego ethos (modo de ser) e é um ramo da filosofia mais presente na vida da maioria dos profissionais. Praticamente todas as profissões possuem um código de ética e deontologia, a partir do qual os profissionais dessa área definem a sua conduta. No contexto social e filosófico, a ética estuda os valores e a moral que compõem uma sociedade.
A ética discute, no âmbito filosófico, a complexidade do certo e do errado, assim como a contextualização desses conceitos. A noção de certo e errado varia conforme o contexto, o momento histórico, a condição dos envolvidos e, como citado, a prática de cada profissão.
O filósofo Sócrates é conhecido como o primeiro a discutir a problemática da conduta de maneira frontal, mas o problema da ética não surgiu com ele – elementos pré-socráticos estão presentes até hoje na deontologia.
Desenvolvendo os conceitos de bem e mal a partir da sua dialética, Sócrates estabeleceu uma óptica mais racional sobre o conceito de virtude e deu origem a 4 escolas de estudo da ética: a escola megárica, a platônica, a cínica e a cirenaica.
Veja também: Diferença entre ética e moral.
3. Política
A filosofia política reflete sobre os vínculos entre humanidade e formas de poder, assim como as relações entre o Estado e a sociedade. Cotidianamente, não vemos a política como um campo da filosofia, mas é nela que a ciência política tem origem. O “polis” da palavra vem do grego para “cidade” e, já nesse tempo, a política discutia a problemática das relações de poder entre líderes e governantes e deles com a sociedade e outras matrizes de poder.
Gregos enxergavam uma estreita relação da política com a ética, mas escolas modernas sofisticam essa visão, olhando para a política como uma manifestação do próprio ser, em busca da realização dos seus desejos. Para Thomas Hobbes, por exemplo, a política “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem“, e para Bertrand Russell ela é “o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados“.
A reflexão filosófica de política sofreu primeiramente uma brutal modificação a partir do Renascimento, para depois receber uma nova carga de visões e reflexões com o estabelecimento das democracias contemporâneas.
4. Gnosiologia (teoria do conhecimento)
A teoria do conhecimento ou gnosiologia, do gnosis (conhecimento), tenta compreender as circunstâncias que cercam a existência e o funcionamento do conhecimento humano, observando uma série de aspectos a ele relacionados:
- A possibilidade do conhecimento
- A origem do conhecimento
- O limite do conhecimento
- A essência do conhecimento
- As formas do conhecimento
- O valor do conhecimento
Sobretudo, muito se discute nesse campo a respeito da existência da verdade e da certeza. A verdade pauta-se no conhecido, e daí a dificuldade de impor certezas em relação ao desconhecido. Sob essa particularidade, a gnosiologia é um campo da filosofia que inclusive mobilizou, ao longo dos tempos, estudiosos da teologia e diversas religiões.
5. Filosofia da linguagem
A filosofia da linguagem é a contribuição ou mesmo o lado filosófico da comunicação. Mais do que os mecanismos que a permitem, e que culminaram na existência da linguagem, a filosofia nesse campo discute a linguagem como algo que emana do ser ou é condicionado pela sociedade, assim como analisa os porquê de nos comunicarmos do modo que fazemos.
6. Estética
A estética define-se como filosofia da arte e do belo, percorrendo as articulações entre a natureza, as criações artísticas e a beleza. Apesar de analisar o conceito de arte através da percepção humana, a filosofia se abstém do julgamento.
Ela se consolidou como perspectiva relevante das reflexões filosóficas, em especial a partir do século XIX, com alguns filósofos sublinhando a criatividade artística como elemento essencial na afirmação dos processos naturais, da vida e da própria humanidade.
Grandes nomes nesse campo surgiram ainda no início do século XX, com as novas vanguardas – estudiosos como Walter Benjamin, dispostos a discutir o próprio conceito do que é arte, de onde ele emana e como é reconhecido ou detectado.
7. Lógica
Desde a Antiguidade, a lógica teve como objetivo a análise do raciocínio. A evolução do homem está alicerçada em raciocínio. A lógica, pode-se dizer, é o olhar filosófico sobre o que seria desenvolvido na prática pela matemática ou pela geometria.
A lógica como ciência tem como finalidade permitir o estudo de uma afirmação denominada tese ou conclusão, a partir de hipóteses e premissas, que são os subsídios necessários para determinar se o que se quer concluir é verdadeiro ou falso. Pela lógica, os filósofos ganharam um instrumento para estabelecer ordem às suas próprias ideias e deduções – pela inferência dos resultados possíveis a partir de determinadas observações e considerações.
Sem dúvida, é impossível pensar na lógica como campo filosófico sem creditar a sua própria origem a Aristóteles. Dele partiram algumas leis que nortearam toda a lógica e o estudo da matemática, como a lei da “não contradição” (duas afirmações contraditórias não podem ser simultaneamente verdadeiras).
8. Espistemologia (filosofia da ciência)
O surgimento da ciência moderna, nos séculos XVI e XVII, situou o conhecimento científico como tema de interesse filosófico, ensejando a formação da filosofia da ciência ou epistemologia. Não por acaso, muitos dos nomes que marcaram a ciência ao longo da Idade Moderna aparecem em nossos livros tanto como filósofos quanto como físicos, matemáticos, sociólogos, etc.
Assim como a Idade Moderna marca a passagem de uma época da humanidade pautada pela fé e pelas crenças para uma época pautada pela ciência e pela tecnologia, a epistemiologia analisa a ciência sob essa mesma óptica: nem todas as “crenças” que são provadas como “verdade” constituem o conhecimento científico. Apenas aquelas justificadas fazem parte desse seleto grupo.
Muitos outros conceitos se confundem e permeiam a epistemiologia e são constantemente discutidos, mesmo em áreas não relacionadas diretamente à filosofia, tais como:
- Empirismo
- Construtivismo social
- Realismo científico
- Reducionismo
- Falseabilidade
- Coerentismo
9. Filosofia da história
A filosofia da história examina o trajeto histórico da humanidade sob o prisma das articulações entre o próprio ser e o tempo. É, grosso modo, uma forma de tentar compreender até que ponto a história humana oferece relações de causa e efeito, ou até que ponto os fatos são explicados por aquilo que os antecede.
Do mesmo modo, discute a influência do ser humano na história e se ela realmente existe – se os fatos sucessivos sofrem mesmo alterações por conta do homem como seu ator ou observador. A isso somam-se discussões acerca do conceito de tempo e da verdade em relação à narrativa histórica, entre outros temas.
10. Filosofia da mente
A filosofia da mente versa sobre questões como a natureza da mente, os fenômenos psicológicos e suas relações com o mundo. Em última instância, é uma discussão que visa definir o que compreende o próprio “eu”. Na prática, uma espécie de olhar “etéreo” sobre discussões igualmente abordadas pela psicologia:
- Mente e corpo são uma única realidade ou trata-se de substâncias distintas?
- Como se constituem os processos mentais?
- De que forma o desenvolvimento da inteligência artificial implica a rediscussão do conceito de mente?
Por: Carlos Artur Matos