Metafísica e teoria do conhecimento
Definindo a filosofia como a ciência do ser, Rosmini a subdivide em dois campos: a ideologia e a lógica que estudam o “ ser ideal” e a antologia e a metafísica que tratam do “ ser real”.
A principal preocupação de Rosmini não se refere ao “ conhecer”, mas ao estudo do ente inteligente como tal. Trata-se, portanto, de um problema de natureza metafísica, fundamento do problema do “ conhecer” e do “ ente” inteligente ou espiritual do qual decorrem o problema do conhecimento e todos os outros que se referem ao homem como ser real.
Dessa forma, o ser inteligente é a razão primeira do conhecer e o objeto da filosofia do qual decorre o conhecimento do “ ser pensado” que prescinde da experiência sensível.
Portanto, “o ser ideal […] é a intuição primeira do ser universal, anterior a qualquer determinação” Essa intuição não diz respeito a um ser particular, mas a um ente indeterminado.
O ser é o objeto da intuição e é conhecido por si mesmo. É a essência do ato intuitivo uma vez que, não há inteligência sem a intuição do ser e não há ideia do ser que não seja ideia ou essência da inteligência.
O ser antológico representa o potencial dado à sua possibilidade de ser determinado. O sujeito humano, em sua existência nada mais é que a realização da essência do ser, enquanto o “ ser ideal” excede e transcende todos os seus conteúdos e o seu objetivo não tem limites próprios, mas é limitado pela mente que o contempla.
Para Rosmini o ser é sempre “ objeto por essência”, daí porque o real, enquanto não se tornar conhecido não é objeto e o ser real só é conhecido pelo ser ideal.
O problema ideológico refere-se à natureza e à origem das ideias e o ato de conhecer é o juízo elaborado na análise em busca de resolver um problema, da qual resulta a noção do ser – elemento invariável – que é o predicado do juízo ( forma) e as determinações ou modos de ser – o elemento variável – que é o sujeito ( matéria) .
O predicado é a ideia geral, a ideia da coisa.
Rosmini admite que o elemento formal é inato, distanciado do empirismo e do idealismo.
Para ele, no conhecimento há um elemento a priori que não é subjetivo, mas objetivo, que tem além do significado antológico o significado e valor de função.
Rosmini refere que a percepção sensitiva conduz a diferença entre sujeito senciente e o objeto do sentido. A percepção sensitiva é uma sensação extra – subjetiva, que não se limita a um objeto, mas a um termo correlativo da modificação do sentimento fundamental.
O objeto não se limita ao órgão senciente, mas é algo oposto ao sujeito e distinto dele.
O sentido favorece a matéria e o entendimento, forma a priori, isto é, a ideia do ser indeterminado.
Da síntese do sentido e do entendimento resulta a percepção intelectiva ou juízo primitivo, o juízo pelo qual o espírito afirma como existe alguma coisa percebida pelos sentidos.
A percepção intelectiva resulta de três elementos 1) uma ideia universal ( o ser ) intuída pelo entendimento 2) o efeito do ente percebido em particular sobre o sentido ; 3) a visão da relação entre o ente o agente percebido ( passivamente) pelo sentido e a ideia universal .
A síntese primitiva prescinde a unidade da consciência e os princípios de substância e de causa.
A unidade de consciência favorece a faculdade integradora do entendimento referente às percepções fornecidas pelos sentidos que não podem passar ao entendimento sem o princípio da causa, pois, segundo Rosmini “ não se pode pensar uma nova entidade sem uma boa causa”
A antologia estuda o “ ser real” gerado na experiência com o ser ideal que é intuído por natureza, mas não possibilita a plena compreensão do ser tal como é em si mesmo. Este é o objeto da teologia natural, a ciência que trata de Deus como ser absoluto.
O ser que nós intuímos naturalmente é ilimitado visto ser a essência do ente , mas não do ente absoluto, por quanto a intuição não capta a essência do ente, a não ser por uma única de suas formas, a forma ideal.
Da forma ideal e real do ser deriva a forma moral que conhecemos quando associamos o real ao ideal. Para Rosmini,a ordem do ser real e a ordem do ser ideal são totalmente diferentes da ordem do ser moral. A moralidade não pertence nem ao mundo ideal nem ao mundo real mas está nas relações entre estes.
Autoria: Márcia Catunda
